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Setor de aço brasileiro mantém pleito para volta do acordo de 2018 com os EUA

O Instituto Aço Brasil disse, nesta quinta-feira (3), que, após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre tarifação de outros países, o setor mantém o pedido, feito em fevereiro, pelo reestabelecimento do acordo de cotas de 2018.

Desde 2018 até 11 de março, Brasil e Estados Unidos tinham acordo que previa isenção de tarifas de importação do aço brasileiro, considerando cota de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados e 687 mil toneladas de laminados por ano.

Em fevereiro, Trump anunciou a tarifa de 25% sobre a importação de aço e deu fim ao acordo. O anúncio de quarta-feira (2) não impôs tarifa adicional em relação ao anunciado anteriormente.

"Desde então [fevereiro], a indústria brasileira de aço vem defendendo a reconstrução do mecanismo de cotas, o que também tem sido alvo de grande esforço negocial por parte do governo brasileiro e de sua diplomacia junto às autoridades norte-americanas", informa o Instituto Aço Brasil, em nota.

"O Aço Brasil reforça que a retomada das exportações de aço aos Estados Unidos nas condições vigentes até março atende não somente o interesse da indústria de aço brasileira, mas também da indústria de aço norte-americana. As usinas norte-americanas demandaram quase 6 milhões de toneladas de placas de aço em 2024, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil".

Na visão do instituto, a manutenção do cenário atual, sem a retomada do acordo, é prejudicial para ambos os países.

No anúncio de 2 de abril, Trump definiu a tarifa de 10% para todas as importações provenientes do Brasil, a cota mínima em relação à lista divulgada sobre os demais países. A cobrança começará a ser feita no dia 5.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/04/2025

 

O Brasil no centro da disputa global por minerais estratégicos

Em meio à transição energética global e à corrida por tecnologias cada vez mais sofisticadas, o Brasil se vê novamente no centro de uma disputa internacional.

Dessa vez, não é o ouro do século XVIII nem o café que movia a economia e fazia crescer o número de ferrovias no século XIX. É o lítio, o nióbio, as terras raras e outros minerais estratégicos — elementos invisíveis ao olhar comum, quebrando tradicionalidades, mas essenciais para turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, painéis solares, medicamentos de ponta e fertilizantes.

O mapa do interesse internacional mudou. E muito!

E o Brasil, com vastas reservas minerais, especialmente em regiões como o Norte de Minas, o Cerrado e a Amazônia Legal, se transforma em território cobiçado por potências como Estados Unidos, China e União Europeia.

A China, hoje líder absoluta na cadeia global das terras raras, vê no Brasil um possível aliado ou concorrente. Já os Estados Unidos, que buscam reduzir sua dependência asiática, olham para o país como fornecedor estratégico de segurança energética e tecnológica. A Europa, pressionada por metas ambientais rigorosas, busca matérias-primas “limpas” e sustentáveis — e também mira o Brasil.

Esse novo ciclo de exploração mineral se ancora em velhos dilemas. O desenvolvimento econômico impulsionado pela mineração costuma vir acompanhado de promessas: emprego, renda, infraestrutura, tributos.

Mas, no “chão de fábrica” das regiões impactadas, a realidade nem sempre cumpre o que a retórica promete. Povos tradicionais, pequenos agricultores e comunidades inteiras são frequentemente deixados à margem desse progresso. São eles os verdadeiros “superficiários” — habitantes das áreas diretamente afetadas, cujas vidas são alteradas pela chegada do maquinário, das barragens e da poeira vermelha que recobre tudo.

A extração de minerais estratégicos, como as terras raras, está entre as mais agressivas do ponto de vista ambiental. Produz resíduos tóxicos e radioativos, consome grandes volumes de água e muitas vezes destrói biomas inteiros.

Em nome da modernidade, repete-se uma velha lógica colonial: o centro tecnológico de um lado, os danos colaterais de outro. No Brasil, isso significa que as comunidades rurais e tradicionais continuam a pagar a conta do crescimento global — agora, ainda mais acelerado.

A legislação brasileira, embora disponha de marcos regulatórios importantes, ainda falha na proteção efetiva das populações atingidas. Falta transparência nos processos de licenciamento, falta consulta prévia, falta indenização justa. Sobram conflitos, judicializações e a sensação de que o direito, quando chega, chega tarde.

É nesse cenário que cresce a importância da assessoria jurídica especializada na defesa dos direitos socioambientais e dos interesses das comunidades afetadas.

