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China faz 1ª mudança na política fiscal desde 2011 e deve mexer com investimentos no país; saiba mais

O Politburo, principal órgão político da China, se comprometeu a implementar uma política fiscal ” mais proativa” e uma postura monetária “moderadamente frouxa” no ano que vem, segundo comunicado sobre uma reunião do grupo nesta segunda-feira (9).

O comitê, que reúne as 24 autoridades mais poderosas do país asiático sob a liderança do presidente Xi Jinping, sinalizou ainda a intenção de impulsionar o consumo “vigorosamente”, melhorar a eficiência dos investimentos e expandir a demanda doméstica “em todas as direções”.

Ainda de acordo com a nota, publicada pela agência oficial Xinhua, Pequim também pretende adotar medidas para estabilizar o setor imobiliário e o mercado acionário. Os líderes do gigante asiático citam ainda a contínua abertura para o mercado externo, além da estabilização do comércio e do investimento estrangeiro.

O novo guidance (projeção) para a política monetária da China representa a primeira grande mudança desde 2011, conforme relato da Bloomberg.

 
Fonte: E-Investidor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 10/12/2024

 

Indústria do aço projeta investir R$ 100 bi até 2028 – a despeito do consumo estagnado

Com a expectativa de aumento das vendas no mercado interno, reflexo da medida do governo para conter as importações e retomada da construção imobiliária e das obras de infraestrutura, a indústria siderúrgica instalada no Brasil prevê investimentos da ordem de R$ 100,2 bilhões até 2028, segundo a entidade Instituto Aço Brasil. Uma das maiores empresas do setor, a ArcelorMittal responde por um quarto dessa previsão. Gerdau revela que irá aplicar R$ 6 bilhões em expansão até 2026.

A indústria brasileira de aço é a nona produtora do mundo, produzindo cerca de 32 milhões de toneladas por ano e com a geração de 122 mil empregos em suas 31 usinas espalhadas pelo Brasil, sendo 15 integradas e 16 semi-integradas, administradas por 11 grupos empresariais. O faturamento líquido do setor atingiu, em 2023, R$ 173,3 bilhões.

 

Mas os executivos do setor acreditam que a produção brasileira poderia ser bem maior, uma vez que a capacidade instalada da indústria é de 51 milhões de toneladas por ano. Dois fatores não permitem que a produção deslanche, segundo eles: o consumo per capita brasileiro, que está há alguns anos estagnado em 110 kg/habitante/ano, menos da metade do consumo mundial (230 kg/habitante/ano) e muito abaixo do chinês (630 kg/hab/ano), reflexo do baixo crescimento da economia na década recente;  e a ‘invasão’ do aço importado no mercado brasileiro, especialmente oriundo da China, maior produtor mundial.

O consumo per capita está diretamente relacionado ao crescimento do País. Com a retomada da economia e o aumento da demanda da construção civil, esse consumo deverá melhorar. Mas uma expansão sólida da siderurgia depende da articulação de programas de desenvolvimento de médio prazo—algo raro de se ouvir falar nas gestões federais recentes.  Durante a 34ª edição do Congresso Aço Brasil, realizado no início de agosto em São Paulo, os CEOs das maiores empresas do setor comentaram sobre as perspectivas do setor.

Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil, destacou no evento que há uma perspectiva de melhora na demanda da construção civil, que deve crescer até 2,5% no segundo semestre, além da retomada das obras de infraestrutura. Ele lembrou que há cerca de 16 mil obras paradas pela metade no Brasil. “Este ano não vai ser brilhante, mas será melhor do que 2023”, afirmou. Já com relação a 2025, ele acredita que o consumo aparente deve crescer 2%, bem como o PIB. “Vamos andar de lado, será mais ou menos como em 2024”, concluiu.

Em relação à concorrência com o produto chinês, classificada de predatória pelos fabricantes de aço brasileiros, o setor obteve uma medida do governo que estipula cotas de importação de produtos siderúrgicos. O sistema prevê uma tarifa de 25% sobre o volume excedente ao longo de um ano, iniciado em junho deste ano. “É um sistema novo, acreditamos que iremos moralizar as importações. A farra do boi de 2023, com aço entrando sem qualquer controle e a preços predatórios acabou”, salientou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. A medida já mostrou efeito prático: as importações recuaram 23% nos meses de maio e junho em relação ao mesmo período do ano passado.

