Brasil e EUA fazem primeira reunião 'pós-tarifaço'
Brasil e EUA fazem primeira reunião 'pós-tarifaço'
A primeira negociação entre o Brasil e os EUA depois do tarifaço de Donald Trump ocorreu ontem. Os americanos dizem que estão negociando acordos com mais de 70 países.
Conforme a coluna apurou, os negociadores brasileiros e americanos discutiram essencialmente dois temas: primeiro, novos esclarecimentos sobre o pacote das ditas ‘tarifas recíprocas’, pela qual o Brasil sofre taxação adicional de 10% sobre todas suas exportações.
E segundo, o acesso para o aço brasileiro no mercado dos EUA. O governo brasileiro continua tentando negociar o restabelecimento pelo menos das cotas que foram impostas ainda no primeiro governo Trump, como a de 3,5 milhões de toneladas para o aço semiacabado, que é matéria-prima para a siderurgia americana.
Negociadores discutiram ideias sobre como avançar nos dois temas. Brasília e Washington vão marcar nova reunião.
Como já publicamos nesta coluna, o governo Trump mostra-se obcecado com a tarifa de importação de etanol do Brasil, de 18% comparado à alíquota de 2,5% nos EUA. Não será surpresa se, no final das contas, se barganha houver, etanol e aço acabem misturados num pacote, para satisfazer Brasília e Washington.
Enquanto o governo Trump corre para avançar em negociações bilaterais, sob pressão agora cada vez maior de parte de seu setor privado, as contas sobre a fatura do desastre provocado por Trump parecem continuar aumentando.
Trump reduziu algumas das tarifas exibidas em seu grande pedaço de papelão na semana passada no jardim da Casa Branca. A menos que ocorra outra mudança de política, a União Europeia agora enfrentará uma tarifa de 10% nos próximos três meses, em vez de 20%. Mas a tarifa sobre a China, o terceiro maior parceiro comercial dos EUA depois do Canadá e do México, passou de 34% para mais de 130%. E ainda tem altas tarifas sobre o aço e o alumínio.
Paul Krugman, prêmio Nobel da economia, acha que na verdade os observadores que afirmam que as tarifas diminuíram estão perdendo a maior parte da história.
Ele nota que economistas que realmente analisaram os números, como os do Yale Budget Lab, estimam que o regime tarifário de 9 de abril aumentará os preços ao consumidor ainda mais do que o pacote de 2 de abril. É que Trump nivelou as tarifas adicionais sobre todos os países em 10%, mas aumentou extraordinariamente a alíquota sobre as importações procedentes da China.
Com isso, a estimativa é de que a versão mais recente da guerra comercial de Trump aumentará os preços ao consumidor em 2,9% nos EUA. Isso é cerca de dez vezes o impacto provável da infame tarifa Smoot-Hawley de 1930, que fez uma recessão passar a depressão e causar mais estragos na economia mundial, pavimentando o terreno para mais nacionalismo e guerra.
Krugman indaga o que os EUA deveriam estar negociando. Afinal, os outros países não podem prometer reduzir suas barreiras comerciais quando, em muitos casos, não há nenhuma barreira. Lembra que Peter Navarro, o assessor de comércio de Trump e chamado por Elon Musk de idiota, tem afirmado que os impostos sobre valor agregado são tarifas de fato, "mas não são, e as nações da União Europeia literalmente não podem se dar ao luxo de abrir mão deles".
Para Krugman, outros países "podem fazer concessões falsas que Trump pode reivindicar como vitórias falsas". Lembra que foi isso que ele fez com a China durante seu primeiro mandato, alegando que Pequim tinha feito concessões significativas - alegações que, no final, eram falsas. "De fato, os produtores de soja americanos nunca recuperaram totalmente a perda de participação no mercado. E lembre-se também de como Trump fez pequenas alterações no NAFTA (acordo dos EUA com México e Canadá) e alegou ter negociado um pacto comercial totalmente novo."
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 14/04/2025