Advogar nesses casos vai muito além do embate judicial: é trabalhar no sentido de garantir a escuta ativa dessas populações, é intermediar negociações com empresas mineradoras, é assegurar o cumprimento dos direitos constitucionais ao meio ambiente equilibrado, à saúde, à moradia e à dignidade. O advogado que atua junto aos atingidos pela mineração precisa entender do Direito, mas também de história, de cultura local, de política global. Precisa reconhecer que cada jazida aberta reabre, em alguma medida, as feridas mal cicatrizadas do nosso modelo de desenvolvimento.

O Brasil vive, hoje, mais que um novo ciclo econômico: vive uma encruzilhada ética. Pode se tornar referência em mineração sustentável e justiça socioambiental — ou repetir um passado de espoliação e invisibilidade. E essa escolha não será feita apenas nas salas de reunião entre investidores e governos. Será feita, principalmente, nas vozes que ecoam das comunidades, nas decisões dos tribunais e nos compromissos assumidos — ou não — com os que vivem onde a riqueza se extrai.

O subsolo brasileiro volta ao centro do mundo. Mas o que será feito dele ainda está em disputa.

Fonte: Cidades & Minerais
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/04/2025

 

Vendas de máquinas e equipamentos sobem 17% no primeiro bimestre

A receita de vendas da indústria de máquinas e equipamentos atingiu R$ 43,3 bilhões nos dois primeiros meses do ano, 16,9% acima do registrado no mesmo período de 2024. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (2), são da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O resultado das vendas do acumulado de janeiro e fevereiro é o primeiro positivo após três anos consecutivos de queda nas receitas nos primeiros bimestres, de 2024, 2023, e 2022. 

Entre os mercados compradores, o destaque foi a melhora na demanda de máquinas para fabricação de bens de consumo, de máquinas para agricultura e de máquinas para construção civil.

Exportações 

As exportações do setor totalizaram US$ 1,6 bilhão no primeiro bimestre, uma queda de 10% na comparação com o mesmo período de 2024. Os setores fabricantes de máquinas para construção (-25,4%), indústria de transformação (-12,3%) e componentes (-10,5%) registraram os principais recuos.

Por destino, a principal queda nas exportações ocorreu nas vendas para a América do Norte (-26,8%): nos Estados Unidos, o recuo foi de 26,8%; no México, de 30,6%; e no Canadá; de 13,1%. 

Houve crescimento apenas nas exportações para a América do Sul (+12,4%) com destaque para a Argentina que ampliou as aquisições em 73,4%, principalmente em máquinas agrícolas e máquinas para construção civil.

“Com esses resultados, a América do Sul voltou a ser o principal destino das máquinas nacionais, adquirindo 35,5% de todos máquinas e equipamentos exportados pelo Brasil”, destacou a Abimaq em nota.

Fonte: Agência Brasil
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 03/04/2025

Brasil chega pessimista a dia de tarifas de Trump e teme que aço seja taxado duas vezes

Sem avanço nas negociações com os Estados Unidos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega pessimista ao dia do anúncio do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, previsto para esta quarta-feira (2), às 17 h (de Brasília).

Com poucos sinais de Washington, o Brasil teme que a possível tarifa linear se some a outras taxas já em vigor, como as aplicadas recentemente sobre o aço e o alumínio, gerando um efeito cumulativo.

Produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, estão entre os principais itens exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves. Segundo dados do governo americano, o Brasil está entre os três maiores fornecedores de aço ao país (ao lado de México e Canadá), com US$ 2,66 bilhões vendidos no ano passado.

Recentemente, Trump também anunciou tarifas sobre automóveis importados, medida que pode impactar o setor de autopeças nacional. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,3 bilhão em componentes do tipo para os Estados Unidos.

Nas últimas semanas, o Palácio do Planalto começou a trabalhar com a expectativa de um quadro mais extremo do que o inicialmente previsto. Além das já anunciadas taxas sobre aço e alumínio, o governo admitiu a possibilidade de ser afetado por um imposto linear sobre praticamente toda a pauta exportadora brasileira para os EUA.

Um integrante da Casa Branca confirmou essa expectativa ao dizer na semana passada que, se o Brasil for incluído na lista dos países alvo, as tarifas serão lineares e aplicadas a todos os bens.

