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A silenciosa “revolução industrial” em curso no Brasil

 

Por Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Sem muito alarde, a economia brasileira vem se reindustrializando. Está recomeçando lá de baixo, pelas cadeias menos complexas, com destaque para o setor de alimentação, que já responde por quase 40% das exportações brasileiras de produtos industrializados.

Examinando os últimos números do comércio exterior do Brasil, descubro que eles revelam uma “revolução silenciosa” da indústria nacional. A expressão está entre aspas, porque se trata naturalmente de uma figura de linguagem, um exagero inocente, já que os produtos industrializados em questão ainda são muito simples. E se uma tonelada de açucar refinado, carne congelada ou barras de ferro é bem mais barata do que o mesmo peso em semicondutores, esses produtos tem a vantagem de ter um mercado, sob vários aspectos, infinitamente mais estável. A começar, estão sempre livre das malditas “sanções” do  Norte Global e não competem com as poderosas fábricas chinesas automatizadas por inteligência artificial.

O fato é que as exportações brasileiras de produtos manufaturados vem experimentando, há vários anos, um crescimento contínuo, vigoroso, e registraram um importante salto a partir de 2021.



Nos últimos 12 meses (até abril), as exportações de produtos brasileiros industrializados totalizaram US$ 179 bilhões, ou que corresponderia, ao câmbio de hoje (que está R$ 5,15), a R$ 921,5 bilhões, um crescimento de 305% desde 1998!

 

 

A indústria de alimentação reúne os manufaturados brasileiros mais bem sucedidos lá fora, e só ela foi responsável por gerar US$ 65,7 bilhões nos últimos 12 meses, um aumento de 57% em 10 anos e de 269% em 15 anos!

 

Mas outras categorias também tiveram bom desempenho. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o Brasil exportou US$ 11,5 bilhões em máquinas e equipamentos, um crescimento de 81% em 15 anos.

O item “equipamentos de engenharia civil”, para dar outro exemplo, registrou a exportação equivalente a US$ 3,48 bilhões nos últimos 12 meses, um crescimento de 406% em 20 anos!

 

Individualmente, os itens industriais mais vendidos pelo país, com geração acima de US$ 5 bilhões em 12 meses, são todos derivados do agronegócio. O que faz sentido, pois é o agronegócio que reúne a maior quantidade de capital e poupança. Nada mais natural que tenha um papel estratégico e determinante no processo de industrialização do país.

Em primeiro lugar vem o açúcar refinado, cuja exportação gerou incríveis US$ 18,7 bilhões nos últimos 12 meses, um crescimento de 73% em 10 anos e de quase 700% em 20 anos!

 

Em segundo lugar, vem ração animal (farelos e farinhas de soja e de carne), cuja exportação totalizou US$ 12,2 bilhões no acumulado de 12 meses até abril último, um crescimento de 316% em 20 anos.

Depois temos derivados de petróleo, que também começam a fazer a diferença na balança comercial. O Brasil exportou US$ 12,15 bilhões em derivados nos últimos 12 meses, aumento de 723% em 20 anos!

Os lugares seguintes no ranking dos principais produtos brasileiros exportados foram ocupados por carnes, celulose, produtos de ferro, equipamentos de engenharia, elementos químicos e máquinas agrícolas.

 

A transformação econômica vivida pelo Brasil desde o final dos anos 90 foi espantosa. No geral, as exportações brasileiras avançaram 538% de 1998 a 2024!

A participação relativa do agronegócio e da mineração, na economia, foi puxada para cima pelo avanço absolutamente sensacional desses dois setores. As exportações agropecuárias subiram 1.342% nesse período, e as da indústria extrativa, 2.329%! Mas as exportações da indústria de transformação também cresceram muito de 1998 a 2024.

 

Uma vantagem notória do universo de produtos industrializados é a maior diversidade dos mercados compradores. Enquanto os produtos agropecuários “in natura” concentram-se em poucos destinos, sobretudo China, os industrializados, incluindo alimentos, vão para o mundo inteiro, de maneira bem mais equilibrada. A China compra apenas 9% dos produtos industrializados brasileiros, por exemplo, contra 17% dos EUA e 6% da Argentina.

