Panorama das exportações de aço da China e as tendências recentes de preço no setor siderúrgico

Panorama das exportações de aço da China e as tendências recentes de preço no setor siderúrgico

As exportações de aço da China atravessam um momento decisivo, diante de desafios estruturais e de mercado. O primeiro semestre de 2025 foi marcado por medidas antidumping crescentes em mercados tradicionais (como EUA, União Europeia, Japão e Coreia do Sul), concorrência crescente de produtores do Sudeste Asiático e uma demanda global cada vez mais segmentada. Diante disso, a China está reconfigurando sua estratégia: moderniza sua estrutura produtiva, amplia as exportações de produtos de maior valor agregado e intensifica a expansão internacional de sua capacidade produtiva.

Evolução histórica e estratégias de ajuste

Entre 2006 e 2015, a produção de aço bruto da China saltou de 419 para 804 milhões de toneladas, fazendo sua participação global subir de 34% para 50%. Esse crescimento, contudo, veio acompanhado de poluição e desequilíbrios de oferta. Desde 2015, o país vem promovendo reformas estruturais, eliminando capacidades obsoletas e endurecendo regulações ambientais. Em 2024, a produção de aço bruto recuou pela primeira vez em décadas, com a participação chinesa no mercado global caindo de 61% (em 2022) para 55%.

Apesar da queda no volume, as exportações tornaram-se mais sofisticadas. A indústria se apoia agora em três pilares: exportação indireta via produtos de manufatura (como máquinas, eletrodomésticos e automóveis), expansão de capacidade produtiva no exterior (com destaque para a Dexin Steel, na Indonésia) e inovação tecnológica.

Transformação geográfica das exportações

Com barreiras nos mercados tradicionais, a China tem fortalecido sua presença em destinos emergentes. O Sudeste Asiático é agora o maior mercado regional, com destaque para Mianmar (+70%), Indonésia e Malásia. O Oriente Médio e a América Latina também ganham relevância: a Arábia Saudita cresceu 24%, enquanto a Tailândia se tornou alternativa após sanções do Vietnã.

Entretanto, esses mercados oferecem margens de lucro mais baixas e riscos regulatórios. Investigações anticontrabando e novas medidas antidumping, como nas Filipinas, limitam o crescimento sustentável. A dependência de exportações de baixo valor agregado, como lingotes, acende alertas sobre um "bloqueio de baixo nível".

Mudanças na estrutura de produtos exportados

Os lingotes de aço tornaram-se protagonistas, com um salto de 300% nas exportações no primeiro semestre de 2025. Sua isenção das principais tarifas antidumping e preço competitivo explicam esse crescimento. Em contrapartida, produtos como o aço laminado a quente e a frio sofrem com sanções mais severas, como a taxa antidumping de 27,83% imposta pelo Vietnã.

Paralelamente, a exportação indireta ganhou força. Produtos manufaturados com conteúdo de aço (como máquinas e veículos) já representam 72% das exportações do setor, com crescimento de 20% ano a ano.

Disputa de preços e tensões tarifárias

A China ainda possui vantagem de preço em relação à maioria dos exportadores globais, mas a recente valorização das cotações chinesas está corroendo essa vantagem. A pressão é maior sobre as bobinas laminadas a quente, afetando diretamente os volumes de exportação. Estrategicamente, a China busca contornar barreiras por meio de exportações a partir de terceiros países e compras de declarações aduaneiras de pequenas e médias empresas, embora essas práticas impliquem riscos fiscais e comerciais.

Tendências recentes de preços e spreads no mercado doméstico

O diferencial de preço entre o aço laminado a frio e o laminado a quente foi de 382 yuan/tonelada em julho de 2025, encerrando a tendência de queda observada desde o segundo trimestre. A desaceleração nas exportações, impulsionada pelas disputas tarifárias com os EUA, afetou especialmente o mercado de laminados a frio.

Ao mesmo tempo, o diferencial entre laminado a quente e vergalhão está em 162 yuan/tonelada. Apesar da baixa temporada na construção civil, a demanda da manufatura sustentou os preços do laminado a quente. A expectativa é que esse spread oscile entre 130 e 170 yuan/tonelada no curto prazo.

Outro destaque é o comportamento das chapas médias, cuja diferença de preço em relação ao laminado a quente caiu drasticamente para 63 yuan/tonelada em 24 de julho. A razão principal é o redirecionamento da produção nas siderúrgicas e a recente recuperação dos preços do laminado a quente.

Conclusão

A indústria siderúrgica chinesa está em meio a uma transformação estrutural. Entre pressões regulatórias, disputas comerciais e a necessidade de agregar valor, o setor busca caminhos sustentáveis: diversifica mercados, amplia investimentos no exterior e acelera a modernização tecnológica. Ao mesmo tempo, o comportamento dos spreads de preço entre as diferentes categorias de aço revela a complexidade das dinâmicas de mercado e a necessidade de estratégias cada vez mais refinadas.

Fonte: Infomet
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 29/07/2025