Segundo um membro do governo brasileiro, não será surpresa se a medida anunciada pelos americanos for "a pior" possível para o Brasil. Essa pessoa admite que é alto o risco de o Brasil estar entre os países mais afetados pelo tarifaço, apesar dos esforços diplomáticos para esclarecer pontos da relação comercial. Entre esses pontos estão a tarifa efetiva média sobre produtos importados dos EUA e o fato de a balança comercial ser historicamente favorável aos americanos.

Na Esplanada, há a avaliação de que documentos e declarações da administração Trump sugerem que os EUA consideram o Brasil problemático devido à discrepância tarifária e demais barreiras não tarifárias.

Documento divulgado nesta segunda (31) pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) apontou que o Brasil impõe tarifas de importação relativamente altas a uma vasta gama de setores, como automóveis e suas peças, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, maquinário industrial, aço, têxteis e vestuário.

Para dois membros do governo, o esforço feito em Washington na última semana focou principalmente na negociação de cotas para as tarifas aplicadas sobre aço e alumínio. Isso porque, como o governo não sabe quais sobretaxas "recíprocas" serão aplicadas ao país, não havia o que negociar.

Integrantes da administração Lula estão em um momento de extrema imprevisibilidade às vésperas do anúncio. A conversa que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, teria nesta segunda com o chefe do USTR, Jamieson Greer, acabou cancelada. Por ora, não há perspectivas de nova reunião.

Por causa dessa incerteza, funcionários do governo dizem que o governo só saberá, de fato, o que vai enfrentar após o anúncio nesta quarta.

Outra dificuldade externada por interlocutores é o fato de que as decisões estão concentradas em Trump, que tem um método agressivo e caótico de negociação. Isso amplia os desafios pela falta de poder de decisão dos auxiliares do presidente com quem o governo brasileiro vem conversando.

Um funcionário da Casa Branca afirmou não ser possível cravar a decisão até a divulgação do detalhamento da medida.

Segundo jornais americanos, Trump tinha sobre a mesa na manhã de terça ao menos dois cenários. Em um, aplicaria uma tarifa universal fixa de 20% a todos os países. Em outro, definiria taxas diferentes para cada nação a depender das barreiras impostas aos Estados Unidos por cada um.

Na segunda, o presidente afirmou em entrevista a jornalistas que os EUA seriam "muito gentis, relativamente falando" em relação a algumas nações.

No domingo (30), Peter Navarro, um dos principais conselheiros para comércio externo do republicano, disse à Fox News que os EUA poderiam arrecadar US$ 6 trilhões com as novas sobretaxas. Segundo jornais americanos, o cálculo ecoaria a conta feita caso Trump opte pela tarifa universal.

Nesse cenário, o Brasil vem trabalhando no ambiente doméstico para a criação de um arcabouço legal que permita ao país responder de forma mais rápida caso seja submetido a medidas protecionistas que gerem impacto no comércio internacional.

Como mostrou a Folha, o país tem hoje um conjunto limitado de normas jurídicas para reagir imediatamente à imposição de tarifas.

Cientes do dano que a medida anunciada por Trump poderá causar, o governo Lula e a bancada ruralista se uniram no Senado pela aprovação, de forma unânime, do PL (projeto de lei) que impõe a reciprocidade de regras ambiental e comercial nas relações do Brasil com outros países. Foram 16 votos a favor e nenhum contra na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos). Agora, o texto será analisado pela Câmara dos Deputados.

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 02/04/2025

 

Mercado brasileiro de veículos tem o melhor primeiro trimestre em cinco anos

As vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus somaram 195,5 mil unidades em março, de acordo com dados preliminares do Renavam obtidos pela Agência AutoData. O resultado representou crescimento de 4,2% sobre o mesmo mês do ano passado, 187,7 mil unidades, e de 5,4% sobre o volume de fevereiro, 185 mil.

O primeiro trimestre foi encerrado com 551,7 mil veículos licenciados, crescimento de 7,2% sobre o período de janeiro a março do ano passado. É o melhor início de ano em vendas de veículos desde 2020, quando os emplacamentos, já com leve efeito da pandemia que, em março daquele ano, provocou fechamento de concessionárias e fábricas, somaram 558 mil unidades.

A média diária de março chegou a 9,8 mil unidades, considerando vinte dias úteis – apenas o feriado da terça-feira de carnaval foi subtraído – e manteve a trajetória de crescimento. Em janeiro foram 7,8 mil unidades/dia e em fevereiro 9,2 mil unidades/dia.

Segundo fonte ligada ao varejo as locadoras voltaram às compras no fim do mês: só nos dois últimos dias úteis foram emplacados mais de 30 mil veículos, a sua maioria para empresas de locação.