Empresas confirmam investimentos

O presidente da ArcelorMittal confirmou durante o congresso o investimento anunciado de R$ 25 bilhões, voltado para ampliações de suas plantas, atualização tecnológica e parceria para energia renovável. Segundo a empresa, os aportes aumentarão sua participação de mercado por meio do crescimento de capacidade e produção de novos aços de alto valor agregado para consumo interno e exportação.

Um dos aportes em andamento, de R$ 4,2 bilhões, é a construção do parque eólico Babilônia Centro, em parceria com a Casa dos Ventos, em Várzea Nova, na Bahia. O complexo terá capacidade de produção de 553 MW para suprir com energia limpa aproximadamente 40% do consumo das unidades da ArcelorMittal no País. A meta da empresa é ser carbono neutro até 2050, sendo que até 2030 pretende reduzir suas emissões em 25%. Para isso, atua para abastecer todas as unidades com 100% de energia limpa – 2023 fechou com 61% de autogeração e 39% de compra de energia elétrica de matriz de geração limpa.

A aquisição da Unidade do Pecém, no Ceará, que consumiu R$ 11,2 bilhões do plano, foi concluída em março do ano passado e se mostrou estratégica, segundo a empresa. A produtora de placas alcançou, em 2023, recorde de produção de 3 milhões de toneladas produzidas, integrada logisticamente a um porto competitivo para abastecer outras unidades de produção do grupo no mundo e clientes internos.

Compõe o plano de investimentos a expansão da sinterização, alto-forno e aciaria da Unidade Monlevade, localizada em João Monlevade (MG), que vai aumentar a capacidade de produção anual de 1,2 milhão de toneladas para 2,2 Mt. Serão investidos R$ 4 bilhões nessa fábrica. Já a Unidade Veja, instalada em São Francisco do Sul (SC), receberá aportes de R$ 1,9 bilhão para iniciar uma nova linha combinada de produção de aços laminados a frio e revestidos. A produção saltará de 1,6Mt para 2,2Mt.

Será aplicado R$ 1,3 bilhão na fábrica de Barra Mansa (RJ), que terá alta de  500 mil toneladas na capacidade anual de produção e ampliação do portfólio, com produtos voltados para os mercados automotivo, construção civil e de energia. Nesse segmento, a empresa investirá também R$ 144 milhões na planta de Sabará (MG), para aumentar em 35% a produção de trefilados, adaptando a fábrica para produtos de alto valor agregado para a indústria automotiva.

Na Mina de Serra Azul, localizada em Itatiaiuçu (MG), a ArcelorMittal investirá R$ 2 bilhões em uma nova planta de pellet feed, aumentando a capacidade produtiva de 1,6Mt para 4,5Mt. Já a Mina do Andrade, que fornece minério para a fábrica Monlevade, terá sua produção expandida de 1,5Mt para 3,5Mt.

De acordo com Jefferson de Paula, o programa de investimentos montado pela empresa indica que o País é estratégico para o Grupo ArcelorMittal. “O Brasil tem recursos naturais abundantes, 215 milhões de habitantes, um potencial muito grande. É por isso que o grupo acredita nas operações brasileiras, uma das de melhor desempenho no mundo. Estamos em 60 países, dos quais 15 temos fábricas. A operação brasileira é benchmark global”, frisou.

Um dos maiores produtores de aço do mundo, a empresa tem cerca de 127 mil empregados, sendo 20 mil no Brasil. Opera unidades industriais em oito Estados (MG, ES, RJ, SC, CE, BA, SP e MS), além de extensa rede de distribuição pelo País. As plantas brasileiras têm capacidade de produção anual de 15,5 milhões de toneladas de aço bruto e as minas produzem 5,1 milhões de toneladas de minério de ferro.  A companhia atua, ainda, em geração de energia para consumo próprio, produção de biorredutor renovável (carvão vegetal a partir de florestas plantadas de eucalipto) e tecnologia da informação.

