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Impacto da depreciação superacelerada pode ir a R$ 17 bi

Os cinco cenários de depreciação superacelerada com os quais o governo federal trabalha vão desde um mais restrito, que abrangeria apenas a indústria de transformação, até um mais complexo, que englobaria indústria de transformação, utilidades (eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos e descontaminação), construção civil, transportes e telecomunicações.

O impacto fiscal pode variar entre R$ 3 bilhões e R$ 17 bilhões, e também não está decidido o prazo em que será concedido o incentivo: um ou dois anos.

A depreciação acelerada é uma espécie de incentivo fiscal que permite a empresas deduzir do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), em um período que vai de dois a 25 anos, investimentos realizados em máquinas e equipamentos. A medida tem impacto apenas no fluxo das contas das empresas e do governo federal, sem alteração no estoque de impostos a ser recolhido, já que toda a quantia é em algum momento recuperada pela União.

Mas os ministérios do Desenvolvimento, Indústria Comércio e Serviços (Mdic) e da Fazenda querem dar um passo adiante e implantar a depreciação superacelerada, em que a dedução é realizada em um período mais curto, de apenas um ou dois anos. Como o regime tem impacto fiscal, mesmo que temporário, a decisão sobre qual modelo será adotado caberá ao Ministério da Fazenda.

“Até setembro a gente espera estar com isso fechado”, afirma o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Mdic, Uallace Moreira, lembrando que o montante precisa estar previsto no Orçamento do ano que vem. Ele destaca, no entanto, que não necessariamente o cenário menos abrangente é o de menor impacto fiscal.

Números da Receita Federal mostram que, entre janeiro e julho deste ano, a depreciação acelerada de bens de capital realizada pelas empresas alcançou R$ 1,112 bilhão, o que significa R$ 49 milhões a mais do que no mesmo período do ano passado. Em abril, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, já tinha dito que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha se comprometido com a defesa do mecanismo de depreciação acelerada.

O tema voltou a ser debatido entre Haddad e o vice-presidente e titular do Mdic, Geraldo Alckmin, em junho, no lançamento do programa de descontos ao setor automotivo.

“Isso dá uma vantagem grande para o industrial que está disposto a investir no seu negócio em busca de melhora da produtividade, que não vem aumentando no Brasil há muitos anos”, disse Haddad na ocasião, afirmando ainda que o tema era “caro” ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No ano passado, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, também defendeu a depreciação imediata, antes de qualquer tributação, de investimentos realizados pelos setores “mais avançados” tecnologicamente em máquinas e equipamentos.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 21/08/2023

Consumo de aço na América Latina sobe 1,1% no acumulado até maio, diz Alacero

O consumo de laminados na América Latina foi de 29,605 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a maio deste ano, o que representa um volume 1,1% maior ante o mesmo período de 2022. Os dados são da Associação Latino-americana do Aço (Alacero). A entidade vê sinais de permanência da demanda por aço em patamares baixos e prevê uma redução de estoques e de produção por parte das siderúrgicas locais.

Já no mês de maio, o consumo de laminados foi de 6,194 milhões de toneladas, valor 3,2% superior na comparação anual e 4,8% maior ante abril, que registrou 5,9 milhões de toneladas.

O alto volume de importações permanece sendo uma preocupação do setor na América Latina, que permanece verificando uma grande participação de aço produzido na China entrando na região.

Em maio, as importações de laminados totalizaram 2,355 milhões de toneladas, um avanço de 12% ante o mesmo mês do ano anterior e 5,2% superior na comparação com abril. Já a soma no acumulado até maio foi de 10 milhões de toneladas, valor 0,3% menor ante o mesmo intervalo de 2022.

Questionado sobre a possibilidade de redução da produção de aço na China por conta de preocupações com a emissão de poluentes, o diretor executivo da Alacero, Alejandro Wagner, demonstrou ceticismo no curto prazo, mas avaliou o movimento como possível no longo prazo.

