'O problema é o mundo inteiro ficar exposto a essa enxurrada de aço chinês', diz presidente do Instituto Aço Brasil
'O problema é o mundo inteiro ficar exposto a essa enxurrada de aço chinês', diz presidente do Instituto Aço Brasil
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que, mesmo com a tarifa de 25% sobre o aço e alumínio importados pelos Estados Unidos em vigor por quase metade do mês, o Brasil exportou em março 39% a mais desses metais em comparação com o mesmo mês de 2024. O aço, justamente o principal item da pauta exportadora, foi o que teve melhor desempenho.
O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, explicou que as exportações brasileiras de aço para os Estados Unidos têm caráter complementar, já que o principal produto embarcado são as placas de aço, um tipo de semiacabado usado pela própria indústria siderúrgica americana, que não tem autossuficiência na produção dessa matéria-prima. Ele lembrou ainda que, ao mesmo tempo em que exporta aço, o Brasil importa carvão mineral dos Estados Unidos, essencial para o setor siderúrgico brasileiro.
Segundo ele, esses argumentos foram fundamentais nas negociações que resultaram, em 2018, em um acordo comercial entre os dois países, após a imposição de tarifas pelo governo Trump. Pelo acordo, que durou seis anos, o Brasil pôde exportar até 3,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano para os EUA, além de 687 mil toneladas de produtos acabados.
- Nenhum acordo vigia por tanto tempo se fosse bom só para uma das partes. Esse acordo foi bom tanto para a indústria siderúrgica brasileira quanto para a americana - afirma ele, considerando que estes motivos é que devem ser usados na negociação entre o governo brasileiro e o norte-americano neste novo governo Trump.
O presidente do Instituto Aço Brasil ressalta que o país não 'sai de navio em busca de comprador' e quem vai pagar pela alta da tarifa é o importador norte-americano.
- Nós não saímos pelo mundo procurando comprador. Nós somos demandados. O que a gente exporta, de maneira geral, é placa. Placa é matéria-prima. Não é um produto acabado que concorre com as indústrias automobilística, de linha branca, construção civil. Quem paga por essa tarifa? É o consumidor americano. O preço que nós vendemos aqui é o preço FOB (Free on Board), entregue no porto. Daí pra frente, todas essas tarifas, custos logísticos, quem paga é o comprador.
Além das tarifas dos Estados Unidos, o presidente do Instituto Aço Brasil chamou a atenção para um segundo problema enfrentado pelo setor: o aumento das importações predatórias de aço chinês. Agora com a promessa de taxação de 104% dos Estados Unidos à China, a busca por outros territórios deve aumentar.
- O Brasil tem sido bombardeado por importações predatórias há anos. No ano passado, entraram 4,8 milhões de toneladas de aço. E a nossa projeção é que em 2024 esse volume chegue a 5,3 milhões de toneladas, o que representa 25% das nossas vendas. Mais de 90% disso é China - destacou.
Para Marco Polo, o problema é estrutural, já que as empresas brasileiras não competem apenas com companhias chinesas, mas com o próprio Estado chinês, que subsidia a produção e mantém as exportações em alta mesmo diante de uma queda no consumo interno.
- A China exporta cerca de 100 milhões de toneladas de aço por ano. Isso faz parte de uma política de Estado. Eles mantêm a produção e colocam o excedente para fora - afirmou.
Marco Polo destacou ainda que o Brasil não deve se preocupar com um eventual desvio de exportações da China que deixariam de ir para os Estados Unidos e passariam a ser destinadas ao mercado brasileiro. Segundo ele, as tarifas aplicadas pelos EUA já limitam fortemente a entrada do aço chinês naquele mercado.
-Os Estados Unidos já tinham antes dessa nova decisão uma alíquota de 70% contra a China. Em 2023, a China exportou cerca de 1,2 milhão de toneladas para os EUA. No ano passado, esse número caiu para 400 mil toneladas por causa das tarifas. O problema não é o desvio para os EUA. O problema é o mundo inteiro, inclusive o Brasil, ficar exposto a essa enxurrada de aço chinês.
Fonte: O Globo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/04/2025