Notícias

Mudança em ‘royalties’ da mineração deve beneficiar 183 municípios cearenses

A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), também chamada de “royalties” da mineração, deverá contemplar praticamente todos os municípios cearenses, a partir do fim de outubro de 2023.

Isso porque o Ministério das Minas e Energia (MME) publicou na última terça-feira, 29 de agosto, uma portaria mudando as regras para o repasse desse tributo. Conforme a Portaria 747, publicada pela Pasta, a Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável por fazer essa distribuição, terá um prazo de 60 dias para aplicar novos percentuais e diretrizes na hora de fazer esses repasses, a contar da data da publicação da norma.

A principal mudança é que cidades vizinhas àquelas que produzem minérios também serão considerados municípios afetados pela atividade e terão direito a receber uma parcela dos 15% da CFEM destinada a esse tipo de ente federativo. Os municípios produtores seguirão recebendo 60% do total de “royalties” da mineração.

Embora a ANM ainda não tenha divulgado a lista dos municípios beneficiados, em tese, apenas Baixio não se enquadraria na nova definição. Todos os demais 183 municípios cearenses receberiam alguma quantia relacionada aos royalties da mineração, quer seja como produtores quer seja como afetados por atividades mineradoras.

Anteriormente, era considerado município afetado pela mineração os que possuíssem ou fossem atravessados em seu território por: ferrovias, portos e suas respectivas infraestruturas para o escoamento da produção; estruturas que viabilizem o aproveitamento industrial de uma jazida mineral, incluindo bacias de rejeitos; além dos minerodutos. A propósito, a portaria também trouxe mudanças na distribuição dos recursos para os municípios que já eram classificados como afetados pelas atividades mineradoras.

Ganharão as cidades com infraestrutura ferroviária, que antes ficavam com 50% dos recursos destinados aos municípios afetados e agora ficarão com 55%, e também aqueles que recebem subprodutos da mineração, que de 30% passarão a ganhar 35% do total desses recursos. Por outro lado, municípios afetados que tenham operação portuária, terão redução de repasse, passando de 15% para 7%. O mesmo ocorrerá com aqueles que possuem minerodutos, que ficarão com 3%, quando antes recebiam 5%.

Conforme explica o presidente da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável, o deputado federal Zé Silva (SDD-MG), além dos municípios produtores e afetados, que recebem juntos 75% do total arrecadado com os “royalties” da atividade mineradora, os estados ficam com 15% e a União outros 10%. “O minério é uma riqueza do subsolo e, enfim, de toda a população brasileira. Então, não é uma riqueza só de onde você tem ali a jazida mineral”, defende.

“E o benefício do decreto é esse: você faz essa distribuição mais justa para aproximadamente 1.500 municípios, passando dos atuais 3.500 para pouco mais de 5 mil”, pontua o parlamentar. Sobre as mudanças para as cidades que já são afetadas pela mineração, Zé Silva afirma que no caso daquelas que possuem ferrovias ou onde pode ser feito o aproveitamento do minério o impacto é maior.

Já no caso das cidades com minerodutos, o deputado lembra que esse tipo de estrutura fica abaixo do solo, tal como acontece frequentemente com tubulação de água, eletricidade ou internet. “Ele não causa ruído e outros transtornos, por isso teve redução. No caso dos portos, é o seguinte: quando não tem minério tem outras cargas e ele continua sendo útil para a cidade”, ilustra.

A visão otimista, contudo, não é compartilhada pelo presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Ceará (Simagran-CE), Carlos Rubens Alencar. “Municípios que nem tem produção e nem são afetados vão se beneficiar. O Brasil tem 5.570 municípios e com essa ampliação praticamente 30% daqueles que hoje não recebem vão morder um pouco da CFEM”, observa.

“Ou seja, ficará muito pouco para os que já recebem e já reclamam que é pouco. Eu acho que a coisa mais importante é que os municípios produtores sejam esclarecidos de que há parte deles na compensação financeira sobre a extração mineral, nos termos do que é previsto em lei. Porque hoje há um um um sentimento entre eles que não recebem nada”, lamenta Alencar.

