Editorial: Aço chinês ainda deixa usinas brasileiras em apuros
Editorial: Aço chinês ainda deixa usinas brasileiras em apuros
A entrada massiva de aço chinês no mercado brasileiro ainda assombra a siderurgia no País. Dados apresentados nesta semana pelo Instituto Aço Brasil apontam que os desembarques foram recordes em janeiro, atingindo 548 mil toneladas, um crescimento de 49% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Além disso, faltam poucas semanas para que as tarifas sobre os produtos siderúrgicos brasileiros nos Estados Unidos entrem em vigor.
Enquanto isso, o poder público parece estar inerte, e nenhuma medida é adotada para desativar essa bomba-relógio.
As importações de aço chinês para o Brasil vêm afetando de forma significativa as produtoras de aço. A sobreoferta de produtos siderúrgicos resulta na prática de preços predatórios e gera prejuízos para as empresas instaladas em território nacional.
Em meio ao cenário de suspensão de investimentos e paralisação de usinas em todo o País, o governo federal acatou a proposta do setor siderúrgico e implementou um sistema de cota-tarifa para frear a entrada de produtos chineses no mercado doméstico. Porém, cerca de seis meses após a adoção da medida, a invasão do aço importado continua e não dá sinais de que vai parar.
Com a tentativa fracassada do governo federal, mais investimentos podem ser suspensos. Recentemente, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou que o grupo poderá rever seus projetos no Brasil caso novas medidas de defesa comercial não sejam adotadas. Para se ter uma ideia do risco, somente a companhia mantém um plano de aproximadamente R$ 6 bilhões em aportes, com a geração de centenas de postos de trabalho em suas operações, incluindo Minas Gerais.
Até o momento, nenhuma ação por parte do poder público foi anunciada para corrigir este problema. Novas medidas de defesa comercial precisam ser tomadas para proteger o setor produtivo nacional de uma concorrência predatória.
Para piorar esse cenário, em 12 de março entrarão em vigor as tarifas de 25% sobre as exportações de aço para os Estados Unidos, principal mercado dos produtos siderúrgicos brasileiros no comércio exterior. Somente em janeiro, os norte-americanos responderam por 75% de todos os embarques realizados pelas usinas instaladas no País.
Nenhuma negociação entre Brasil e Estados Unidos para tentar reverter a cobrança sobre nossas exportações, pelo menos de conhecimento público, está em andamento. E, possivelmente, as empresas brasileiras terão que lidar por conta própria com essa bomba-relógio. Milhares de empregos estão em jogo.
*Editorial Diário do Comércio
Fonte: Diário do Comércio
Seção: Opinião
Publicação: 28/02/2025