Siderúrgicas brasileiras voltam a alertar sobre avanço da importação de aço da China

Siderúrgicas brasileiras voltam a alertar sobre avanço da importação de aço da China

As siderúrgicas brasileiras voltaram a dizer, nas divulgações de resultados do primeiro trimestre, que o aumento das importações de aço da China pelo Brasil continua a pressionar o setor. Tanto Gerdau quanto Usiminas, que divulgaram balanços no fim de abril, disseram que as medidas adotadas pelo governo brasileiro para conter o avanço das importações de aço chinês têm se mostrado ineficazes.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) passou a impor, desde junho do ano passado, uma taxa de 25% sobre alguns tipos de aço importados, depois de reclamações da indústria no Brasil. A medida é válida até o dia 31 deste mês, quando o governo deve rever a política, conforme esperam as companhias.

À medida que se aproxima o fim da vigência da taxa, as críticas das siderúrgicas brasileiras aumentaram, em um cenário de crescimento da entrada do produto chinês no Brasil no primeiro trimestre deste ano.

Segundo dados do Instituto Aço Brasil, o país importou 1,096 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos da China entre janeiro e março deste ano, um aumento de 57,8% em relação a igual período de 2024.

O país asiático lidera o ranking de origens das compras brasileiras no exterior. A segunda posição foi ocupada pela Coreia do Sul, com 117,2 mil toneladas vendidas ao Brasil nos três primeiros meses de 2025. Somente no mês de março, foram importadas 448,07 mil toneladas de produtos siderúrgicos da China, um aumento de 53,1% em relação a igual mês de 2024.

Entre as impactadas, a Gerdau estuda reduzir o nível de investimentos no país por conta do cenário de “competição desleal” com o produto chinês. O presidente da siderúrgica, Gustavo Werneck, disse, em entrevista coletiva de resultados do primeiro trimestre, que a companhia tem estudado reduzir os níveis de Capex (investimentos) a partir do próximo ano.

“Nós temos um balanço saudável, que nos permite manter o nível de Capex, mas estamos nos questionando se faz sentido manter esse volume no Brasil.”

A companhia ainda não tem estimativa de volume ou de local em que deve reduzir os investimentos. Segundo o presidente, a revisão pode passar por hibernar alguma linha ou alocar mais capital em recompra de ações. “Caso o governo não faça nada sobre a importação, por exemplo, precisaremos tomar alguma decisão”, disse. “Podemos também aumentar o foco em produtos em que o importado não compete.”

A decisão, segundo a companhia, deve vir depois de maio, quando é esperado que o governo federal faça a revisão do sistema de cota tarifa sobre o aço importado. “O que nos preocupa é como vai ficar o nível de importação no Brasil. Há uma competição desleal. Temos dúvida se vale a pena continuar investindo no país, onde não temos uma defesa comercial que traga competição isonômica”, disse Werneck.

O presidente da Usiminas, Marcelo Chara, também chamou a atenção para impactos na concorrência na teleconferência de resultados da companhia. “A falta de aplicação de medidas eficazes para criar condições justas de concorrência, ante a forte presença de importações subsidiadas, é a principal ameaça para a sustentabilidade do setor siderúrgico brasileiro e de sua cadeia de valor”, disse.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/05/2025