“Escutamos muitas declarações de que poderia ocorrer uma redução de produção na China pela rota de alto-forno, mas para quando seria? O que estamos verificando no curto prazo é um consumo chinês de aço mais fraco, e a produção não cai tão rápido quanto o consumo necessariamente, por isso eles tendem a exportar a preços mais baixos”, afirmou Wagner.

As exportações de aço no acumulado de maio somaram 596,4 mil toneladas, valor 37,1% menor ante um ano e 9,5% inferior na comparação com abril. No acumulado dos cinco primeiros meses, as vendas externas recuaram 26,2%, para 3,529 milhões de toneladas.

Setores

A Alacero avalia alguns sinais “modestos” de melhora em alguns mercados consumidores de aço na América Latina. A entidade registrou em maio um avanço geral em todos os setores compradores da commodity na comparação com abril deste ano.

Na construção civil, houve crescimento geral de 2,2% em maio na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A alta foi impulsionada por avanços no México e Colômbia, que cresceram 9,2% e 2,1% respectivamente no mesmo intervalo de comparação. Peru (-11%), Chile (-8,5%), Argentina (-2,9%) e Brasil (-2,5%), por sua vez, registraram queda.

No mercado automotivo a produção geral aumentou 3,7% em junho ante um ano. A liderança do crescimento no setor veio do México (+16%), mas o Brasil impulsionou a queda (-7,1%) no mesmo intervalo de comparação.

Em maio, a produção industrial na América Latina apresentou leve melhora, mas permanece em um contexto de estagnação desde setembro de 2022. A atividade manufatureira cresceu 1% no quinto mês do ano na comparação com o mesmo período de 2022. A produção de maquinário, por sua vez, permaneceu no vermelho, embora tenha reduzido o ritmo de queda anual em 0,3% no mesmo intervalo de tempo.

Produção

A produção de laminados em junho somou 4,568 milhões de toneladas, valor 14,8% inferior ao mesmo mês de 2022, porém maior em 7,4% ante maio. No acumulado dos seis primeiros meses, houve recuo de 8,9% ante o mesmo período do ano anterior, para 28,867 milhões de toneladas. Se considerado o segundo trimestre, o total foi de 14,4 milhões de toneladas,10,4% abaixo na relação de abril e junho de 2022.

Já a produção de aço bruto em junho registrou queda de 14,8% ante um ano, para 4,5 milhões de toneladas, por outro lado, o valor representa um avanço de 7,4% na comparação com maio.

No primeiro semestre foram produzidos 28,9 milhões de toneladas de aço na América Latina, menos 8,9% na comparação com o mesmo período de 2022. Já no segundo trimestre, a Alacero contabilizou 14,4 milhões de toneladas fabricadas, valor 10,4% inferior ao do mesmo trimestre de 2022.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 21/08/2023

Brasil tem de fazer escolha na questão do aço, dizem economistas

Medidas como processos antidumping e salvaguardas a importações é uma escolha política de governo. Tem de ver se vale a pena proteger setores industriais, caso do aço, ou se é melhor incentivar iniciativas de ganho de competitividade industrial. Os EUA escolheram proteger os fabricantes de aço ao editar, em 2018, a seção 232.

Proteger por quê, questiona Lia Valls Pereira, pesquisadora associada do Ibre/FGV e senior fellow do CEBRE. “Talvez a indústria brasileira não seja tão competitiva e sempre vai pedir proteção”, afirma. Ela avalia que, de fato, a China se tornou uma potência, com economia de escala, criando mais oferta e baixando preços, se tornando alvo de dezenas de investigações de comércio desleal no mundo.

Na sua visão, o país não pode tomar decisão pontual. “Seria melhor ter medidas de caráter temporário do que recorrer a aumento de tarifas. Abre espaço para outros setores pedirem as mesmas medidas”, afirma. Em essência, diz, redução de tarifa é para baratear custo de produção, mas qual seria o efeito sobre emprego?.