 

Mina de Miguel Burnier terá aporte de R$3,2 bi

Já a Gerdau revelou, em nota, que o novo plano de investimentos da companhia está estimado no valor de R$ 6 bilhões, contemplando projetos Capex voltados à manutenção, expansão e atualização tecnológica de suas operações. Do total previsto para este ano, os investimentos que apresentam retornos ambientais superam R$ 790 milhões.

Entre eles, está um aporte de R$ 3,2 bilhões em uma nova plataforma de mineração em Minas Gerais. O montante segue o ciclo de investimentos realizado no Estado nos últimos anos e que vai até 2026, para modernização, atualização tecnológica, aprimoramento de práticas ambientais e ampliação de suas operações locais.

A nova capacidade anual de produção de minério de ferro da empresa na mina de Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto (MG), de 5,5 milhões de toneladas, está prevista para entrar em operação no final de 2025. O projeto permitirá à empresa aumentar a competitividade de suas operações e ampliar futuramente sua produção de aço em Minas Gerais.


China indica mais estímulos econômicos para 2025 – e o Brasil pode ganhar com isso
Chineses dizem que deverão afrouxar política monetária para estimular o consumo e ajudar o setor imobiliário

A China sinalizou nesta segunda-feira (9) que irá avançar em seu pacote de estímulos econômicos a partir do ano que vem, enquanto Pequim se prepara para uma guerra comercial quando Donald Trump assumir o cargo.

O Politburo, órgão que reúne a nata do Partido Comunista Chinês (PCC) e é responsável pelas decisões mais estratégicas do Estado, afirmou que irá indicar ao presidente Xi Jinping uma política monetária “moderadamente flexível” em 2025, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, sinalizando mais cortes nas taxas no futuro e mudando uma estratégia “prudente” mantida por quase 14 anos.

O grupo também prometeu uma política fiscal “mais proativa” em sua reunião mensal, aumentando as expectativas de que Pequim amplie o déficit fiscal. Isso abriria a porta para mais empréstimos do governo central para sustentar a economia vacilante.

A reunião de dezembro do Politburo “enviou o tom de estímulo mais agressivo em uma década”, escreveram economistas do Morgan Stanley, incluindo Robin Xing, em uma nota de pesquisa, acrescentando que “embora o tom seja muito positivo, a implementação permanece incerta”.  

O Politburo também prometeu impulsionar o consumo, estabilizar os mercados imobiliário e de ações e, pela primeira vez, prometeu ajustes políticos anticíclicos “extraordinários” — o Partido Comunista fala em ferramentas mais incomuns para impulsionar a economia. 

Ao indicar maior foco no consumo e estabilização do mercado imobiliário, as medidas poderão gerar um efeito positivo para as commodities brasileiras — minério de ferro, soja e carnes — uma vez que a China é a maior consumidora dos principais itens de exportação do Brasil.

“A formulação desta declaração da reunião do Politburo não tem precedentes”, disse Zhaopeng Xing, estrategista sênior do Australia & New Zealand Banking Group. “O tom da política mostra forte confiança contra as ameaças de Trump”, ele observou, referindo-se à promessa do presidente eleito dos EUA de impor uma tarifa de 60% sobre as exportações chinesas que dizimariam o comércio bilateral. 

Mudança de política

A última vez que a China adotou uma política monetária “moderadamente frouxa” foi na Crise Financeira Global de 2008, como parte de um pacote de estímulo bazuca para sustentar a economia. Isso é algo que Pequim prometeu evitar repetir.

Mas o comunicado do Politburo, no entanto, enviou aos mercados uma mensagem de que Xi está sentindo uma nova urgência em apoiar o crescimento. É um lembrete de que “a visão dos principais líderes sobre as condições econômicas mudou substancialmente em comparação ao último trimestre”, disse Martin Rasmussen, estrategista sênior da empresa de pesquisa macro Exante Data.

Após o crescimento do segundo trimestre ter ficado aquém, as autoridades começaram a implementar estímulos no final de setembro. Economistas esperam amplamente outro corte no compulsório dos bancos até o fim do ano, enquanto um ajuste de taxa de juros tem mais probabilidade de ocorrer no primeiro trimestre de 2025.

