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Veja como a falta de conta jurídica afeta a micro e pequena indústria

O grau de desbancarização de micro e pequenas empresas da indústria ainda é elevado. No caso das empresas de menor porte de país, 28% não possuíam conta de pessoa jurídica (PJ), taxa que sobe para 33% entre as microempresas, segundo levantamento do Datafolha para o Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi) feito em março.

De acordo com o Simpi, o resultado mostra desconexão entre a formalização legal e o acesso aos serviços bancários, já que essas empresas possuem CNPJ.

As contas de pessoa jurídica, na visão de Joseph Couri, presidente do Simpi, são essenciais para facilitar a vida dos empresários. “Estamos testemunhando uma parcela substancial de nossas indústrias operando à margem do sistema financeiro formal, o que não apenas impacta a eficiência operacional, mas também pode resultar em consequências legais indesejadas.”

Segundo ele, a desbancarização é “apenas um dos sintomas de diversos obstáculos que as micro e pequena indústrias enfrentam, incluindo entraves jurídicos”.

A pesquisa destaca que 87% dessas empresas sem conta PJ declaram utilizar contas pessoais em nome de pessoas físicas para movimentar recursos da empresa, e a maioria delas (69%) fatura até R$ 15 mil por mês, indicando cenário de micro e pequenos empreendimentos com receitas modestas dentro do perfil desbancarizado.

O acesso ao crédito também é limitado. Um a cada quatro (25%) das empresas bancarizadas não possui contas que ofereçam acesso a linhas de crédito para capital de giro.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 30/04/2024

 

Como as diferentes indústrias receberam a imposição de cotas para importação de aço

A decisão do Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) de estabelecer cota para as importações de nove tipos de produtos de aço e alíquota de 25% sobre os volumes que excederem o autorizado foi bem recebida pela indústria siderúrgica brasileira e por setores consumidores de aço. Em linhas gerais, e dos dois lados da balança, a leitura inicial é que as novas regras, anunciadas na semana passada, são equilibradas.

Para o Instituto Aço Brasil, a decisão demonstra o olhar atento do governo para a indústria siderúrgica brasileira, segundo o presidente executivo Marco Polo de Mello Lopes. “É uma decisão histórica e importante, porque sinaliza aos exportadores que o mercado brasileiro não é terra de ninguém, que há um governo atento ao que está acontecendo, com um olho no sentido de proteger sua indústria”, disse.

Em seu pedido de elevação do imposto de importação, de 10,8% a 12,6% para 25%, o Aço Brasil levou ao Mdic uma lista com 18 NCMs com a ocorrência de importações crescentes a preços predatórios. O modelo de cota-tarifa, lembrou Marco Polo, já é usado em outras regiões, como a União Europeia, e sua efetividade vai depender, agora, de como será operacionalizado.

“O detalhe da sistemática ainda não é conhecido e há nuances que precisamos entender melhor”, afirmou. “Mas o governo tem consciência dos prejuízos e agora é uma questão de operacionalizar”.

Para o presidente da ArcelorMittal Brasil e presidente do conselho do Instituto Aço Brasil, Jefferson De Paula, a decisão representa um avanço importante e indica que o governo brasileiro entendeu que o aço importado em condições desleais está provocando danos no mercado doméstico.

A expectativa é que as medidas, válidas por um ano, entrem em vigor em um mês. Ficou acertado, entre governo e usinas instaladas no país, que haverá monitoramento contínuo da medida, para confirmar se a iniciativa teve eficácia. Se não houver resultados, ela poderá ser revista.

Conforme De Paula, um dos principais riscos é que os exportadores tentem driblar a lista de NCMs sob a novas regras, embarcando para o mercado brasileiro produtos similares que estão registrados em outra NCM — sigla para Nomenclatura Comum do Mercosul, usada para identificar a mercadoria que está sendo comercializada —, que não está sujeita à cota.

“Levamos ao governo 26 NCMs que podem ser usadas como NCMs de fuga”, contou. Um possível desvio, exemplificou, seria o exportador de fio-máquina (que deve atender à novas regras) passar a embarcar para o Brasil vergalhões, que não foram contemplados na medida. “Isso vai ser monitorado pelo governo e pelo Aço Brasil”, acrescentou.