Ele cita o exemplo de Uruoca, que teve o segundo maior repasse de “royalties” de mineração no Ceará em 2022, cerca de R$ 1,2 milhão. “Há muito pouco tempo eu tive contato com o prefeito (Jan Kennedy Paiva Aquino) de lá e ele achava que não recebia nada. E esse sentimento é o que ocorre em todos os municípios”, afirma.

O POVO tentou contato com a prefeitura do município, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Fonte: O Povo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/09/2023

Minério de ferro ganha força em agosto e zera perdas do ano

Os preços do minério de ferro se recuperaram em agosto, em meio à percepção de que a China não deve impor limites à produção de aço bruto neste ano, e encerraram o mês com alta de 7,4%, apagando as perdas acumuladas em 2023. Agora, a principal matéria-prima do aço exibe leve ganho, de 0,7%, no acumulado do ano no mercado à vista.

Em julho, segundo relatório da World Steel Association (WSA), a produção chinesa de aço bruto saltou 11,5%, para 90,8 milhões de toneladas, e a percepção no setor siderúrgico brasileiro é a de o ritmo não foi reduzido em agosto. “A boa performance do minério de ferro em agosto veio muito na esteira de notícias recentes que mostram que o governo chinês parece estar menos propenso a colocar limites na produção de aço”, diz o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA.

Segundo índice Platts, da S&P Global Commodity Insights, o minério com teor de 62% de ferro foi cotado na quinta-feira (31) em alta de 1,5% no norte da China, a US$ 118,20 a tonelada - o nível mais elevado desde 20 de abril. Na Bolsa de Commodities de Dalian (DCE), os contratos mais negociados para janeiro subiram 3,54%, a 849 yuan a tonelada, maior valor registrado desde 1º de agosto.

Segundo Sasson, em 2021 e 2022, quando Pequim impôs limites à produção de aço, houve queda no volume produzido. Havia expectativa de Pequim pudesse formalizar novos cortes neste ano, mas o desaquecimento da economia doméstica pode ter levado à mudança de estratégia.

“A leitura de alguns players do mercado é que o governo não vai impor um limite neste ano dado que é um setor da economia que está indo bem. A produção de aço está forte, apesar do setor de propriedades, e eventuais limites teriam impacto negativo na economia como um todo”, diz Sasson.

Ainda assim, pondera o analista, preços ao redor de US$ 118 por tonelada no mercado à vista não são sustentáveis e, no fim do ano, devem estar mais perto dos US$ 100 por tonelada.

O petróleo também subiu em agosto, à medida que o mercado aposta em aperto maior da oferta global nos últimos meses de 2023. O barril do WTI, referência americana, com entrega prevista para outubro subiu 2,45% ontem, a US$ 83,63. Já o barril do Brent, eferência global, para novembro, avançou 1,87%, a US$ 86,83. No acumulado de agosto, as altas foram de 2,24% e 1,64%, respectivamente.

Passadas as preocupações com uma desaceleração mais drástica das economias desenvolvidas, a commodity encontra na perspectiva de oferta insuficiente um fator para impulsionar a demanda no mercado futuro. Segundo Warren Patterson, estrategista-chefe de commodities do ING, tal tendência deve ser confirmada.

“Cortes de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), em particular os cortes voluntários da Arábia Saudita, levam o mercado a um esgotamento de reservas. Nós esperamos que essa tendência continue até o fim do ano, o que sugere que os preços ainda têm espaço para subir além dos níveis atuais”, avalia Patterson. Ele nota, porém, que há dois principais riscos para tal previsão: o dólar forte, sob a expectativa de juros altos por um longo tempo nos EUA e a decepção com o cenário macroeconômico da China.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 01/09/2023

Indústria siderúrgica de olho no controle de impactos ambientais

Fundamental no desenvolvimento da sociedade contemporânea, o aço é matéria-prima onipresente na vida humana: seu uso vai de utensílios domésticos até segmentos automotivo, naval, moveleiro, da construção civil e de motores elétricos. Também é insumo essencial para a transição energética, porque compõe as turbinas de energia eólica, por exemplo. Mas o impacto econômico que a indústria siderúrgica causa em locais onde se instala traz consequências ambientais para o entorno.