Os formuladores de políticas também precisarão encontrar remédios para a mais longa sequência de deflação da China neste século. Esse problema foi exibido mais cedo na segunda-feira em dados mostrando os preços ao produtor caindo em novembro pelo 26º mês consecutivo. Os preços ao consumidor também subiram no ritmo mais lento em cinco meses, pairando em torno de zero. 

A queda dos preços prejudicou o crescimento de 4,8% da economia até agora neste ano, corroendo os lucros corporativos e forçando as empresas a cortar investimentos, bem como salários. Enquanto o Banco Popular da China cortou as taxas de juros e ofereceu mais dinheiro para os bancos várias vezes, as autoridades acharam difícil estimular maiores gastos.

O Politburo prometeu “aumentar o consumo à força” e impulsionar a demanda doméstica “em todos os aspectos”, sem mencionar diretamente a deflação. Isso pode indicar mais rodadas do programa de dinheiro por sucata que é operado como um vale-consumo, encorajando as pessoas a comprar novos eletrônicos com desconto em troca de seus produtos antigos.

Efeito no Brasil

Na onda dos anúncios da China, os contratos futuros do minério de ferro se recuperaram nesta segunda-feira, encerrando uma trajetória de duas sessões de queda. Ao meio-dia, havia quatro mineradoras e siderúrgicas brasileiras entre as maiores altas do Ibovespa: CSN avançava 5,56%; CSN Mineração, 5,34%; Usiminas, 3,68%; e Vale, 3,19%.

O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 1,57%, a 808,5 iuanes (US$ 111,12) a tonelada.

O minério de ferro de referência para janeiro na Bolsa de Cingapura subiu 1,05%, a US$ 104,4 a tonelada.

Os preços do minério de ferro ficaram sustentados acima de US$ 100 por tonelada devido às expectativas de mais anúncios de estímulo da Conferência Central de Trabalho Econômico de Pequim, programada para 11 e 12 de dezembro, disseram os analistas do Westpac.

“As recentes medidas de estímulo chinesas reanimaram a demanda por aço e, portanto, por minério de ferro, já que as vendas de imóveis estão mostrando alguns sinais de melhora”, disseram os analistas do ANZ.

Os estoques do ingrediente de fabricação de aço caíram na semana passada para o nível mais baixo desde agosto, disseram eles.

Fonte: Infomet
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 10/12/2024

Vendas de máquinas para construção devem crescer 9% em 2024 em comparação a 2023

As vendas de máquinas para construção devem crescer 9% em 2024 em comparação a 2023, alcançando 58,2 mil unidades comercializadas neste ano contra 53,5 mil unidades no ano anterior. Na linha amarela, a alta estimada é 14%, alcançado 36,6 mil unidades vendidas neste ano contra quase 32,3 mil unidades comercializadas em 2023. Os dados são do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção.

Os setores mais relevantes para o mercado de máquinas neste ano são a locação, construção pesada e agronegócio. Em termos de vendas, os dois segmentos com maior Market Share – construção (42%) e a locação (23%) – somam 65%. A Sobratema destaca que os dois setores assumiram esse protagonismo em 2021 e que ainda há espaço para crescimento.

Além das vendas, o que espera o mercado de equipamentos

O mercado de equipamentos está otimista para os próximos dois anos, já que, para 57% construtoras, locadoras, empresas de serviços e dealers, o mercado deve continuar crescendo em 2025. O percentual é ainda maior para 2026, chegando a 66%.

Cerca de 90% das construtoras, locadoras e prestadores de serviços apontaram que o volume de negócios até setembro de 2024 está melhor ou igual a 2023. Quase três em cada quatro empresas entrevistadas atingiram as metas planejadas para o ano e 65% dos dealers dizem que o mercado apresentará estabilidade ou pode até crescer no final do ano.

