Juros altos assustam mais a construção do que tarifaço de Trump

Juros altos assustam mais a construção do que tarifaço de Trump

As altas taxas de juros praticadas no Brasil preocupam mais o setor da construção do que o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sobretaxou produtos brasileiros em 50%. 

“Estamos com uma taxa de juros muito alta há muito tempo, e só agora a inflação está começando a ceder, mas ainda está elevada, com os juros penalizando muito as famílias e as empresas”, afirma Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

A entidade revisou para baixo a projeção de crescimento do setor em 2025, passando de 3% para uma alta de 2,2%. A nova estimativa é uma média dos índices de crescimento do desempenho das construtoras (2,5%) e das atividades informais, como a autoconstrução e pequenos empreiteiros (1,5%).

Segundo Zaidan, os cenários presente e futuro da economia brasileira estão conturbados, com o problema geopolítico introduzido pelos Estados Unidos com o tarifaço. O problema é mais agudo em setores econômicos situados principalmente nos Estados que exportam manufatura. De acordo com o vice-presidente, no conjunto, o País acabará dando conta do desafio, porque as tarifas possivelmente seguirão elevadas, mesmo depois de Trump sair da presidência.

O representante do sindicato diz que há um novo rearranjo do comércio mundial e o Brasil tem conseguido melhorar a pauta de exportação com serviços, com produtos semimanufaturados e manufaturados, em uma proporção maior do que simplesmente matérias-primas e indústria extrativista. Entretanto, isso ainda não está disseminado por todo o País: alguns Estados conseguem fazer essa melhora, mas não todos.

“Nosso equilíbrio fiscal causa mais preocupação do que o cenário externo. Isso vai ter uma consequência mais forte, mais adiante. E a atividade econômica está caindo, o ritmo de emprego na construção está desacelerando. E o emprego em geral criado no País não gera produtividade para a economia, são postos de trabalho ocupados por pessoal sem qualificação”, afirmou Zaidan.

O sindicato relata aumento nos custos da construção, com o INCC-DI (Índice Nacional de Custo de Construção - Disponibilidade Interna) chegando à marca de 10,26% no acumulado de 12 meses até julho, e dificuldade no acesso ao crédito.

O financiamento à produção de unidades pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) despencou 61%. Com isso, parte das empresas capta no mercado a um custo mais alto, o que repercutirá no custo das obras.

A Selic, taxa de juros básicos, foi mantida em 15% ao ano na última reunião do Copom, o Comitê de Política Econômica do Banco Central, em 30 de julho. A autoridade monetária não descartou a possibilidade de voltar a elevar a taxa caso seja necessário.

 
Fonte: Diário do Grande ABC
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 25/08/2025