 

 
Fonte: O Cafezinho
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 10/05/2024

 

Enchente no RS coloca em xeque alta de 2% no PIB brasileiro

Os impactos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul, Estado com o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, para a economia nacional podem variar, em estimativas preliminares, de 0,2 a 0,3 ponto percentual (p.p) e impedir que, apesar da atividade geral resiliente, o ano de 2024 feche com um PIB agregado muito acima de 2%.

A XP Asset já revisou sua projeção para o PIB do Brasil neste ano de 2,4% para 2,1%. Se antes a expectativa era de crescimento de 0,7% no segundo trimestre, sobre o primeiro, agora a gestora espera queda de 0,2%. “E a impressão que eu tenho, hoje, é que o impacto pode ser ainda mais negativo do que nossas contas sugerem”, diz o economista-chefe, Fernando Genta.

Isso porque sua estimativa leva em consideração mais o efeito direto das enchentes na economia gaúcha e menos seus “transbordamentos”, explica Genta. Por exemplo: tendo em vista que o ajuste anual do salário mínimo já foi dado, a alta nos preços de alimentos, por problemas com as safras no RS, pode levar a uma corrosão do poder de compra das famílias e, portanto, afetar o consumo no PIB.

Em um primeiro exercício, Fernando Fenolio, economista-chefe da Wealth High Governance, estima que o impacto negativo pode variar de 0,02 ponto percentual no PIB nacional, se houver recuperação total da capacidade industrial gaúcha e 25% de perda da colheita local remanescente, a 0,34 ponto percentual, se a perda da colheita que resta for integral e a recuperação da indústria não passar 25%.

Um impacto de 0,22 ponto percentual, causado por uma perda total da colheita remanescente, mas 75% de recuperação da capacidade industrial, parece um cenário mais provável no momento, segundo Fenolio. “Vamos revisar o PIB. Temos 2% neste ano, matematicamente, iria para 1,8%”, diz. A inflação, por sua vez, iria de 3,8% para 4%. “É um choque de oferta clássico, menos PIB e mais inflação.”

Nos cálculos preliminares da 4intelligence, o desastre pode fazer o crescimento do PIB gaúcho chegar a apenas 0,5% este ano, de 5,5% projetados anteriormente. Considerando que o Estado representa cerca de 6,5% da economia nacional, a estimativa é que as enchentes reduzam em 0,2 ponto percentual a expansão do PIB do Brasil em 2024. Assim, a projeção oficial da 4i de alta de 1,9% do PIB do Brasil este ano pode ir a 1,7%.

“O principal impacto na atividade se dará em maio. Em junho, acreditamos que grande parte das atividades estará normalizada, a depender dos danos físicos e do ritmo de reconstrução”, diz, em relatório, o Bradesco, que também vê impacto potencial da tragédia de 0,2 a 0,3 p.p. sobre o PIB brasileiro.

Por outro caminho, a G5 Partners tem conta semelhante, de perda de 0,3 p.p. “Como nunca houve desastre natural da magnitude do que aconteceu no Rio Grande do Sul, buscamos referência de impactos semelhantes em outros locais e usamos como base os efeitos dos furacões Katrina e Rita nos EUA em 2005”, diz o economista-chefe, Luis Otávio Leal.

A partir de um estudo do Departamento de Comércio dos EUA, que mensurou trimestralmente o impacto desses furacões no PIB americano, e adaptando os parâmetros às métricas no Brasil, Leal calculou que as enchentes devem tirar 10,5 pontos percentuais da variação do PIB gaúcho no segundo trimestre de 2024, em relação ao primeiro. Com isso, sua projeção para crescimento do PIB nacional em 2024 cairia de 2,1% para 1,8%.