O setor é fonte importante do lançamento de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Estudo conduzido pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e pelo Rocky Mountain Institute aponta que a produção desse derivado do ferro é diretamente responsável por 2,6 gigatoneladas (Gt) de emissões de CO2 em 2020, o que representa 7% do total global, além de despejar 1 Gt de GEE no ar devido ao uso de eletricidade. “Os métodos de produção atuais dependem de combustível fóssil para energia e remoção de oxigênio de minerais de ferro. Como resultado, mudanças fundamentais nos métodos de produção são necessárias para descarbonizar o setor”, indica o documento, lançado em junho de 2023.

Maior recicladora da América Latina, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: 71% do aço que produz é feito a partir desse material. Gustavo Werneck, CEO da companhia, aponta que 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço por ano. A empresa também se posiciona como a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no Estado de Minas Gerais. Entre sucata e biorredutor, 80% da produção é baseada no uso de fontes recicladas ou renováveis.

Recentemente, segundo ele, a Gerdau venceu o leilão da plataforma P-32, unidade do sistema de produção que foi utilizada pela Petrobras na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. “Uma das fontes de geração de sucata metálica é o desmantelamento de plataformas como a P-32 e de navios, o que permite que um volume importante desses materiais seja retirado dos mares brasileiros e transformado em novos produtos de aço, porque o aço é um item infinitamente reciclável. Outros materiais serão enviados para descarte seguro. Essa iniciativa é pioneira na indústria brasileira do aço”, afirma Werneck.

A empresa, contudo, também mantém passivos ambientais. A Justiça de São Paulo aceitou uma denúncia do Ministério Público estadual, que aponta um depósito clandestino de resíduos tóxicos após a desativação de uma planta industrial em Sorocaba. Em fiscalização, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) confirmou a contaminação do solo e do lençol freático por metais, hidrocarbonetos de petróleo e fluoreto. A Gerdau informa que fechou um acordo com a promotoria, e que “o terreno já se encontra em processo de recuperação e em fase de intervenção, conforme premissas e requisitos legais do órgão competente, bem como em estrito cumprimento da legislação ambiental”.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é outra empresa que vem passando por entraves: um pó preto expelido por uma planta em Volta Redonda (RJ) vem prejudicando os moradores da cidade. Devido a isso, o Instituto Estadual do Ambiente a multou em R$ 1 milhão em julho. Em nota, a diretoria da empresa diz que conduz uma modernização da fábrica adquirida em 1994. “Há investimento, neste momento, de R$ 700 milhões em modernos equipamentos e filtros para aprimorar os seus controles ambientais da emissão de poeira até 2024. Há inúmeras medidas para reduzir o impacto da poeira: filtros de despoeiramento, lavadores de gases, turbinas de névoa, limpeza e lavagem de vias internas e canhões de aspersão com aplicação de polímero que minimiza os sólidos em suspensão.”

Helena Brennand Guerra, diretora de sustentabilidade da CSN, diz que a usina da cidade fluminense melhorou a eficiência do uso de água no local – de 92,9% em 2019 para 94,4% em 2022. “É tão significativo que seria suficiente para abastecer uma cidade como o Rio de Janeiro durante um ano. A usina é hoje a mais eficiente no uso da água no Brasil”, afirma. Cada tonelada de aço produzida gera entre 500 e 600 quilos de resíduos e coprodutos que, em vez de serem destinados a aterros, são comercializados em diferentes indústrias, como a química fina, a farmacêutica, a de agronegócio, entre outros, um negócio cujo faturamento rendeu R$ 337 milhões no ano passado. “Em 2022, o aço verde representou 16,4% de todo o aço produzido pela CSN. Assumimos a meta de reduzir 10% das emissões específicas até 2030 e 20% até 2035. Estão previstos R$ 5 bilhões em investimentos até 2030, alguns dos quais já foram aportados.”

