Depois das importações, custos elevam pressão sobre a siderurgia brasileira

Depois das importações, custos elevam pressão sobre a siderurgia brasileira

A temporada de balanços do segundo trimestre vai demonstrando que, além das importações de aço, que seguiram entrando no país em volume elevado entre junho e julho, a desvalorização cambial trouxe uma nova preocupação às siderúrgicas instaladas no país. Produtores mais expostos às matérias-primas dolarizadas, como minério de ferro, coque, petróleo e placas, sofreram um baque na conta de custos no intervalo. Soma-se a isso a fraqueza do mercado global, motivo de alerta também de grandes nomes da siderurgia global, como ArcelorMittal e Nippon Steel.

Há uma semana, a Usiminas divulgou seus resultados e condensou bem o complexo ambiente de negócios para o setor, no Brasil e no mundo. De acordo com o presidente da companhia, Marcelo Chara, o cenário para a indústria siderúrgica segue desafiador, com a entrada de aço importado em volumes muito superiores à média histórica e pressão da desvalorização do real frente ao dólar na linha de custos. Os números do segundo trimestre, que vieram piores do que o esperado, e a indicação de que esse ambiente pode ser manter no trimestre em curso levaram à queda acentuada das ações na B3, que fecharam o dia com baixa de 23%.

Conforme Chara é preciso “estar cada vez mais preparado” para lidar com esse cenário. “A pressão nos custos das matérias-primas que estão expostas ao dólar, como carvão, coque e minério, tem impacto transitório, e isso afetou sobretudo a unidade de Cubatão”, afirmou, referindo-se ao aumento do custo do produto vendido (CPV) no trimestre.

Revisão de preços

A forte pressão dos custos das matérias-primas, seguiu o executivo, está levando à necessidade de revisão dos preços praticados pela siderúrgica. Do lado dos preços internacionais, a maior oferta de aço chinês segue exercendo pressão globalmente. “Todos os mercado estão se defendendo ante práticas de comércio desleal”, disse, acrescentando que a adoção de cotas de importação pelo Brasil, a partir de junho, ainda não surtiu efeito.

Na semana passada, a Nippon Steel disse que a procura global por aço continua em “situação difícil sem precedentes”, e fatores como a crise econômica na China e a piora do sentimento empresarial na Europa e nos Estados Unidos dificultaram a previsão de uma recuperação na demanda real neste momento. O mercado provavelmente levará tempo para se recuperar, indicou.

A companhia destacou ainda que, embora os preços tenham sido prejudicados devido, em parte, às exportações de aço da China, os custos das matérias-primas permaneceram altos devido ao nível elevado contínuo de produção na Índia e em outros lugares.

Sentimento econômico de cautela

A ArcelorMittal, por sua vez, mostrou queda acentuada nos lucros do segundo trimestre, após a redução dos preços do aço e menores embarques. Em maio, segundo a agência Dow Jones, a siderúrgica já havia informado que seus clientes estavam adotando uma “abordagem de espera” devido ao sentimento econômico de cautela.

Conforme a Arcelor, os preços médios de venda do aço caíram 7,5% nos primeiros seis meses do ano, enquanto os embarques no segundo trimestre recuaram 2% em relação ao ano anterior, para 13,9 milhões de toneladas métricas. Para a empresa, “as condições atuais do mercado são insustentáveis”, mas pode haver retomada de demanda no segundo semestre.

O problema, segundo a companhia, foi a produção excessiva de aço da China, que levou a menores margens, ao mesmo tempo em que os preços na Europa e nos Estados Unidos caíram a níveis abaixo do custo de produção.

Redução de custos

Para fazer frente a esse cenário, a brasileira Gerdau adotou uma abordagem agressiva de redução de custos. Assim como a Usiminas, a companhia não sentiu ainda os efeitos positivos esperados com a adoção de cotas de importação de aço pelo Brasil, mas acredita que os próximos meses serão promissores. “Já estávamos preparados para que o segundo trimestre fosse o pior do ano”, disse o presidente Gustavo Werneck. A companhia reviu sua base de ativos no Brasil e suspendeu as operações em três unidades, menos competitivas em termos de custos, para se adequar às condições mais ácidas do mercado.

Com as medidas recentes para redução de custos e readequação de ativos industriais, a Gerdau projeta que sua base de custos em 2025 será aproximdamente R$ 1,5 bilhão menor do que a realizada em 2023, segundo o vice-presidente de finanças da companhia, Rafael Japur. "Com essas iniciativas, esperamos capturar aproximadamente R$ 1 bilhão de forma anualizada em economias", afirmou.

Nos seis primeiros meses do ano, os ganhos ficaram em R$ 150 milhões, com readequação de capacidade de produção e melhorias de eficiência. Para o segundo semestre, a expectativa é de ganhos adicionais de R$ 400 milhões com a maior alavancagem operacional das usinas instaaldas no país, redução de custos e menor consumo de materiais específicos."Em 2025, teremos a anualização desses ganhos", acrescentou.

Outros R$ 500 milhões devem vir de economias em outras operações, na esteira de melhorias de produtividade e ganhos com investimentos já executados.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 05/08/2024