Indústria do aço e analistas alertam que setor precisa do avanço da investigação antidumping

Indústria do aço e analistas alertam que setor precisa do avanço da investigação antidumping

O alerta foi dado no mês passado, em evento em São Paulo, quando o presidente do conselho de administração da Gerdau, André B. Gerdau Johannpeter foi taxativo: “Estamos chegando no limite”. O executivo se referiu ao avanço das importações de aço no Brasil.

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As encomendas vindas da China vêm afetando os produtores nacionais há alguns anos. As estatísticas mostram que esse cenário segue se deteriorando, com importações crescentes.

Mas mudanças no perfil dos insumos importados mostram que mais segmentos da siderurgia nacional estão sendo influenciados pelos importados. E não apenas da China.

Os dados do Instituto Aço Brasil apontam que, de janeiro a julho, o país importou 4,138 milhões de toneladas de aço, um aumento de 24,4% na comparação com os sete primeiros meses de 2024. O volume representa quase um terço das 19,314 milhões de toneladas fabricadas no Brasil nos primeiros sete meses de 2025.

Foi esse cenário que levou Johannpeter a dizer que “estamos em um ponto de quase insustentabilidade”, além de alertar que “reduzir mais a atividade tornará o negócio inviável”.

Importação de aços longos também passou a preocupar

Mas o mercado alerta que o problema atual vai além da China. Dados de relatório da Ativa Corretora, também do mês passado, apontam que, ao contrário do panorama histórico de importações relevantes nos aços planos, agora os aços longos também encontram concorrência estrangeira no Brasil.

O analista Ilan Arbetman explica que o setor siderúrgico no Brasil encara o panorama de produção abaixo da capacidade “há décadas”, com investimentos baixos e competição “de longa data” com os importados. “Mas hoje, até no aço longo, em que se costumava ter menos competição, estamos tendo entrada do importado muito grande. Sobretudo depois do acordo comercial do Mercosul com o Egito”, afirma, citando o acordo que entrou em vigor em setembro de 2017.

Arbetman ressalta que o Brasil se acostumou a achar que o problema era apenas no aço plano com a concorrência chinesa. “Isso já ficou para trás. É no aço plano com a China e, no longo, com os países que vendem via Egito”, frisa.

Investigação de dumping do governo

Para o analista, a competição com o importado no Brasil é um ponto “extremamente sensível”. “O que o setor esperava era maior isonomia via alíquota de importação e investigação de dumping”, diz.

Nas alíquotas de importação, o país criou inicialmente tarifas diferenciadas para 11 Nomenclaturas Comuns do Mercosul (NCMs). Hoje, são 15 NCMs com alíquotas diferenciadas, sendo quatro de aços longos, mas isso não foi suficiente para segurar as importações.

Resta agora, o andamento da investigação, aberta em junho pelo governo brasileiro, por dumping na venda de aço da China para o país. A análise abrange 25 NCMs.

Arbetman é taxativo sobre a importância dessa investigação: “Efetivamente, se esta [análise] não avançar, fica muito difícil pensar em como o setor vai continuar competindo com o importado. Sem medidas antidumping, realmente fica muito difícil observar perspectivas de melhora macro”, diz.

 

 
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/09/2025