Para Pereira, talvez a indústria brasileira tenha de ter redes de proteção, como nos EUA, para mitigar impactos na competição, mas isso tem de ser feito de uma forma mais ampla. “Não vamos resolver o problema interno abrindo um flanco com a China”.

Lívio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e também pesquisador associado da FGV/Ibre, observa que, por várias razões, é um momento delicado para a siderurgia global, e que o setor busca proteção ao invés de políticas que melhorem sua competitividade. Reconhece, porém, que isso não ocorre da noite para dia. “Proteção é política vertical, do interesse do setor”.

Ribeiro admite o impacto que ocorre da competição chinesa há vários anos, com excesso de oferta desviado para outros mercados. Diz que a consolidação de siderúrgicas no país desde 2018 tornou as empresas mais robustas. Em contrapartida, ganharam competitividade e passaram a ofertar produtos a preços mais baixos. “O Brasil, com rara exceção, não tem uma indústria do aço tão integrada verticalmente, desde os insumos”.

Para ele, medidas de proteção não resolvem o problema de competitividade. Isso tem de vir atacando o custo Brasil, arcabouço de custos logísticos, simplificação tributária, segurança energética. Políticas horizontais. “Tudo que gera ambiente de negócios, mas leva tempo e é política de Estado”.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 21/08/2023

Vendas da AVB crescem na contramão do setor

Sem alarde, a Aço Verde do Brasil vem ocupando espaço no mercado brasileiro de aços longos mesmo em meio à retração de demanda. Enquanto as grandes produtoras estão penando com a queda nas vendas, a companhia, situada em Açailândia (MA) registrou crescimento de 11,3% no segundo trimestre. O mercado, como um todo, caiu cerca de 10%.

A AVB é a mais novas e menor siderúrgicas do país e passou a competir no mercado de aços laminados longos, com vergalhões e fio-máquina, em 2018. No semestre, cresceu 14,5%. Destacando a retomada das atividades na construção civil - mais lançamentos de empreendimentos imobiliários - a empresa informou que suas vendas, entre abril e junho, subiram 12,5% ante o primeiro trimestre deste ano.

“Batemos novo recorde, com vendas de 100,3 mil toneladas no trimestre passado, fruto de resiliência operacional da empresa”, disse Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de RI. A empresa é de capital fechado, mas reporta demonstrações financeiras trimestrais como se fosse aberta. Faz isso porque lançou Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

A empresa é comandada por Silvia Nascimento, uma das acionistas do grupo Ferroeste, que é o controlador da siderúrgica.

A fabricante de vergalhões e fio-máquina compete com so pesos-pesados do setor Gerdau e ArcelorMittal, com a mexicana Simec e com a Sinobras (Grupo Aço Cearense), que tem usina no Pará.

Bcheche diz que a empresa segue seu plano estratégico de ampliar a ocupação de capacidade de instalações da usina. A siderúrgica está apta a fazer 600 mil toneladas de produtos laminados ao ano - deve passar de 400 mil toneladas em 2023 e almeja chegar a 500 mil no próximo ano.

A siderúrgica opera com dois altos-fornos, que processam minério de ferro, comprado da Vale, e biocarbono (carvão vegetal obtido de florestas próprias) para produção do ferro-gusa. Esse produto abastece a aciaria, onde é refinado com mistura de sucata de ferro e aço (de 20 a 25%).

“Nosso foco é transformar os tarugos que saem da aciaria em material laminado, de maior valor agregado para atender clientes de diversas partes do país. Com a ampliação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida no Nordeste, estaremos prontos para fornecer aço aos construtores e incorporadores da região”, afirma o executivo.

No segundo trimestre, a AVB também sofreu queda de receita, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado e na última linha do balanço, da mesma forma que outras siderúrgicas do país.