Já entre as preocupações dos empresários para 2024, estão a dificuldade de obter financiamento e os juros altos. Se por um lado, a expectativa do mercado é de que o governo federal faça um ajuste fiscal para diminuir o ritmo da inflação e dar espaço para o Banco Central cortar juros, do outro, os empresários se mostram otimistas com mais obras públicas do Novo PAC.

Outro dado relevante do levantamento é o financiamento utilizado pelas empresas adquirirem suas máquinas: 33% dos entrevistados utilizaram capital próprio, seguido por Finame, com 23% e CDC, com 19%.

Fonte: Meio Filtrante
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 10/12/2024

 

Análise Setorial: Siderurgia e Mineração | Dezembro 2024

De maneira geral, as ações do setor tiveram performance negativa em novembro, refletindo a expectativa de um cenário menos favorável para o setor, bem como a entrega de resultados fracos no 3T24, como é o caso de CMIN3. O destaque positivo foram as ações da Gerdau, cujas perspectivas de curto e médio prazo seguem positivas. 

Mineração

Na China, o PMI Industrial permaneceu ligeiramente acima da linha de 50 pontos, que indica expectativa de expansão da atividade. A produção e do consumo de aço voltaram a se elevar, e as exportações continuaram avançando. Com relação ao minério, as importações ficaram estáveis, enquanto os estoques tiveram leve redução. Os preços de minério de ferro oscilaram em torno dos US$ 100/t durante a maior parte do mês de novembro e têm se sustentado acima deste patamar no início de dezembro.

No Brasil, as exportações de minério voltaram a se elevar, refletindo a recuperação dos preços médios, que compensou a redução no volume dos embarques.

Siderurgia

Em novembro, os preços internacionais de aço continuaram arrefecendo. No Brasil, os preços ao produtor do setor de metalurgia continuou avançando, acompanhando os preços dos metais, enquanto a confiança do empresário do setor perdeu força, pressionada pela piora nas expectativas sobre a economia.

Dados mais recentes da indústria siderúrgica mostram um movimento de recuperação da produção de aço bruto, das vendas internas, do consumo aparente e das exportações brasileiras na comparação mensal. Já as importações tiveram queda em relação ao patamar recorde do mês anterior, mas continuaram elevadas.

Fonte: InvesTalk; relatório BB 
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/12/2024 

Existe mineração sem impacto negativo no meio ambiente?

A mineração é essencial para extrair os recursos naturais não renováveis, como água e substâncias minerais, que precisamos para o desenvolvimento humano, para a vida e permanência no planeta, bem como para os insumos que são utilizados na construção civil, agricultura e indústria de manufatura em geral.

Os minerais estão presentes em todas as áreas da nossa vida, desde a casa onde moramos, nos produtos que consumimos (roupas, celulares, eletrodomésticos), nos alimentos que comemos, nos transportes que utilizamos. Ou seja, praticamente tudo com que temos contato no dia a dia tem origem ou depende direta ou indiretamente da mineração.

Como toda e qualquer atividade extrativa, a mineração interfere no meio ambiente, uma vez que os recursos naturais se encontram no solo e subsolo (litosfera) e a extração é feita através da remoção de camadas de solo e rochas. Os impactos causados podem incluir erosões, poluição de águas, emissões de poeiras, ruídos, vibrações e geração de resíduos.

"Todos esses impactos negativos são conhecidos e dimensionados, é possível minimizá-los com os devidos controles implantados durante e pós as operações da mineração industrial responsável e sustentável, com medidas de mitigação e adoção de soluções avançadas e inovadoras", afirma Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).

Quais são os atuais desafios?

A mineração enfrenta desafios ambientais significativos relacionados às emissões de gases de efeito estufa (como o CO2), emissão de material particulado (como a poeira), o uso de água, de energia, o controle de biodiversidade, controle do desmatamento, controle da contaminação do solo e gerenciamento da estabilidade física e química do terreno. Atualmente, a gestão de resíduos da mineração, como rejeitos e material estéril, é apontada como a questão mais crítica no setor.