A G5 não mexeu na estimativa, mas, antes das enchentes no Estado, a expectativa era elevar a previsão de PIB nacional para o ano, após a divulgação dos dados oficiais do primeiro trimestre.

“Creio que a comparação com o efeito dos furacões Katrina e Rita não é descabida, porque houve destruição similar de ativos. A estimativa, porém, não alcança outras variáveis, como a capacidade de reação americana em comparação com a brasileira”, diz Leal, observando que os EUA já têm toda uma organização estruturada para desastres do tipo.

Na avaliação do Banco Pine, a projeção para o crescimento do PIB do Brasil em 2024, de 2,3%, pode ser revista para 2,1%, em um exercício inicial.

“O impacto tende a ser mitigado para o PIB nacional. Regionalmente, é muito mais e, pensando em trilhões de reais, tem uma perda de riqueza. Mas fico ainda mais preocupado com o agronegócio”, diz o economista-chefe do banco, Cristiano Oliveira. Ele nota que, se o Estado tem peso de 6,5% no PIB nacional, no PIB agro a participação é quase o dobro, ao redor de 12,5%.

Olhando apenas para o Estado, a 4i estima que o setor mais afetado será a agricultura, podendo crescer, apenas no segundo trimestre, em torno de 25% a menos que o esperado. “Sozinho, o PIB do agro gaúcho deveria crescer 18,9% em 2024, se recuperando de uma quebra gigante de safra em 2022 que não foi inteiramente reposta em 2023. Essa alta, agora, pode ficar em apenas 1,9%”, diz o economista-chefe, Bruno Lavieri.

"Impacto pode ser ainda mais negativo do que nossas contas sugerem”
— Fernando Genta

Supondo que metade do que ainda esteja nos campos gaúchos tenha sido perdida, 7,5% da produção de arroz no Brasil e 2,2% da soja podem estar comprometidos, calcula o Bradesco, ponderando que essas ainda “parecem ser estimativas conservadoras”.

Considerando isso e também eventuais impactos no plantio do trigo, que apenas começou, e nos abates de frangos e, principalmente, de suínos, o Bradesco estima que a queda do PIB agro brasileiro em 2024 poderia se aprofundar dos esperados 3% para 3,5%.

“E tem toda a infraestrutura com a qual o agronegócio trabalha, dos silos de armazenagem, estradas, transmissão de energia. Tudo isso deve ficar comprometido por algum tempo”, diz Oliveira, do Pine. Por isso, para ele, o efeito da tragédia gaúcha no PIB tende a ser mais “duradouro e preocupante” do que, por exemplo, na inflação.

Nos serviços, os transportes devem sofrer por mais tempo diante das interdições nas rodovias, enquanto os serviços prestados às famílias podem ver atividades relacionadas a lazer, hotelaria e serviços pessoais mais impactadas, aponta o Bradesco. A projeção da 4i para os serviços no Estado passou de alta de 1,9% para queda de 3,1% no ano, com prejuízos concentrados no segundo trimestre.

A indústria pode sofrer menos: a estimativa para 2024 foi de 1,8% para 1%. “A extrativa quase não tem peso no Estado, ao passo que a manufatura, que é importante pela produção de veículos e máquinas, deve ter impacto pontual e se recuperar adiante, já que a demanda ficou apenas represada. Além disso, devemos ver algum impulso da construção, dado que os estragos das enchentes devem impulsionar obras”, diz Lavieri.

Para 2025, a 4i elevou a previsão de PIB gaúcho de 2% para 6,1%. “Nós mantivemos a projeção para o nível dos serviços e da indústria. Crescem um pouco menos em 2024, mas se recuperam no ano seguinte. Já a agricultura deverá continuar abaixo do inicialmente esperado”, afirma Lavieri.

“É muito provável que o agronegócio da região sinta as consequências do evento atual por muito meses ainda, colocando em dúvida, inclusive, o sucesso da próxima safra”, afirma Oliveira. Ele lembra que, a partir de julho, o La Niña, que tende a deixar o clima seco no RS, deve voltar. Embora isso possa parecer bom diante das tragédias causadas pelo excesso de chuvas, para as culturas da região é prejudicial. “Infelizmente, eventos climáticos extremos tendem a atingir bastante o Estado, até pela sua localização”, diz.