A receita líquida, de R$ 446 milhões, teve recuo de 25,8% na comparação anual, porém aumento de 11,7% frente ao desempenho de janeiro a março O lucro líquido alcançou de R$ 108 milhões, com uma margem líquida de 24,2%, considerada de bom termo no negócio de siderurgia. O resultado foi 49,1% inferior, tendo também crescido ante o primeiro trimestre (+35,8%).

O Ebitda ajustado foi de R$ 145 milhões (com margem de 32,5%) e sofreu baque anual de 48,2%, porém com crescimento de 15% frete ao primeiro trimestre.

A alavancagem financeira da AVB é vista como tranquila, de 0,8 vez na relação Dívida Líquida sobre Ebitda. Fechou o trimestre com caixa de R$ 720 milhões, ante dívida total de R$ 1,22 bilhão. A alta do caixa, explica, se deve ao aumento do fluxo de caixa operacional, somando uma captação de R$ 260 milhões em Cédula do Produtor Rural (CPR).

“A empresa mostrou performance operacional e disciplina financeira”, disse Bcheche, ressaltando que a AVB obteve a elevação do rating de crédito corporativo de ‘brAA-‘ para ‘brAA’, com perspectiva estável, da agência de rating S&P Global Ratings.

Os investimentos somaram R$ 84,5 milhões, alocados principalmente numa planta de gás (para garantir o aumento da produção de aço em 2024) e na unidade de fabricação de briquetes (para recuperar resíduos do processo siderúrgico - finos de minério de ferro e de biocarbono). “Vão substituir 20% da matéria-prima”.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 18/08/2023

Minério de ferro sobe forte e alcança máxima de mais de três semanas com esperanças renovadas de medidas da China

Os contratos futuros do minério de ferro na bolsa de Dalian subiram ao nível mais alto em mais de três semanas nesta quinta-feira, estendendo os ganhos para uma sexta sessão, sustentados por esperanças renovadas de mais medidas de apoio da China, após uma reunião de gabinete e fundamentos de mercado relativamente bons para o momento.

Os formuladores de políticas disseram na quarta-feira que a China continuará a introduzir medidas para impulsionar o consumo e promover o investimento, após problemas econômicos crescentes com uma crise imobiliária prolongada, pressão deflacionária e crescimento mais lento nas vendas no varejo e na produção industrial.

O minério de ferro mais negociado para janeiro na Dalian Commodity Exchange (DCE) da China encerrou as negociações do dia em alta de 4,34%, para 768,5 iuanes (105,15 dólares) a tonelada, a maior cotação desde 26 de julho.

O contrato de referência do ingrediente siderúrgico para setembro na Bolsa de Cingapura subiu 4,9%, para 105,75 dólares a tonelada, o maior nível desde 1º de agosto.

O iuan enfraquecido, a grande diferença entre os preços spot e futuros e os altos níveis remanescentes da produção de gusa dão suporte aos preços do minério de ferro, disseram analistas da Soochow Futures.

Outros ingredientes siderúrgicos, como carvão de coque e coque em Dalian, subiram 1,45% e 1,41%, respectivamente.

A Analysys, no entanto, alertou que a perspectiva sombria da demanda em meio ao setor imobiliário em dificuldades e as iminentes restrições à produção de aço continuaram a atuar como ventos contrários para os ingredientes siderúrgicos.

Algumas siderúrgicas na província de Jiangsu, no leste da China, começaram a cortar a produção, com uma meta de reduzir a produção entre 20% e 30% com base na média do primeiro semestre do ano, disseram analistas da consultoria Mysteel.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/08/2023

China faz o maior corte de juros desde o auge da pandemia. Analistas explicam a crise no país

Quando a China flexibilizou as restrições contra a Covid-19 no fim do ano passado, muitos analistas, investidores e empresários esperavam que a economia apresentasse um crescimento rápido e robusto. Afinal, o "consumo de vingança" pós quarentenas tinha sido a tônica da reação de várias economias pelo planeta.