As vendas de veículos leves somaram 183,5 mil unidades, avanço de 4,4% na comparação com as 175,7 mil de março e de 6,4% sobre fevereiro, quando foram emplacados 172,4 mil veículos. Deste volume, de acordo com a Bright Consulting, 47,6% foram vendas diretas, o maior porcentual para o ano. No primeiro trimestre as vendas diretas responderam por 42,6% dos emplacamentos de leves.

Fonte: Autodata
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 02/04/2025

Construção civil sustenta demanda por aço nacional, enquanto indústria recua

Com a demanda enfraquecida em diversos setores industriais, é a construção civil que tem sustentado o consumo de aço no Brasil. Impulsionadas por obras de habitação e infraestrutura, construtoras seguem comprando, enquanto outros segmentos recuam ou aumentam as importações para reduzir custos.

O mercado brasileiro enfrenta uma inundação de aço chinês, o que pressiona os resultados das siderúrgicas nacionais. Em momentos de 2024, as importações chegaram a quase 25% do total consumido. Contudo, a penetração das importações na construção civil é menor, já que os chamados aços longos - como vergalhões, barras e perfis usados em estruturas metálicas - são menos suscetíveis à concorrência asiática.

“Se não fosse a demanda interna da construção civil, teríamos um ano de 2024 muito difícil, talvez até com prejuízo”, diz a presidente da Aço Verde Brasil, Silvia Nascimento, que destaca que 2025 será parecido com o ano passado, e a construção civil continuará segurando a demanda.

O setor da construção tem ampliado a compra de aço porque a produção imobiliária cresceu desde a pandemia e segue elevada, mesmo diante do aumento dos juros, puxada pelo programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), 60% do consumo atual de aço vem do setor imobiliário e 40% da infraestrutura, embora as obras de infraestrutura utilizem, proporcionalmente, mais aço.

Em 2024, o número de residências lançadas no país subiu 18,6%, de acordo com a entidade. Foram 383,5 mil novas unidades colocadas à venda, metade das quais pertencem ao MCMV - o número de unidades lançadas no programa subiu 44% em um ano.

Empresas como a Gerdau se beneficiam desse cenário, porque concentram sua produção em aços longos. Em entrevista ao Valor em fevereiro, o diretor financeiro e de relações com investidores, Rafael Japur, disse que as perspectivas são positivas para o primeiro semestre de 2025, mas ainda incertas para o segundo.

“Há uma incerteza em alguns setores importantes, como o de construção civil, a respeito dos efeitos de uma escalada mais forte da taxa de juros e de financiamentos imobiliários”, explicou.

As importações de vergalhões somaram 156 mil toneladas no acumulado dos nove meses até setembro, ante uma venda interna de 2,75 milhões de toneladas. A participação ainda é baixa, mas cresceu desde a pandemia, lembra Dionyzio Klavdianos, presidente da comissão de materiais, tecnologia, qualidade e produtividade da Cbic. Em 2020, por exemplo, a proporção era de 15,2 mil toneladas importadas para 3,28 milhões de toneladas vendidas internamente.

"Pode ser que, com a questão nos EUA, comece a ter vergalhão chinês na construção civil”
— Dionyzio Klavdianos

Como faltou aço naquele período, a importação foi incentivada, o que fez o setor da construção “conhecer mais” os produtores estrangeiros, afirma Klavdianos. O maior país exportador de vergalhão para o Brasil é a Turquia, mas ele também pode vir do Egito e de nações da América Latina. Produtores chineses não possuem a certificação necessária para atender o mercado brasileiro, mas o diretor ressalta que essa não é uma barreira incontornável - é possível consegui-la, se houver interesse.

“Pode ser que, com essa questão de ter ficado mais caro [vender para] os EUA, a indústria chinesa passe a se interessar pelo mercado nacional, resolva essa questão da barreira técnica e comece a ter vergalhão chinês na construção civil”, diz.

Os produtores nacionais ainda são os preferidos dos construtores porque oferecem material de boa qualidade e até serviços extras, como suporte na obra, afirma Klavdianos. Há também uma dificuldade para pequenas construtoras arcarem com o custo do aço importado, pago à vista, e um receio de confrontar a indústria siderúrgica, que poderia impor um preço maior aos construtores brasileiros caso o volume importado subisse demais. “E você vai precisar comprar deles”, afirma o diretor da Cbic.