Conforme De Paula, a medida busca proteger o mercado doméstico da inundação de aço importado subsidiado, um reflexo da sobrecapacidade global de 500 milhões de toneladas neste momento, acompanhando o que outros países, entre os quais Estados Unidos, México e Chile, além da União Europeia, já fizeram. “Não é uma medida contra a China. É contra todo aço que chega em condições desleais de concorrência”, disse.

Maior produtora global de aço, a China responde por cerca de 60% a 70% dos produtos siderúrgicos que entram no país. Mas há importações também de outros países, como Rússia, Egito e Peru. Operando com taxa de ociosidade de 40%, a indústria siderúrgica instalada no país negociou durante meses a adoção de alguma medida de proteção. Em 2023, as importações de aço saltaram 50%, com manutenção da trajetória de crescimento neste ano. No primeiro trimestre, a expansão foi de 25%.

Um dos setores mais vocais no debate ao longo dos últimos meses, e contrário a elevação da alíquota de importação de produtos siderúrgicos para 25%, a indústria de máquinas e equipamentos avalia que o governo buscou equilíbrio na análise da “complexa” situação do setor siderúrgico.

“Reconhecemos a complexidade que envolvia a decisão da Camex/Gecex, em um cenário que envolvia uma pluralidade de setores e situações. O Gecex buscou o equilíbrio e a tecnicidade indispensáveis para que essa decisão fosse a melhor possível para o país e para a competitividade da indústria”, informou a Abimaq, em nota.

A associação disse ainda que entende o momento das siderúrgicas, mas vai monitorar os desdobramentos da aplicação do sistema de cotas e tarifa de 25%. “Foi afirmado durante o debate que não haveria aumentos de preços. Acompanharemos de perto a aplicação das regras e sua repercussão no mercado e nos preços”, apontou.

Para a Associação Brasileira de Embalagens de Aço (Abeaço), a decisão do governo de não elevar as alíquotas de importação de folhas metálicas de aço, usadas em embalagens de alimentos e produtos para a construção civil, é positiva. Segundo a entidade, que representa o setor de latas de aço, a majoração das importações desse tipo de produto teria impactos sobre os preços de alimentos, incluindo itens da cesta básica, como leite em pó.

Conforme a Abeaço, folhas metálicas correspondem a menos de 1% de todo o aço produzido no Brasil e podem, em alguns casos, representar até 25% dos custos de alimentos, citando análise da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).

Em nota, a presidente da entidade, Thais Fagury, disse que a Abeaço levou ao Mdic seus argumentos, além dos dados que mostram que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) seria “a única beneficiada com a elevação da tarifa de importação sobre as folhas metálicas de aço”. “O pleito para os NCMs das folhas de aço para embalagens era exclusivamente da CSN”, aponta a Abeaço.

“A separação do aço destinado para embalagens do conjunto de importações preserva preços e impede impactos na cesta básica de alimentos e em programas como Minha Casa Minha Vida”, afirmou a executiva.

O setor da construção não vê impactos diretos nas cotas para importação de aço, já que os vergalhões, a forma mais usada nas obras, não entraram na medida. Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), afirma que podem haver impactos indiretos, sobre preço de equipamentos, por exemplo, e que qualquer possibilidade de aumento nos custos traz preocupação.

No entanto, ele classifica a medida como “salomônica” (equilibrada), porque a tarifa maior às importações não vai ser posta em prática automaticamente. “Se a média da importação não ultrapassar 30%, as alíquotas são as de hoje, vale a pena testar”, diz.

Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP, sindicato dos construtores paulistas, não vê chance dos vergalhões serem incluídos posteriormente nas novas regras. Os dois representantes das entidades reforçam, ainda, que a construção não é um setor que costuma utilizar muito aço importado, e que, quando isso ocorre, a origem mais comum é a Turquia, e não a China, país que motivou a aplicação das cotas. “O aço produzido na China não é compatível com as normas brasileiras”, explica Correia.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/04/2024

 

Importações de aço registram alta de 29,3% em março, diz Inda

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), as compras do mês de março registraram queda de 5,0% perante a fevereiro, com volume total de 304,9 mil toneladas contra 321 mil. Frente a março do ano passado (360,7 mil toneladas), apresentou queda de 15,5%.

