Aço sob pressão: usinas elevam preços e mercado prevê novo reajuste até dezembro
Aço sob pressão: usinas elevam preços e mercado prevê novo reajuste até dezembro
Os preços do aço voltaram a subir no mercado brasileiro e a tendência é de novos reajustes antes do fim do ano. Após as usinas aplicarem aumentos de até 5 a 8% em outubro, o setor já fala em mais uma rodada de alta em novembro ou dezembro, diante de margens pressionadas e de um cenário internacional que mistura retração nas importações e incerteza sobre medidas antidumping contra a China.
Segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), o reajuste mais recente — de 7% a 8% nos laminados a quente e de 3% a 4% nos demais produtos — impulsionou as vendas e as compras antecipadas em setembro. Distribuidores e clientes correram para fechar pedidos antes da aplicação dos novos valores, o que inflou os volumes comercializados no mês. As vendas de aços planos somaram 361,7 mil toneladas, alta de 10,6% em relação a setembro de 2024 e de 7,2% frente a agosto. As compras, de 360 mil toneladas, cresceram 9,9% na comparação mensal.
“O mercado não está brilhante, mas há certo consumo. A demanda que se tem com ou sem aumento vai acontecer porque o consumo é inelástico. Não se deixa de produzir um carro porque subiu R$ 500 o preço da tonelada de aço”, afirmou o presidente-executivo do Inda, Carlos Jorge Loureiro, em entrevista coletiva.
Loureiro reconhece que as margens do setor estão apertadas e que os distribuidores “não têm mais espaço para absorver aumentos”. “Acredito que em novembro o novo aumento será repassado. Não repassar é cortar na carne”, disse o executivo.
O movimento de recomposição de preços ocorre em um contexto de desaceleração nas importações e de expectativa de medidas de defesa comercial. Em setembro, o volume importado de aços planos caiu 16,6% sobre um ano antes, para 241,4 mil toneladas, reduzindo a alta acumulada de 2025 para 25,9%. Segundo o Inda, a retração é explicada tanto pela fraqueza do mercado quanto pela incerteza em torno da aplicação de medidas antidumping contra produtos chineses.
De acordo com Loureiro, o governo brasileiro deve anunciar entre dezembro e fevereiro a adoção de tarifas antidumping sobre laminados a frio e revestidos provenientes da China. O risco de que contratos assinados agora sejam atingidos pela medida tem levado importadores a adiar novos embarques. “Qualquer fechamento hoje de contrato de importação está sujeito a sofrer dumping quando chegar. Por isso, os importadores estão se retraindo um pouco”, afirmou.
A retração nas importações já se faz sentir no Porto de São Francisco do Sul (SC), principal porta de entrada de aço estrangeiro. O volume de material aguardando liberação caiu para cerca de 500 mil toneladas, menos da metade do registrado em meses anteriores, quando o montante superava 1 milhão de toneladas.
Mesmo assim, o mercado segue abastecido. Os estoques dos distribuidores ficaram praticamente estáveis em setembro ante agosto, em torno de 1 milhão de toneladas, o equivalente a três meses de comercialização. Na comparação anual, o volume subiu 11,2%.
Para outubro, a expectativa do Inda é de estabilidade nas vendas, após o avanço atípico de setembro. O consumo, ainda que moderado, mantém-se firme, especialmente no setor automotivo e de construção. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas de aços planos pelos distribuidores subiram 1,1% sobre o mesmo período de 2024, totalizando quase 3 milhões de toneladas.
Loureiro avalia que, sem o antidumping, as importações tenderiam a se recuperar gradualmente, embora abaixo dos volumes do primeiro semestre, quando o crescimento chegou a 46,5%. Há, porém, produtos que o Brasil não consegue suprir apenas com a produção interna. “O galvalume, por exemplo, tem consumo de cerca de 80 mil toneladas por mês, enquanto a produção nacional é de 45 mil. Ele continuará sendo importado, independentemente de qualquer medida antidumping”, explicou.
Se confirmadas, as medidas contra o aço chinês deverão atingir também os laminados a quente, mas apenas a partir de meados de 2026. O Inda defende que o valor do direito antidumping não seja inferior a US$ 150 a US$ 200 por tonelada, patamar considerado necessário para coibir práticas de preços desleais.
Enquanto isso, o setor segue atento ao comportamento da demanda interna e aos reflexos das políticas de defesa comercial. O ambiente de preços mais altos tende a favorecer as usinas, mas o desafio para os distribuidores será repassar os aumentos sem comprometer o consumo.
“O aço continua sendo um termômetro da economia real”, resume Loureiro. “E, por enquanto, ele indica um mercado que tenta se equilibrar entre custos crescentes e um consumo que resiste, mesmo em ritmo lento.”
Fonte: Infomet
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/10/2025