Tarifaço não serve a interesses americanos, afirma Rodrik

Tarifaço não serve a interesses americanos, afirma Rodrik

O economista e professor da Universidade de Harvard Dani Rodrik criticou nesta quarta-feira (20) o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a diversos países, entre eles o Brasil, por não servir aos interesses americanos. Para o especialista, também falta clareza sobre os setores beneficiados com o aumento de tarifas no comércio internacional.

“O problema não é que as tarifas sejam nacionalismo econômico, e sim que elas não atingem objetivos do ponto de vista nacional. As tarifas não servem aos interesses nacionais”, disse, no Rio, em seminário organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com a Open Society Foundations.

O economista de origem turca considera que existem três desafios principais em termos globais: a reconstrução da classe média, o enfrentamento das mudanças climáticas e a redução da pobreza.

O professor de Harvard defende a tese de que o enfraquecimento das democracias no mundo é consequência da erosão das classes médias: “Se você quer uma democracia estável e coerente, precisa ter uma classe média forte.”

O economista ressalta que o presidente dos EUA, Donald Trump, não está comprometido com as mudanças climáticas ou com a redução da pobreza, mas fala sobre a ascensão da classe média. “E essa é uma das metas das tarifas dele. Mas está claro que as tarifas não são o instrumento eficaz para atingir isso”, afirma.

Segundo Rodrik, as tarifas não são a maneira adequada de fomentar empregos uma vez que aumentam a renda de apenas alguns setores de manufatura. “E quando as empresas se tornam mais rentáveis, será que elas inovam ou investem mais?”, questionou.


"Politicamente é pior ser amigo do que inimigo de Trump”
— Alexander Soros

O economista afirmou não ser contra as tarifas, desde que elas complementem uma estratégia doméstica de forma temporária. Esse, porém, não parece ser o objetivo de Trump. “Não está claro a quem elas [as tarifas] estão beneficiando, de quem são os interesses.”

Para o presidente do Conselho da Open Society Foundations, Alexander Soros, as tarifas e sanções impostas pelos EUA contra o Brasil representam uma tentativa de Trump interferir no regime político brasileiro em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e contra o presidente Lula.

“É claramente uma tentativa de mudar o regime contra Lula e a favor de Bolsonaro. Está claro na carta que foi enviada [ao Brasil] e nas políticas, se é que podem ser chamadas de políticas, que emergem de Washington."

O herdeiro do investidor e filantropo George Soros também disse que Trump enxerga as tarifas como “ferramenta de poder” e que o mandatário americano só respeita pessoas mais poderosas ou mais ricas que ele.

Mas Alexander Soros ressaltou que o tiro “pode sair pela culatra” porque Bolsonaro está inelegível e pela impopularidade das medidas. “Se você olhar para o mundo, politicamente é muito pior ser amigo de Trump que ser inimigo dele. É muito melhor ser atacado do que amado por ele por motivos políticos.” E completou: “Desde que Trump foi eleito, houve apenas uma eleição em que ele tentou interferir e isso ajudou o candidato, que foi na Polônia”. Aliado de Trump, o nacionalista Karol Nawrocki foi eleito presidente da Polônia ao vencer o segundo turno das eleições, em junho deste ano.

 
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 21/08/2025