Vendas — As vendas de aços planos em março contabilizaram alta de 0,8% quando comparada a fevereiro, atingindo o montante de 309,8 mil toneladas contra 307,3 mil. Sobre o mesmo mês do ano passado, quando foram vendidas 370,3 mil toneladas, registrou queda de 16,3%.

Estoques — Em número absoluto, o estoque de março obteve queda de 0,5% em relação ao mês anterior, atingindo o montante de 903 mil toneladas contra 907,9 mil. O giro de estoque fechou em 2,9 meses.

Importações (Chapas Grossas, Laminados a Quente, Laminados a Frio, Chapas Zincadas a Quente, Chapas Eletro-Galvanizadas, Chapas Pré-Pintadas e Galvalume) — As importações encerraram o mês de março com alta de 29,3% em relação ao mês anterior, com volume total de 249,1 mil toneladas contra 192,7 mil. Comparando-se ao mesmo mês do ano anterior (167,1 mil toneladas), as importações registraram alta de 49,1%.

Projeções — Para abril de 2024, a expectativa da rede associada é de que as compras e vendas tenham uma alta de 7% em relação a março— prevê o presidente executivo do Instituto, Carlos Jorge Loureiro, que fez a apresentação dos números de fechamento do mês de março de 2024 e o que espera de abril deste ano.

Fonte: Portal Fator
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/04/2024

Agrishow 2024 abre com a expectativa de movimentar R$ 13 bilhões em negócios

Aberta oficialmente no dia 28 de abril, a 29º edição da Agrishow, a principal feira de tecnologia agrícola da América Latina, se estende até 3 de maio, em Ribeirão Preto (SP), e deve receber cerca de 195 mil visitantes de mais de 50 países e conta com marcas líderes brasileiras em diversos segmentos e companhias com matriz em diferentes países, como Itália, Espanha, Alemanha, Colômbia, Holanda, China e Hong Kong.

Em 2023, a Agrishow registrou R$ 13,290 bilhões em negócios iniciados entre expositores e visitantes, representando um aumento de 18% em relação à edição anterior. Para 2024, a expectativa é que esse número seja semelhante. Para isso, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirma que é imprescindível um expressivo volume de recursos e taxas de juros compatíveis com o futuro da atividade no campo.

De acordo com o presidente da Agrishow, João Marchesan, destacou a importância do evento para fomentar o setor de máquinas e implementos para a agricultura. Segundo ele, são pouco mais de 1.800 fabricantes, dos mais variados tipos de bens que abastecem, além do mercado nacional, mais de 50 países com bens de alta qualidade e sofisticação tecnológica. O setor espera, sobretudo, auxiliar no cumprimento da meta de elevar de 18% para 75% a mecanização da agricultura familiar.

“À medida que o Brasil investir na modernização de suas máquinas, no aprimoramento de irrigação e na expansão da capacidade de armazenagem, estaremos fortalecendo os pilares essenciais para impulsionar nossa economia e promover o crescimento do PIB. O Brasil já é uma potência agrícola e pode se tornar ainda maior. Há mercados e temos terra, clima, tecnologia, agricultores e máquinas”, disse Marchesan.

CATERPILLAR – Entre as muitas empresas que participam da Agrishow 2024 está a Caterpillar, que comemora 70 anos no Brasil. No evento, a  empresa lança a nova geração de carregadeiras de rodas pequenas, com os modelos Cat 924 e 938. Além da mudança de nomenclatura (remoção da letra K), os novos modelos oferecem um conjunto de novas tecnologias e funcionalidades destinadas a aumentar a produtividade, simplificar a operação e reduzir custos operacionais. O interior da cabine foi alterado para proporcionar mais conforto e melhorar a visibilidade. Novas funções de auxílio ao operador foram projetadas para proporcionar mais desempenho e eficiência na realização das mais diversas atividades.