Já a Aço Verde do Brasil nasceu diferente, segundo Sandro Marques Raposo, diretor de sustentabilidade, devido a um planejamento de engenharia que torna o biocarbono protagonista na rota de produção. “Não usamos combustíveis fósseis na usina. Usamos o gás renovável da queima do biocarbono a partir do eucalipto. É um gás isento de emissões. No Brasil, a fatia de aço verde ainda é pequena: somada, corresponde de 10% a 12% da produção de aço nacional”, explica. “Com a mesma quantidade de madeira para a produção nacional de 25 milhões de toneladas de celulose, conseguimos produzir de 32 milhões a 33 milhões de toneladas de aço, mesma quantidade da produção anual brasileira. Mostra que escalar é difícil, mas não é impossível. É questão de política pública, botar foco e incentivar esse tipo de tecnologia.” A reciclagem, diz ele, também é importante no processo. “Somos o maior reciclador de sucata do Maranhão, que combinado com ferro-gusa verde me dá o aço verde”, acrescenta. Em maio, no entanto, o Ministério Público do Estado instaurou um procedimento de investigação sobre emissão de gases tóxicos pela empresa em Açailândia, interior do Estado.

Frederico Ayres Lima, diretor-presidente da Aperam South America, diz que mais de 96% da energia usada pela empresa é renovável, e que os fornos são de carvão vegetal, cuja madeira provém de florestas próprias e sustentáveis. “Elas retiram CO2, então as remoções são praticamente iguais a emissões. Ou seja, 100% do que se produz foi neutralizado pelas nossas florestas.” Em 2021, a empresa comprou a ELG, maior recicladora de aço do Brasil, para aprimorar o reúso das sobras do metal. Mesmo com as medidas, a empresa foi condenada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2021, a pagar uma multa de R$ 1,5 milhão por contaminação do solo devido ao uso de um inseticida em plantações de eucalipto. Para a indústria, o caminho para a sustentabilidade plena pode estar traçado, mas ainda é longo.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 31/08/2023

 

Crise chinesa deve puxar mais queda do preço do aço

Os preços do aço na China devem continuar em trajetória de queda até o final do ano e em 2024, com enfraquecimento da demanda e excesso da capacidade produtiva, segundo a Capital Economics.

A crise prolongada no setor imobiliário chinês é o maior fator de baixa, disse a empresa de pesquisa com sede em Londres. Os esforços de Pequim para estimular a economia irão, na melhor das hipóteses, conter o declínio.

Embora os gastos do governo com infraestruturas possam ajudar a sustentar uma demanda mínima, as vendas de imóveis estão em “declínio de longo prazo devido a fatores demográficos e ao êxodo rural mais lento para as cidades”, afirmou a Capital Economics.

Ao mesmo tempo, o crescimento das exportações de aço pode diminuir com a desaceleração econômica em países desenvolvidos.

Os preços do aço laminado a quente e do vergalhão de aço na China já caíram cerca de 14% em relação ao pico de meados de março. E a cotação do minério de ferro na bolsa chinesa de Dalian acumula queda de mais de 11% no mesmo período.

A Capital Economics estima que os preços do aço devem cair mais 4% até o final do ano, e quase 3% em 2024.

O setor imobiliário responde por 37% da produção de aço da China, de acordo com o ANZ Group, enquanto a construção civil como um todo consome cerca de 60%. O banco espera que a demanda por aço no setor imobiliário caia 22% este ano, para 275 milhões de toneladas. Embora algum crescimento na infraestrutura compense isso, o ANZ prevê que a demanda global por aço se contraia em 5%, para 910 milhões de toneladas.

Os preços do aço para construção na China sofreram uma queda forte após o pico de março, mas se estabilizaram nas últimas semanas. A produção aumentou com as usinas se preparando para um aumento sazonal da atividade de construção nos próximos dois meses. As siderúrgicas também podem estar aumentando produção antes que o governo imponha restrições para limitar a poluição.

O governo limitou a produção nos últimos dois anos, depois que as usinas do país ultrapassaram 1 bilhão de toneladas, e prometeu fazer o mesmo em 2023. A produção também deve cair no ano que vem, com o mesmo cenário de demanda fraca e estoques altos, disse a Capital Economics.

Fonte: Bloomberg News
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 31/08/2023

Deflação na China impacta vendas externas

A deflação de 0,3% na China em julho afetou as perspectivas globais no setor de mineração. O país é o maior consumidor de produtos como minério de ferro, cobre, alumínio e terras raras no mundo. Não foi o único dado ruim: as importações caíram 12,4% na comparação com julho de 2022. E, no segundo trimestre, a economia cresceu só 0,8%, após alta de 2,2% no primeiro. Os dados preocupam o Brasil, que tem na China o principal comprador de suas exportações - pouco mais de um quarto dos US$ 334,1 bilhões vendidos pelo país em 2022 foram para lá. O minério de ferro foi o segundo produto mais vendido, com 18%. E um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China projeta que, até 2030, o minério pode passar a soja e se tornar a principal commodity exportada à China.