 
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 10/05/2024

 

Preços do Aço: Estabilidade e perspectivas incertas no mercado doméstico

Os preços do aço no mercado doméstico mantiveram-se praticamente estáveis este ano, com ligeira queda no mercado interno. Fontes consultadas pela Platts expressaram uma visão mais cautelosa em relação à evolução dos preços nas próximas semanas, citando uma demanda estagnada e a contínua chegada de aço importado ao país como fatores influentes.

As opiniões entre os participantes do mercado divergem quanto à dinâmica dos preços nos próximos meses. Enquanto alguns analistas indicam negociações em andamento para potenciais tratativas de aumentos de preços no curto prazo, especialmente por parte da Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3), outros destacam a baixa probabilidade de absorção desses aumentos devido à demanda enfraquecida.

Para Rafael Barcellos do Bradesco BBI e Renato Chanes da Ágora Investimentos, a estabilidade dos preços do aço no mercado doméstico reflete uma perspectiva mais cética por parte dos participantes do mercado, especialmente no segmento de aços longos. No entanto, análises recentes indicam que as condições de demanda no país permanecem relativamente saudáveis, o que pode contrabalançar a pressão de preços.

Além disso, o recente anúncio de um sistema de cotas para importações de aço pode causar um leve abrandamento no ritmo das importações. Com base em modelos de paridade, os preços domésticos dos aços planos mantêm um ágio de 18% em relação às importações, enquanto os aços longos apresentam um ágio de 4%.

Assim, os investidores atentos ao mercado de aço podem considerar ajustes estratégicos em suas carteiras de investimentos, aproveitando a estabilidade atual dos preços e monitorando de perto os desenvolvimentos no mercado doméstico e internacional. A cautela em relação às perspectivas incertas pode oferecer oportunidades para posições estratégicas que se alinhem com as dinâmicas do mercado de aço no Brasil.

 
Fonte: Acionista
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 10/05/2024

 

No RS, infraestrutura, combustível, energia e telefonia não têm previsão de restabelecimento

As fortes enchentes no Rio Grande do Sul (RS) afetam em cheio o abastecimento de combustíveis, serviços de telecomunicações e energia elétrica. Apesar da mobilização conjunta entre empresas e governos, não há previsão para o reestabelecimento dos serviços.

Entre os postos de combustíveis, o cenário é de falta de produto e racionamento em diversos locais. Para João Dal'Aqua, vice-presidente da Fecombustíveis e presidente do Sulpetro, que reúne as empresas do RS, não há previsão de quando a situação será normalizada.

— A dificuldade de logística afeta todo o estado. A Petrobras produz e entrega para as bases de distribuição. Mas há bases debaixo de água e unidades que não têm funcionários para trabalhar porque eles não conseguem chegar. Estamos longe de saber quando o abastecimento vai voltar ao normal. A previsão é de mais chuvas. Em 1941, foram mais de 15 dias para baixar a água. Há uma preocupação com a Região Sul do estado porque há alagamentos ocorrendo lá.

Dal'Aqua lembra que há postos interditados e outros com falta de combustível e baixos estoques:

— Temos uma campanha para priorizar veículos oficiais. A orientação é que os postos tenham estoque mínimo para isso. Para a venda ao consumidor final, a gente sugere uma limitação. Mas isso é uma orientação — diz Dal'Aqua.

Segundo Ernesto Pousada, CEO da Vibra, a companhia está empenhada em manter as suas atividades na Região Sul para garantir o abastecimento e fornecimento de combustíveis. Embora suas bases de distribuição estejam operacionais, há dificuldades logísticas para abastecer o mercado local, devido à inundação, fechamento de rodovias e circulação da frota.