Outra novidade, exclusiva nessa categoria, é a opção de direção por joystick, que oferece maior ergonomia, conforto e facilidade de operação principalmente em longas jornadas de trabalho. A nova geração de carregadeiras mantém a robustez do seu sistema de transmissão hidrostático e do motor Cat C7.1 Acert e continua a oferecer arranjos especiais para diversos segmentos, como para movimentação da biomassa do bagaço de cana (Arranjo Sugarcane), que também está em exposição na feira.

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SERVIÇO:

Agrishow 2024 – 29ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação

Data: 29 de abril a 3 de maio

Local: Rodovia Antônio Duarte Nogueira, km 321, Ribeirão Preto (SP)

Horário: das 8h às 18h

www.agrishow.com.br

Fonte: IPESI
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 30/04/2024

 

Taxação do aço não afeta a construção civil, diz entidade

O presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Renato Correia, declarou nesta 2ª feira (29.abr.2024) que a decisão do governo federal de aumentar a taxa de importação de produtos de aço não afetará o setor da construção civil.

Na 3ª feira (22.abr), o Gecex-Camex (Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior) aprovou a elevação da alíquota para compra de 11 itens feitos de aço para 25%.

Antes, as tarifas variavam de 9% a 12,6%. O aumento era debatido havia meses e siderúrgicas e companhias que compram os produtos protagonizaram um embate contra ou a favor da taxação de importados.

O governo costurou um aumento na tarifa apenas para os itens que excederem em 30% a média de importações de 2020 a 2022.

A estratégia agradou as siderúrgicas que entenderam que tiveram seu pleito atendido para frear as importações asiáticas e as consumidoras dos produtos, que viram a margem confortável para evitar o aumento dos custos.

“Entendemos que o governo fez um ajuste para evitar o excesso de importação, mas que se mantivermos os patamares atuais o impacto será muito pequeno no setor de construção”, disse Correia.

Fonte: Poder 360
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 30/04/2024

 

Entenda como aço chinês mergulhou indústria siderúrgica da América Latina em enorme crise

 

A indústria siderúrgica latino-americana começou o século 21 com a esperança de se tornar o motor do crescimento econômico da região, mas, longe de conseguir isso, sofreu uma longa estagnação que hoje se tornou uma crise.

Representantes do setor culpam as importações de aço da China, que têm preço mais competitivo. Pequim já classificou de "protecionismo" questionamentos judiciais sobre o preço do seu aço.

Um dos objetivos que países como o Brasil, o México, a Argentina, o Chile, a Colômbia, o Equador e o Peru estabeleceram para si em 2000 foi desenvolver o seu setor industrial, para deixar de basear as suas economias na exportação de matérias-primas.

A principal razão é que, por não ter valor acrescentado, o comércio de mercadorias produz empregos menos qualificados e com salários mais baixos do que a indústria de transformação.

A chave para acelerar a industrialização foi a produção de aço, porque essa liga de ferro e carbono é utilizada para fabricar quase tudo, desde edifícios e pontes a veículos, desde eletrodomésticos a produtos eletrônicos e tecnológicos.

No início do século, a região fabricava 6,6% do aço mundial, segundo a Associação Mundial do Aço (WSA, por suas siglas em inglês), e exportava mais de 160 mil toneladas do material para a China (o dobro do que importavam daquele país).

Mas o setor siderúrgico nunca decolou.

Pelo contrário, neste quase um quarto de século, o aço latino-americano foi perdendo relevância.

A produção estagnou: enquanto em 2000 a região produziu 56 milhões de toneladas de aço — número que aumentou para 67,6 milhões em 2011 —, a partir daí o movimento foi de queda: no ano passado a produção foi de 58,3 milhões.

Enquanto isso, o peso do aço latino-americano dentro da produção mundial diminuía sistematicamente. Em 2023, atingiu o seu ponto mais baixo, representando apenas 3,1% do estoque mundial, menos de metade do que representava no início do século.

Segundo especialistas do setor, a crise está se agravando, colocando em risco os quase 1,4 milhão de empregos gerados pela indústria.

'Inundação' de aço

A Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), com sede em São Paulo, acusou Pequim de "inundar" a região com o seu aço barato.