Para especialistas, as exportações brasileiras podem seguir estáveis, mas há sinais de alerta no longo prazo. Em especial, um acúmulo de desgastes na construção, que responde por mais de um quarto da economia chinesa e foi um dos propulsores do crescimento na última década. Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e sócio da BRCG Consultoria, divide o cenário em dois fatores. De um lado, estrutural. “A economia chinesa vem em uma tendência pronunciada de baixa ao menos desde 2018”, diz. De outro, uma conjuntura com três ingredientes: a decisão do governo chinês de desalavancar as incorporadoras, há dois anos; o consumo global em baixa após a pandemia; e os sinais de que a reabertura sanitária iniciada no fim de 2022 não reverteu a queda no consumo interno no país.

Ribeiro explica que a demanda por minério também sofre na esfera pública, já que parte do investimento estatal em infraestrutura da China é feito pelos entes subnacionais, como províncias, em grande medida com verbas de leilões de direitos de uso de terras. Com a queda na demanda por construções, os recursos estão escassos.

Yasmin Riveli, analista da Tendências Consultoria, destaca que o investimento no setor imobiliário local cai 11,3%. “Começamos o ano com expectativas favoráveis, mas agora fazemos uma leitura mais negativa”, diz. Lucas Laghi, head de mineração e siderurgia, papel e celulose e bens de capital da XP, acrescenta que o índice de novas construções está em queda de 60% frente ao pré-pandemia. “É justamente a fase que mais impulsiona o consumo de aço e minério de ferro”, afirma. A BRCG reduziu, em agosto, a previsão para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) chinês neste ano, de 5,2% para 5%. A XP prevê alta entre 5% e 5,5% em 2023, e a Tendências ajustou para 5,1% neste ano e 4,6% em 2024.

Apesar dos sinais negativos, a Vale diz que a demanda por aço “é resiliente e se mantém em níveis elevados, apoiada por fundamentos sólidos no longo prazo”. A Vale destacou ainda que a produção de aço bruto na China subiu 2,5% nos primeiros sete meses do ano.

Ribeiro, do Ibre/FGV, avalia que as maiores mineradoras têm espaço para manobrar. “O setor é muito concentrado. De um lado, um grande comprador, a China, e, de outro, a Vale e as australianas BHP e Rio Tinto; é difícil um mercado assim implodir, existe uma coordenação”, aponta.

Mesmo assim, Laghi, da XP, vê com preocupação os efeitos sobre os preços. A XP estima tonelada do minério de ferro em US$ 75 ao fim de 2025, contra os US$ 110 atuais. “Mas tudo muda se o governo retomar os estímulos”, salienta. Havia expectativa de que isso começasse na semana passada, quando o Banco Popular da China anunciou novas taxas de juros, mas não foi desta vez: a curva de cinco anos, que serve de referência para o mercado imobiliário, não teve cortes.

Segundo Riveli, a China já não tem o mesmo ímpeto para incentivos. “O país tem limitações que não tinha, como mudança demográfica, endividamento e economia cada vez mais dependente do consumo”. Ainda assim, ela projeta impacto menor para o Brasil. “O país tem posição privilegiada por conta do elevado teor de ferro no minério, que chega a 67% em minas como a de Carajá, segundo relatórios da Vale”. A qualidade pesa, afirma, em um contexto de esforços da China para tornar sua indústria mais limpa, já que a matéria-prima demanda processos produtivos menos poluentes.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/08/2023

 

Mineração atrai só 0,9% dos investimentos do setor financeiro

No Talk Show ocorrido no primeiro dia da Exposibram Amazônia, para debater a impulsão da economia verde para o Brasil se tornar líder da oferta de minerais cruciais para a transição energética no mundo, o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, disse que para isto acontecer o Brasil precisa estruturar uma política nacional para expandir a produção de minerais estratégicos para a transição a uma economia de baixo carbono; ampliar o conhecimento geológico do território; evitar o aumento de custos que prejudicam a competitividade do setor, a exemplo da criação de taxas por estados e municípios; estabelecer linhas de financiamento adequadas às características do setor; ampliar a captação de recursos pelas mineradoras no mercado de capitais. “O setor financeiro aporta R$ 2,1 trilhões em atividades produtivas no Brasil, porém apenas 0,9% desse total é voltado à mineração, um dos três principais setores econônomicos do Brasil. É uma discrepância que precisa ser superada”, disse Jugmann.