— Nossos colaboradores da Banoas (a base em Canoas) estavam desde a última quinta-feira com dedicação exclusiva, sem sair da base. Sem eles não haveria combustível para as operações de resgate. Hoje (ontem) um time de voluntários de outras bases chegou para assumir a operação. É um processo árduo, o nosso parque de bombas ficou submerso durante algumas horas — disse ele, lembrando que a companhia está doando combustível para suportar as operações de resgates no Rio Grande do Sul.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) disse que “foi identificada ausência de produtos” por causa da falta de acesso. A ANP autorizou a redução das misturas de etanol anidro na gasolina de 27% para 21%; e de 14% para 2% do biodiesel no diesel. A agência explicou que o etanol e o biodiesel chegam ao estado por via rodoviária ou ferroviária.

Telebras cede antenas

No segmento de telefonia, a situação também é caótica. Segundo dados do Ministério das Comunicações, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e operadoras, cinco cidades no estado estão completamente sem serviços de telecomunicações: Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Pouso Novo e Progresso. Fontes do setor afirmam que ainda não há previsão para que o sistema seja totalmente restabelecido no estado.

CHUVAS NO RIO GRANDE DO SUL:

- O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou estado de calamidade pública devido aos municípios impactados pelo temporal no estado.
- Número de mortos em tragédia no RS chega a 95 uma semana após confirmação da primeira vítima
- Os temporais, que começaram em 27 de abril, ganharam força no dia 29 e já afetaram mais de 1,3 milhão de pessoas em território gaúcho, de acordo com o último boletim da Defesa Civil.
- Eduardo Leite fez um alerta na noite deste domingo (5) contra golpistas que aproveitam o momento da tragédia causada pela chuva no estado para tentar ganhar dinheiro.

Segundo fontes do setor, embora algumas localidades já tenham rede, ela ainda é limitada. Para isso, foram disponibilizadas 34 antenas de emergência da Telebras. As operadoras Oi, Algar, Vivo, Claro e TIM, por sua vez, habilitaram suas redes de forma que, onde há apenas uma das redes disponíveis, automaticamente os clientes de qualquer operadora possam acessar a infraestrutura disponível.

A TIM, por exemplo, criou dois grupos de trabalho para lidar com a situação de crise, disse Alberto Griselli, CEO da operadora:

— As equipes estão em campo para garantir a recuperação da infraestrutura e a continuidade dos serviços na região, em condições extremas de inacessibilidade e cortes de energia.

No setor elétrico, a RGE, da CPFL, diz que as chuvas afetaram 381 municípios de sua área de concessão. Como resultado, 212 mil clientes estão sem energia nesse momento. “A maioria está em áreas alagadas ou em locais com impedimento de acesso das equipes”, disse.

A concessionária lembra que, mesmo com bloqueios e alagamentos, que não permitem acesso às redes elétricas para atendimento às ocorrências, as equipes da RGE “seguem mobilizadas para restabelecer o fornecimento de energia no menor prazo possível, respeitando as condições técnicas e de segurança”.

Fonte: O Globo
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 09/05/2024

 

Agro já sente os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul enfrenta a pior tragédia climática de sua história, uma das maiores do país. As enchentes resultantes das fortes chuvas já causaram a morte de 100 pessoas e o desaparecimento de 128. O desastre atingiu 417 municípios, deixando um total de 163.720 cidadãos desalojados, de acordo com boletim mais recente da Defesa Civil estadual.

Segundo um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos totalizam R$ 423,8 milhões na agricultura, tornando este setor o mais afetado, seguido pela pecuária, com perdas de R$ 83 milhões, e pela indústria, que registrou prejuízos de R$ 57,3 milhões. Vale destacar que esses números representam apenas 25 municípios que conseguiram fornecer informações ao sistema do Ministério da Integração.

A CNM alerta que esses valores podem aumentar à medida que as águas recuam e os administradores locais conseguem avaliar os danos com maior precisão. Enquanto os esforços continuam concentrados em preservar vidas e mitigar os impactos imediatos das enchentes, a expectativa é de que os prejuízos totais superem as atuais projeções.