Mas, no país onde os lockdowns foram os mais longos e rigorosos do mundo, os consumidores seguiram apáticos. E, no sinal mais eloquente de preocupação das autoridades com o fraco desempenho da economia, o banco central chinês fez nesta terça-feira o maior corte na taxa básica de juros do país desde o auge da pandemia.

Os juros para os empréstimos de um ano, referência no mercado local, foram cortados em 0,15 ponto percentual, para 2,5% ao ano, numa decisão que surpreendeu os analistas.

E os problemas econômicos da China não se restringem ao pouco apetite por consumo da população. As exportações estão em queda, o mercado imobiliário vive uma crise profunda, os investimentos estrangeiros permanecem estagnados e o desemprego entre os jovens continua alto.

Também nesta terça-feira, o governo chinês suspendeu a divulgação de dados sobre o desemprego juvenil alegando que as estatísticas eram complexas, o que levantou temores entre os analistas sobre a falta de transparência de Pequim em relação a seus indicadores econômicos.

Em junho, a taxa de desemprego para os chineses entre 16 e 24 anos alcançou 21,3%. O dado de julho, que deveria ter sido conhecido nesta terça-feira, não foi divulgado.

Diferentemente do que ocorreu em outros países, como Estados Unidos e Brasil, onde a forte inflação do pós-pandemia obrigou os bancos centrais a elevarem os juros, a China chegou a registrar deflação. Puxado por alimentos, o índice de preços ao consumidor caiu 0,3% em julho na comparação anual, o primeiro recuo desde fevereiro de 2021.

Já os preços ao produtor tiveram queda de 4,4% no mês passado em relação a julho de 2022 — o décimo recuo consecutivo. A demanda fraca forçou fábricas e empresas a reduzirem os preços.

Embora a queda dos preços na China possa ajudar a arrefecer a inflação global, o movimento demonstra uma fraca demanda interna, o que adiciona receios para a economia mundial e para países com fortes relações comerciais com Pequim.

Retomada lenta

A sócia da assessoria Vallya e especialista em China, Larissa Wachholz, observa que a maior parte da população chinesa era cética quanto à possibilidade de uma retomada veloz:

— A confiança das famílias é um elemento importante, principalmente pensando na transição de modelo econômico que a China tenta fazer, que é passar de uma economia que exporta e investe em infraestrutura para uma economia que dependa cada vez mais do mercado doméstico e da capacidade de consumo.

A economista-chefe para Ásia-Pacífico da consultoria Natixis, Alicia Garcia Herrero, também destaca a falta de confiança como um dos motivos para o consumo interno estar abaixo do esperado:

— Além disso, o crescimento estagnado da renda disponível e o alto desemprego juvenil deixa todos mais conservadores. Eles sabem que sua renda pode não crescer mais tão rápido.

O desemprego entre os jovens atingiu 21,3% em junho.

Impactos para o Brasil

 

Por aqui, o maior impacto deve ser na exportação de commodities metálicas. Os preços do minério de ferro têm patinado no mercado internacional, rondando os US$ 100 por tonelada nos últimos meses. Na B3, as ações da Vale, que têm exposição à China, acumulam queda acima de 20% no ano.

— Nossas exportações para a China, para o bem e para o mal, são de produtos primários, que tendem a ser mais resilientes. Mas acredito que é importante para o Brasil que a China consiga fazer essa transição de modelo econômico. Se eles tiverem sucesso nessa política, o Brasil vai conseguir agregar valor a seus produtos e inserir novos itens na pauta (de exportações). Se essa transição demorar ou não ocorrer, seria uma janela de oportunidade perdida para nós — diz Larissa.