A entidade informou que diversas siderúrgicas tiveram que paralisar suas operações nos últimos meses.

A mais recente foi Huachipato, principal produtora de aço do Chile, que anunciou em 20 de março o fechamento por tempo indeterminado de sua planta.

O diretor executivo da Alacero, Alejandro Wagner, disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que embora existam fatores endógenos que dificultaram o desenvolvimento da indústria, o grande problema foi gerado pelo gigante asiático.

“Entre 2000 e 2023, a China aumentou a sua produção de aço em quase 700%.”

“Passou da produção de 15% do aço mundial para a produção de 54%”, disse ele, citando números da Associação Mundial do Aço.

 

O executivo da Alacero diz que Pequim exporta a um preço abaixo do mercado, impossibilitando a concorrência de outros produtores.

'Dumping'

Poucas regiões sofrem mais com o problema de preço de venda abaixo do valor de custo (conhecido como "dumping" no mundo comercial) do que a América Latina.

Para compreender a dimensão, basta ver como a dinâmica entre a região e o maior país da Ásia mudou no último quarto de século.

Como dissemos, em 2000, a América Latina exportou cerca de 160 mil toneladas de aço para a China e, por sua vez, importou metade disso: cerca de 80 mil toneladas de aço chinês.

Mas nas décadas seguintes a situação inverteu dramaticamente.

Enquanto as exportações para a China caíram 94% até 2023, as importações chinesas de aço aumentaram 8.690%.

Enquanto isso, a venda de matérias-primas latino-americanas à China aumentou quase 1.500%, acrescenta Warner, que alerta para um processo de “reprimarização”.

Hoje chegam à região cerca de 10 milhões de toneladas de aço chinês, provocando “um processo de desindustrialização na região” e levando o setor a uma crise, afirma o dirigente siderúrgico.

A vítima mais recente é a Huachipato Steel Company, do Chile, localizada em Talcahuano, na região de Bío Bío.

A empresa, que no primeiro semestre de 2023 registrou prejuízos de US$ 279 milhões, tomou a decisão de paralisar as suas operações por tempo indeterminado depois de considerar “insuficiente” a decisão das autoridades do país de impor uma taxa de 15,3% às importações chinesas de esferas de aço.

Segundo os diretores da Huachipato, empresa que gera cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos, esta medida não é suficiente para resolver as distorções que está produzindo o aço chinês, que, segundo seus cálculos, é 40% mais barato que o aço chileno.

A Companhia Siderúrgica Gerdau do Brasil também anunciou há algumas semanas que iria suspender alguns dos seus trabalhadores na fábrica de São José dos Campos, em São Paulo, por cinco meses, a partir de abril, alegando "forte concorrência da China".

Segundo a Alacero, isso se soma a outras suspensões temporárias que outras empresas brasileiras anunciaram nos últimos seis meses, quando “o nível de importações começou a ser grave”.

“O objetivo das suspensões é evitar o fechamento definitivo, tentar salvar empregos. Queremos evitar que isso aconteça também em países como Argentina e Colômbia”, disse Wagner.

Aço barato

Mas como é possível que trazer aço da China para a América Latina, do outro lado do planeta, seja mais rentável do que produzi-lo localmente?

Ou dito de outra forma: porque é que o aço chinês é tão mais barato que o aço latino-americano?

A principal razão é que o aço chinês é subsidiado pelo Estado e também produzido em excesso.

Segundo Cory Combs, especialista em Energia e Indústria Chinesa e diretor associado do centro de pesquisas Trivium China, Pequim colocou a produção de aço como um elemento central do crescimento econômico do país, depois de passar de uma economia agrária para uma economia industrial.

Foram criadas mais de 2.000 fábricas (embora hoje a maior parte da produção esteja concentrada em sete empresas, lideradas pela Baosteel, uma subsidiária da estatal Baowu). A indústria siderúrgica criou mais de 3 milhões de empregos.

O aço subsidiado foi usado para construir megacidades para pessoas que se deslocavam do campo para os centros urbanos.

“O setor industrial se tornou uma peça-chave da economia e hoje representa cerca de 32% do Produto Interno Bruto da China”, explicou o especialista à BBC News Mundo.