Prejuízos no campo

Além das irreparáveis perdas humanas e materiais nas cidades, no campo, o setor agropecuário está sendo impactado negativamente nas lavouras, na armazenagem e na logística, conforme explica o consultor Raphael Galo, da Mesa Agro da Terra Investimentos.

“Nas lavouras, o impacto das enchentes traz consigo a perda parcial da safra ainda não colhida, possíveis propagações de doenças e incertezas sobre a próxima safra. Na armazenagem, a qualidade do grão pode ser comprometida pelo aumento da umidade. Já na logística, enfrentamos dificuldades no escoamento da produção, transporte de insumos, abastecimento do mercado local e exportação”.

De imediato, devido à redução na oferta de commodities, é esperado um aumento nos preços. “Para compreender os efeitos no longo prazo, será necessário realizar um estudo mais detalhado dos impactos, a fim de avaliar os investimentos mínimos necessários para retomar o patamar produtivo”, avalia Galo.

O Rio Grande do Sul é um estado de grande importância na produção nacional e mundial de commodities, sendo o principal estado na produção de arroz, o segundo maior em produção de soja, além de ter grande relevância na produção de milho, trigo, entre outros.

“As cotações das commodities tiveram uma forte alta nas bolsas de Chicago (CBOT) e do Brasil (B?3;) após o episódio, antecipando o impacto negativo na oferta do estado. Desde o início de maio, os preços na bolsa subiram aproximadamente [até 07/05]: soja (+7,6%), milho (+3,4%) e trigo (+7,45%). Essa elevação nos preços deve impactar a inflação no curto prazo.”

Em relação aos investimentos, os setores que provavelmente serão mais afetados pelos impactos adversos da tragédia são aqueles cujas empresas desempenham operações significativas no estado, tais como bancos, seguradoras, cooperativas, revendedoras, indústrias e logística, entre outros.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima, afirmou que a situação já está causando impactos negativos em toda a cadeia logística. “Temos problemas de toda ordem. Há questões nas estradas e, como consequência, dificuldades na distribuição de peças, por exemplo, além de operações paralisadas. Alguns fabricantes estão com suas operações suspensas, o que acaba gerando um problema na cadeia. Nossa logística é integrada e atualmente estamos enfrentando problemas nas estradas, nos aeroportos e no acesso às fábricas. Portanto, já estamos sentindo um grande impacto”, disse em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 8.

A expectativa, segundo ele, é que a situação possa retornar ao que ele descreve como “quase normalidade” nas operações apenas em um prazo de sete a dez dias.

Impactos na pecuária

As fortes chuvas causaram estragos no setor pecuário da região, afetando milhares de bovinos, suínos e aves. Mesmo em regiões menos afetadas pelas chuvas, milhares de animais enfrentam agora o risco iminente de falta de alimentos e outros problemas decorrentes dos bloqueios nas rodovias, danos à infraestrutura, interrupções no abastecimento de água, falta de funcionários e paralisação das atividades de abate. 

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estimou, em nota, que pelo menos dez unidades produtoras de carne de aves e de suínos estão paralisadas ou com dificuldades extremas de operar pela impossibilidade de processar insumos ou de transportar colaboradores. 

O estado produz 11% da produção de carne de frango e 19,8% da produção de suínos nacional, que são direcionados para consumo nas gôndolas do próprio estado e para a exportação.

“Agropecuária vai ter todo o apoio”

Nesta terça-feira (7), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de uma reunião com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e sindicatos rurais do estado para discutir a adoção de medidas de reconstrução da agropecuária gaúcha.

“A agropecuária vai ter todo o apoio. O Brasil reconhece a importância do Rio Grande do Sul. A preservação do produtor vai ser feita”, ressaltou o ministro.