Participaram do debate Ana Paula Bittencourt secretária-adjunta da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale, Rohitesh Dhawan, CEO do ICMM, Ana Cabral-Gardner, CEO da Sigma Lithium, e Jamile Cruz, Country Manager da Rio Tinto. O encontro foi mediado por Raul Jungmann. Para o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, o mundo passará por uma mudança, onde as mineradoras serão as novas majors. “Sem minérios na base, não vai acontecer nada. Seja minério de ferro, cobre, níquel, lítio. Mas isso já é fato”, afirmou.

No Brasil, um dos entraves é o preço da energia, que precisa se tornar mais competitivo para o setor empresarial. Bartolomeo disse que o preço do gás natural é pouco competitivo, ou seja, muito elevado no Brasil em comparação com países como Arábia Saudita e Omã. “Tem que haver uma substituição, uma transição do gás natural para o hidrogênio. Tenho certeza que o Brasil vai ser a maior potência de energia limpa do mundo”, disse o presidente da Vale.

A Vale consome 500 milhões de litros de diesel nas ferrovias e outros 500 milhões de litros são utilizados nos caminhões. O objetivo da mineradora é substituir esse volume por hidrogênio e etanol. Em termos de energia limpa, disse Bartolomeo, o Brasil “está andando bem em todos os lados. A bola está na marca do pênalti. Cabe à gente, como sociedade, se organizar, criar condições para o hidrogênio alavancar, aproveitar o gás natural, ou seja, está na nossa mão (ampliar as fontes de energia limpa)”, disse.

Para Ana Cabral, da Sigma, a energia limpa é a única possibilidade de o Brasil elevar a qualidade de vida do povo, eliminar a miséria do país, é algo único. “Fazemos tudo (a produção) verde. Ninguém faz isso ‘verde’. É um conceito de produção cujo momento chegou”. Para a executiva, a mineração do Brasil precisa mudar o foco de seu planejamento. “O grande ponto é que o ‘tempo regulatório’ tem que ‘sair do tempo geológico’. Antes, o cliente era a indústria de base, mais letárgica, mais lenta. Temos que ir para o ‘tempo tecnológico’, porque o nosso cliente é a indústria de tecnologia. Quem fabrica baterias de carros são essas indústrias. Elas evoluem, inovam, usam novos materiais de modo muito rápido e temos que nos adequar a essas mudanças”, disse. 

Jamile Cruz abordou o caráter sustentável e responsável da moderna mineração. “Agora, o sentimento é muito real, de necessidade de mudança, de necessidade de renovação, de necessidade de fazer algo diferente. A Rio Tinto tem novo propósito de criar novas formas, de prover materiais que o mundo precisa e estamos exatamente nesta pegada de repensar os modos como a gente opera através da inovação, da inclusão, de um pensamento renovado de como a gente lida com as comunidades, um processo de olhar para dentro, olhar para fora, e entender a nossa participação na sociedade, que é muito além de ser gerador de emprego, muito além de ser produtor de minério de ferro, de alumínio”.

Já Rohitesh Dhawan, do ICMM, disse que a mineração precisa estabelecer uma relação com a sociedade e priorizar os interesses das pessoas em primeiro lugar. “A mineração no Brasil apresenta vantagens ao ter abundância de minérios estratégicos para a transição energética; exerce a atividade com sustentabilidade e tem energia verde à disposição; e mantém relações diplomáticas e comerciais com todo o mundo, o que favorece a evolução de sua economia”.

Por último, Ana Paula, do MME, abordou desafios do setor mineral relacionados ao licenciamento ambiental e ao financiamento dos projetos do setor. “O MME atua junto ao Senado Federal para que a mineração seja inserida no projeto de lei sobre o novo licenciamento ambiental. E o ministério também avalia novos mecanismos de financiamento para a mineração”.

 
Fonte: Brasil 61
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 30/08/2023