México eleva tarifas e tensiona a indústria do aço em meio ao crescente papel chinês na mineração
México eleva tarifas e tensiona a indústria do aço em meio ao crescente papel chinês na mineração
O México acendeu o alerta na indústria do aço ao aprovar tarifas de até 50% sobre 1.463 produtos a partir de 2026, uma decisão que recalibra sua relação comercial com a China em um momento de sobreoferta global de aço e crescente pressão dos Estados Unidos.
O pacote tarifário faz parte de uma estratégia para reforçar a produção nacional e modificar a estrutura de importações, especialmente em setores nos quais o México mantém forte dependência de insumos asiáticos. A medida também introduz um novo nível de tensão nas cadeias de manufatura, que podem enfrentar custos mais altos em uma ampla gama de bens industriais.
O ajuste afetará setores integrados às cadeias globais de valor, em especial a siderurgia, além de produtos essenciais como aço, ferro e componentes eletrônicos, todos fundamentais para a manufatura e a produção industrial.
A Associação Latino-Americana do Aço advertiu que a região enfrenta uma situação crítica devido à superprodução e aos subsídios estatais ao aço na China. As exportações chinesas de aço acabado e semiacabado para a América Latina aumentaram 233% nos últimos 15 anos, enquanto as de aço indireto cresceram mais de 338% entre 2008 e 2024, com impactos significativos no México.
O intercâmbio comercial entre México e China em 2024 alcançou US$119,5 bilhões (bi), embora apenas 1,61% das exportações mexicanas tenham sido destinadas ao país asiático, principalmente minerais de cobre. Em contraste, a China representou 20,3% das importações mexicanas, incluindo categorias relevantes para a indústria, como componentes eletrônicos essenciais para a produção mineradora e metalúrgica.
Na mineração, embora a produção local seja dominada por empresas do Canadá e dos Estados Unidos, companhias chinesas participam indiretamente por meio de firmas estatais como a China Communications Construction, focadas em infraestrutura chave para o transporte de minerais, e por meio de investimentos industriais de grande escala, como a planta da Lingong Machinery, que destinou US$5bi a um complexo industrial em Nuevo León.
A decisão mexicana gerou críticas de Beijing. O embaixador chinês no México, Chen Daojiang, advertiu que as tarifas poderiam atrasar projetos econômicos bilaterais. Analistas sustentam que a medida pode fazer parte de uma estratégia de alinhamento com os Estados Unidos antes da revisão do T-MEC, aumentando a incerteza para investidores de setores estratégicos como mineração e aço.
“É conhecida a forte relação comercial com os Estados Unidos e existe uma pressão externa para manter um comércio estável com esse país. Embora internamente se busque desenvolver mais produção local, é provável que os produtos norte-americanos supram uma possível ausência da China”, disse à BNamericas Oscar Guillot, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Brasil.
Empresários mexicanos também questionaram a política tarifária por seu impacto em preços e cadeias produtivas, especialmente considerando que mais de 300 produtos pagarão pela primeira vez impostos de entre 5% e 50%. Embora a medida afete outros países como Brasil, Coreia do Sul e Índia, seu anúncio ocorre em um momento em que os Estados Unidos intensificaram a pressão para que a América Latina reduza sua exposição econômica à China.
Resta ver se o governo da presidenta Claudia Sheinbaum conseguirá arrecadar as receitas adicionais necessárias para reduzir o déficit fiscal. Caso não o faça, a política poderia limitar o papel que a China tem desempenhado na construção de infraestrutura essencial para indústrias como a de mineração e a siderúrgica.
Fonte: BN Americas
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 12/12/2025