O economista da Farsul, Antonio da Luz, apresentou um panorama dos impactos no estado, que afetaram todos os setores. Algumas fazendas foram completamente destruídas e, conforme ele observou, apesar da maior parte da safra de arroz já ter sido colhida, os silos que armazenam a produção também foram atingidos pelas enchentes.

“Se não preservarmos o que gera empregos, não conseguiremos salvar nenhum emprego. Para proteger as famílias, precisamos proteger a produção”, afirmou o economista.

De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, o estado possui quantidade suficiente do produto. Ele detalhou ainda que a diretoria da federação está se reunindo diariamente para avaliar os impactos no setor.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul responde por 68% da produção de arroz do país.

Medidas emergenciais

Em reunião ministerial, Fávaro afirmou que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) enviou uma proposta para o Conselho Monetário Nacional (CMN) para a suspensão dos pagamentos das dívidas dos produtores rurais do Rio Grande do Sul por 90 dias, com a possibilidade de prorrogação.

“Foi pedido ao Conselho Monetário Nacional a prorrogação imediata, por 90 dias, de todos os débitos do setor, quer seja custeios ou investimentos, visto que o setor já vinha com problemas de secas nos últimos três anos. Já tinham medidas sendo tomadas, mas agora se agravou com as chuvas”, explicou o ministro. “Depois começa, então, as medidas de reconstrução, investimentos e custeios do setor dos municípios afetados”, completou.

O ministro Fávaro informou ainda que o Governo Federal está preparando uma Medida Provisória (MP) que visa liberar a importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 09/05/2024

 

Por que o petróleo brasileiro está bem posicionado no mercado

O petróleo brasileiro está bem posicionado para enfrentar os efeitos globais da transição energética, avalia Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP).

“A perspectiva é de crescimento dos investimentos no país, em função do aumento da produção de petróleo de baixo teor de carbono. Nosso petróleo é altamente competitivo em termos de preço e emissão de gases de efeito estufa”, disse Ardenghy à BNamericas durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston.

“Quando se olha o processo de transição energética, nota-se que os petróleos que emitem menos gases sobreviverão por mais tempo”, acrescentou.

O IBP representa os principais produtores de petróleo e gás, refinarias e varejistas de combustíveis do Brasil.

De acordo com a Petrobras, o petróleo do pré-sal, que representa quase 80% da produção nacional, tem emissão de CO? equivalente por barril de até 70% menor do que a média mundial.

O presidente do IBP estima que o Brasil demandará cerca de US$ 30 bilhões por ano para desenvolver descobertas já conhecidas até 2032.

Considerando-se os segmentos de mid e downstream, o capex anual pode chegar a US$ 60 bilhões.

As cifras podem ser ainda maiores se o país avançar com a exploração de novas fronteiras, como a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas.

Ardenghy alertou que o país corre o risco de ter de importar petróleo novamente se não fizer novas grandes descobertas até 2032.

Ele ressaltou a importância da commodity, cujas exportações somam, em média, 1,5 MMb/d (milhões de barris por dia), para a economia brasileira.

“Nos primeiros três meses de 2024, o petróleo foi o principal item de exportação na balança comercial brasileira, superando o agronegócio. Ou seja, é um produto importantíssimo até para a saúde das contas externas do país”, destacou.

REFINO

Ardenghy considera positiva a retomada dos investimentos da Petrobras na expansão do refino, assim como o desenvolvimento de projetos privados na área.

“O Brasil não pode ficar extremamente dependente de combustíveis importados. Há momentos, no ano, em que chegamos a importar cerca de 30% do diesel e 18% da gasolina consumidos. São parcelas muito altas”, disse.

Ele destacou que, hoje, há uma tendência, na iniciativa privada, de desenvolvimento de refinarias modulares.

“São plantas pequenas, com capacidade de processamento entre 20.000b/d e 40.000b/d de petróleo para atender a certos mercados de nicho, como QAV ou mesmo diesel”, explicou Ardenghy.


Fonte: BN Americas
Seção: Energia, Hidrogênio, Óleo & Gás
Publicação: 09/05/2024