Motorizadas e financiadas pelo Estado, as produções das siderúrgicas chinesas passaram de 128,5 milhões de toneladas em 2000 para pouco mais de 1 bilhão de toneladas em 2023, segundo a entidade mundial do aço.

Mas o setor se tornou um motor tão importante para a economia chinesa que, mesmo quando a procura interna começou a abrandar, as fábricas continuaram produzindo aço subsidiado.

“As famosas cidades fantasmas e os projectos de construção desenfreados são visíveis”, diz Combs, sobre os enormes conjuntos habitacionais vazios em várias partes do país.

“Foi todo um exercício para impulsionar o PIB”, diz.

Exportações subsidiadas

O governo chinês não só subsidiou a produção, como também subsidiou a exportação de aço, o que deu início à "onda" de aço chinês barato que se espalhou pelo mundo.

Uma onda que se acentuou nos últimos tempos devido à redução da procura interna por aço gerada pela crise no setor imobiliário chinês, afirma Combs.

Segundo Wagner, embora Pequim alegue já não subsidiar as exportações de aço, "eles têm tanta escala e tantos excedentes que todo o seu excesso de aço é vendido a um custo quase marginal".

Mas por que a China continua produzindo mais aço do que necessita ou pode vender a um bom preço? E por que mantêm subsídios para um produto que fabricam em excesso?

Combs destaca que a principal explicação é que o país “não quer perder PIB”.

“Há momentos em que o governo chinês toma medidas muito agressivas para entrar em determinados mercados, mas este não é o caso do aço na América Latina”, diz Combs.

O problema, diz ele, é interno e “gera muita frustração” na China.

“Embora muitas siderúrgicas chinesas operem com margens muito baixas (em 2023 reportaram lucros de 1,33%) e 15 dos principais produtores tenham mesmo pedido ao governo para impor cortes de produção, nenhum deles sente que pode dar o primeiro passo individualmente”, explica o especialista.

"E os governos locais, dos quais estas empresas dependem, também não querem ser os primeiros a impor cortes. Querem ficar com a sua fatia do bolo."

Entretanto, o governo central, que tem o poder de decidir, “tem sido lento para reagir porque é muito dependente da produção industrial”, afirma.

“O governo de Xi Jinping pretende reduzir a sua dependência do setor e está ativamente tentando desenvolver a sua indústria tecnológica, veículos eletrônicos e fontes de energia limpa, mas o problema é que o processo de transição é muito lento”.

Por que isso afeta tanto a América Latina?

As 10 milhões de toneladas de aço chinês que a América Latina importou em 2023 representam uma quantidade alta para uma região que produziu quase 58 milhões de toneladas (é um pouco mais de 17%, para ser mais exato).

No entanto, a América Latina foi apenas um dos destinos para onde foram parar as mais de 90 milhões de toneladas de aço que a China exportou no ano passado.

Por que então parece ser a região mais afetada pela entrada desse aço barato?

A explicação, concordam os especialistas, é que os países latino-americanos estão em condições inferiores quando se trata de se defenderem contra o “dumping” chinês.

Outras nações produtoras de aço, como a Índia, os Estados Unidos e os países da União Europeia, impuseram tarifas (as duas últimas, próximas de 25%) para combater os baixos preços do produto chinês.

Mas, na América Latina, apenas o México tomou uma medida da mesma magnitude.

É o único país da região, salienta Wagner, onde a indústria transformadora não diminuiu, em grande parte graças à sua proximidade com os Estados Unidos.

Por outro lado, os países sul-americanos dependem muito mais da China para o resto do seu comércio, uma realidade que “limita a sua capacidade de impor tarifas”, uma vez que Pequim poderia retaliar e fazer o mesmo com alguns dos produtos que importa da América Latina.

Esta seria a principal razão pela qual o Brasil, principal produtor de aço da região —que, aliás, vende à China o minério de ferro de que necessita como matéria-prima para criar o aço —, impõe taxas de apenas 10-12%, e o Chile propõe uma tarifa próxima de 15%, o que continua deixando o preço do aço chinês abaixo do local.