Por enquanto, o aço não é o material que mais tem pesado nas obras. Segundo o indicador setorial de inflação, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), o vergalhão apresentou alta de 5,84% nos últimos 12 meses, ante 7,32% do indicador geral, até março. Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de construção civil do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV) faz a ressalva de que, apesar de outros materiais terem altas maiores, como tubos de PVC (17,6%) e blocos de concreto (8,12%), o aço é muito usado na construção, então qualquer aumento é sentido pelo setor.

Além dos vergalhões, usados na fundação e na estrutura de prédios e obras de infraestrutura, outro item que tem ganhado espaço são as telas de aço, que vão dentro das paredes de moradia popular, justamente o setor que mais tem crescido no país. Como explica Klavdianos, ela é essencial para o sistema construtivo de parede de concreto armado, que é o mais usado no MCMV, porque reduz o tempo de obra - quanto mais rápido entregam o projeto, mais rápido as construtoras recebem o repasse da Caixa Econômica Federal.

 

O setor de siderurgia já se movimentou para pedir ao governo um aumento do imposto de importação para o fio máquina, tipo de aço que dá origem às telas - em outras especificações, ele também é usado para fazer pregos e arames. O tema está em estudo. Segundo a Cbic, foram importadas, até setembro, 172 mil toneladas de fio máquina, dos mesmos países que produzem vergalhão, enquanto a indústria nacional vendeu 1,2 milhão de toneladas do fio no período.

Para o diretor da entidade, apesar de o governo defender a siderurgia nacional, ele está ciente de que onerar a importação levaria a um aumento geral dos preços do material, o que bateria diretamente no custo da obra e na atratividade do MCMV, um dos seus principais programas.

Enquanto isso, outros setores importantes para o consumo de aço, como máquinas e equipamentos, apontam redução no crescimento. O segmento alega que a alta nos custos de insumos, especialmente o aço nacional, é um dos fatores que comprometem sua competitividade.

"Tivemos cotas de importação em 2024 que não frearam a entrada”
— Rodrigo Scolaro

Ao Valor, o presidente-executivo da Abimaq, José Velloso, afirma que o setor de máquinas e equipamentos vem reduzindo seu faturamento e, portanto, a demanda por aço ao longo da última década, reflexo do encolhimento do segmento no país. Segundo ele, a maioria das empresas não tem porte para comprar diretamente das usinas por conta de volume nas aquisições. Mais de 90% dos fabricantes se abastecem nos distribuidores - onde os preços são mais elevados.

“A maioria das companhias do setor não importa aço, é de porte médio, com ticket em torno de R$ 100 milhões. Não tem volume mínimo”, explica. Segundo o dirigente, o fator que mais tira competitividade é o preço do insumo no Brasil em relação ao internacional. “O preço do aço laminado subiu de 12% a 17% de maio de 2024 até janeiro de 2025”, acrescenta.

Outras entidades representativas, como a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), também defendem que os produtores locais reduzam seus preços, argumentando que o custo do aço nacional encarece os produtos finais e compromete a competitividade frente aos concorrentes internacionais. Procurada, a Anfavea não quis se manifestar. Nesse cenário, a diferença de preço entre o aço brasileiro e o internacional tem ganhado destaque.

Do outro lado, o Instituto Aço Brasil - que representa as principais siderúrgicas do país - tem dito que os custos de produção são mais altos devido a fatores como carga tributária, energia elétrica e logística. Além disso, o aço chinês é subsidiado pelo governo de Pequim. A entidade não quis comentar o assunto.

Ao analisar os dados de comércio exterior sobre a importação de aço, Rodrigo Scolaro, economista da GEP Costdrivers, destaca o aumento da entrada de aço chinês, especialmente em aços planos voltados a processos industriais, como a fabricação de máquinas e automóveis.

“Quando falamos de outras indústrias que estão importando [aço], estamos falando também da indústria de peças. Tivemos no ano passado cotas de importação no Brasil que não tiveram o resultado esperado para frear a importação”, diz.

Segundo Scolaro, enquanto as siderúrgicas pressionam o governo por medidas de defesa comercial, indústrias de autopeças e montadoras atuam na direção oposta, pedindo que o aço importado não seja sobretaxado.

Procurado, o Sindipeças, que representa a indústria de autopeças, não quis se manifestar.

O governo acompanha o movimento com atenção. Há discussões no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) sobre eventuais salvaguardas ou tarifas antidumping para conter o avanço do aço importado, mas nenhuma decisão foi tomada até agora.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 01/04/2025