O analista de commodities do Itaú BBA, Daniel Sasson, espera que os níveis do preço do minério permaneçam em torno de US$ 100 por tonelada até o fim do ano. Não é uma cotação baixa, , diz, mas é bem inferior aos patamares dos últimos anos, quando a commodity ultrapassou os US$ 200:

— Esse preço de minério de ferro mais baixo faz com que a geração de caixa seja menor. Portanto, o pagamento de impostos à União e o retorno de dinheiro aos acionistas será mais baixo.

Louise Loo, economista especializada em China da Oxford Economics, destaca que o atual desempenho da economia chinesa pode ser atribuído ao estímulo contido da demanda durante a pandemia, aos anos de aperto regulatório às empresas privadas e a uma correção do setor imobiliário, que tem forte peso no PIB.

Ela observa ainda que uma economia global em desaceleração, como resultado do aperto monetário para conter a inflação, vai reduzir a demanda por produtos chineses.

O valor total das exportações chinesas caiu 14,5% em julho, na comparação anual, a maior queda desde fevereiro de 2020. Já as importações cederam 12,4%, segundo dados da administração alfandegária do país divulgados na semana passada.

Quanto à demanda interna, Louise lembra que, se em outros países o consumo explodiu no pós-pandemia, na China os consumidores se mantiveram conservadores.

Nova crise imobiliária?

O setor imobiliário vem dando sinais de fraqueza desde o início do ano. O início de novas construções caiu 24,3% em relação ao ano anterior em junho. Pesa ainda o temor de inadimplência da Country Garden Holdings, a maior incorporadora da China em vendas. Na semana passada, ela deixou de honrar o vencimento de alguns títulos. Ontem, suas ações desabaram 18%.

— Um fator-chave que impulsiona a economia da China é o mercado imobiliário, e a desaceleração contínua no setor continua sendo um grande fardo para a economia. Para estabilizar a economia, é fundamental estabilizar o mercado imobiliário — disse a economista do Julius Baer, Sophie Altermatt.

Segundo Sasson, do Itaú BBA, nem o anúncio recente de medidas de incentivo deu ânimo ao mercado:

— O consumidor se questiona se vale a pena comprar agora se daqui a três meses ele pode comprar por um valor mais baixo. A questão talvez não seja muito o crédito, mas sim o desconforto da população com renda e emprego.

Previsões menores

As empresas, por sua vez, hesitam em aumentar a produção ou os investimentos. O diretor assistente e economista da Moody’s Analytics, Harry Murphy Cruise, ressalta que elas têm na memória os repetidos lockdowns de 2022 e as súbitas mudanças na política econômica. Por isso, diz, muitas adotam a postura de “esperar para ver”.

Com a sequência de números abaixo do esperado, crescem as expectativas com novas políticas de estímulo. O governo já reduziu os juros, e órgão estatais têm adotado medidas pontuais de estímulo ao mercado privado e ao consumo, mas o resultado ficou aquém do esperado.

— As autoridades ainda estão muito focadas no “crescimento de alta qualidade”, o que significa que qualquer retorno a fortes estímulos é improvável. As medidas anunciadas até agora, no entanto, são principalmente do lado da oferta. Resta saber se isso aumentará a demanda do consumidor de forma significativa — disse Louise, da Oxford Economics, que prevê crescimento de 5,1% este ano.

No segundo trimestre, a alta foi de 6,3%, abaixo das projeções de 7,3%. Com isso, bancos como o JPMorgan, Citi e Morgan Stanley reduziram suas estimativas para o PIB no ano. Agora, parte dos analistas avalia que a China apenas atingirá a meta do governo, de crescimento de 5% — pouco para um país habituado a taxas de expansão de dois dígitos.

— Quando as autoridades anunciaram a meta no início deste ano, presumimos que a estratégia era prometer pouco e entregar demais. Agora, existe o risco de que 2023 seja uma história de promessas demais e entregas insuficientes — diz Cruise, da Moody’s Analytics, que reduziu sua projeção de 5,4% para 5,1%

Fonte: O Globo
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 16/08/2023