Outro receio dos países latino-americanos é de que organizações como a Organização Mundial do Comércio (OMC) lhes imponham multas por tarifarem as importações chinesas.

E, longe de equilibrar este desequilíbrio comercial, a OMC decidiu muitas vezes a favor da China em muitas das dezenas de queixas de "dumping" que recebeu contra o gigante asiático, que aderiu à organização em 2001.

Combs explica que não se trata de favoritismo, mas sim de uma questão bastante técnica (que está sendo analisada como resolver): a China ainda é considerada uma “economia emergente”, portanto não lhe são impostas as mesmas restrições que a uma “economia de mercado", e isso inclui medidas contra dumping.

A reação de Pequim

O governo chinês, famoso por seu sigilo, não fez declarações oficiais sobre os planos dos países latino-americanos de tarifar o seu aço, afirma o especialista.

No entanto, após o anúncio do México de impor uma taxa de 25%, em agosto de 2023, um dos meios de comunicação que opera sob a órbita do poderoso Ministério do Comércio Chinês (Mofcom), o China Trade Remedies Information, alertou que "as empresas chinesas que utilizam o México, como mercado de exportação e destino de transferência de investimentos, serão duramente afetadas.”

Entretanto, num outro artigo publicado em março passado no site da Seção Econômica e Comercial da Embaixa da República do Chile, o Mofcom criticou a chamada Comissão Chilena Anti-Distorção, que determina a questão das tarifas sobre as importações.

“A maioria dos membros do comitê determina artificialmente a margem de dumping sem baseá-la em fatos objetivos, politizando o que deveria ser um processo técnico”, criticava a nota.

O texto também alertou que “isso violou gravemente o Acordo de Livre Comércio assinado pelo Chile e não pode fazer com que outros parceiros comerciais respeitem o mesmo tratado”.

Aço verde

Enquanto os governos latino-americanos analisam os prós e os contras da imposição de tarifas — medida fortemente exigida pela Alacero — a resolução desse conflito comercial pode ser determinada por um fator externo, mas que se torna cada vez mais relevante: o meio ambiente.

Em 2020, Xi anunciou durante a Assembleia Geral das Nações Unidas que a China — o país mais poluente do mundo — terá como objetivo atingir o pico das emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e procurar a neutralidade de CO2 até 2060.

Segundo Combs, para atingir esse objetivo, Pequim planeja cortar cerca de 8% da sua produção de aço até 2030.

“O aço chinês é produzido a partir do carvão e essa indústria é a mais poluente do país, contribuindo com 15% das emissões de carbono”, destaca.

A China também pretende produzir 20% do seu aço utilizando eletricidade renovável até 2030.

Wagner também acredita que o meio ambiente será um fator-chave para acabar com o desequilíbrio causado pela siderurgia chinesa, mas por um motivo diferente.

“A grande vantagem do aço latino-americano é que ele é muito mais limpo que o aço chinês”, ressalta.

A produção de cada tonelada de aço chinês emite 45% mais de CO2, segundo dados da Alacero.

Mas a isso devemos somar a poluição gerada no transporte para o outro lado do planeta, que, segundo a organização, é três vezes maior do que a emitida na fabricação.

À medida que o mundo avança em direção à neutralidade carbônica, essa vantagem será sentida, diz Wagner.

O dirigente também está convencido de que a transição para um mundo mais limpo poderá permitir que a indústria siderúrgica latino-americana finalmente decole, revertendo o atual processo de “reprimarização” da economia.

"Eu sou otimista. O aço está intimamente ligado à energia: tudo o que é energia renovável também precisa de aço. Portanto, há uma grande oportunidade para que o aço, e principalmente a energia limpa, seja foco de produção e exportação na América Latina”, declara.

Atualmente a indústria opera com 60% de sua capacidade instalada, o que deixa um potencial de crescimento de 40%, diz entusiasmado.

“Isso poderia deter o processo de desindustrialização que sofremos nos últimos 20 anos, que nos deixou sem empregos de qualidade, gerando pobreza e desigualdade como em poucos lugares do mundo”.

Fonte: G1
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 29/04/2024