Na avaliação do engenheiro de minas Nery, os atuais desafios da mineração se referem à resiliência da própria atividade relacionada aos eventos climáticos extremos. Segundo ele, o setor tem sido mais do que conservador nas previsões climáticas para possibilitar maior segurança e reduzir riscos à vida e à saúde dos trabalhadores e às estruturas. No entanto, a mineração pode sofrer impactos envolvendo o bloqueio de vias, interrompendo a oferta de insumos e causando danos a infraestrutura de plantas, por exemplo.

"Outro grande desafio é o nosso arcabouço de licenciamento ambiental, que é lento, burocrático e complexo, e nem sempre essa complexidade se reflete em ganhos ambientais", afirma o diretor de sustentabilidade do Ibram.

Dados os desafios, é necessário que a indústria mineral mantenha seus esforços para implantar práticas sustentáveis, como a adoção de tecnologias verdes, o reforço da reciclagem de resíduos, e a inserção da mineração na economia circular para controlar a sua pegada ecológica e apoiar o suprimento global de recursos minerais.

É possível reduzir os impactos da mineração no meio ambiente?

Sim, todos os projetos de mineração precisam da aprovação da Agência Nacional de Mineração e dos órgãos ambientais antes de serem implantados. As ações de redução e mitigação dos impactos ambientais estão especificadas em leis e normas do setor, e as empresas de mineração devem operar dentro das exigências apresentadas em suas licenças ambientais.

"Há vários casos de sucesso na redução de impactos ambientais da mineração. Um exemplo são as operações de bauxita na região norte do país que têm sido bem-sucedidas na restauração ambiental após o término das atividades de lavra, com ações de replantio de espécies nativas, gestão de recursos hídricos e de restauração da biodiversidade local", comenta Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e dirigente do NAP.Mineração/USP (Núcleo de Pesquisa para a Pequena Mineração Responsável da USP).

A mineração industrial também pode atuar na proteção e conservação de áreas, possibilitando a preservação de espécies de fauna e flora, ecossistemas, comunidades e culturas.

Um outro exemplo são as criações de parques e outros empreendimentos a partir de áreas que antes eram usadas para mineração. Em São Paulo, o lago do Parque do Ibirapuera e a raia olímpica da USP eram áreas de extração de areia; em Curitiba, a atual Ópera de Arame foi uma pedreira durante décadas; em Minas Gerais, a Mina do Morro Velho que funcionou como mina de ouro durante 170 anos, está sendo preparada pela AngloGold Ashanti para uso futuro, conjugando preservação histórica, ambiental e desenvolvimento econômico.

Qual é o papel da água na mineração?

Em 2020, o total do uso de água por todos os setores no Brasil foi de 1.947,55 m?3;/s, sendo 2% correspondente ao setor da mineração, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Na mineração, a água é utilizada no beneficiamento de minérios (processo de separar e purificar minerais de interesse tornando-os adequados para uso industrial, agrícolas e construção civil), em obras de disposição de rejeitos e tratamento dos efluentes gerados, no controle de poeira em vias de circulação, na lavagem de equipamentos e, em alguns casos, no transporte de minérios, entre outros.

De acordo com o docente Tomi, o grande risco da água utilizada pela mineração é que ela pode conter resíduos dos processos de lavra e de beneficiamento mineral, o que pode ser prejudicial ao meio ambiente e, por isso, necessita de tratamento físico e químico antes de ser retornada à natureza.

"É essencial que as operações de mineração sejam submetidas a processos sustentáveis de tratamento e recuperação da água utilizada, e que a sociedade e o poder público tenham iniciativas de fiscalização e um controle rigoroso", alerta o professor da USP.

Alguns exemplos de inovação na gestão da água na mineração:

- Em projetos de reuso da água durante o beneficiamento mineral, por meio da recirculação da água e de processos de saneamento da água utilizada. As taxas de recirculação de água nos empreendimentos de mineração podem ultrapassar 80%, reduzindo significativamente a captação de água nova;

- No beneficiamento de minérios em circuito fechado para minimizar a necessidade de captação de água nova;

- No saneamento e reuso de água recuperada a partir de barragens de rejeitos;

- Na reutilização de água tratada de efluentes sanitários para atividades simples, como molhar ruas;

- No uso planejado de água retirada do subsolo para devolver à superfície, ajudando a economizá-la e evitando a necessidade de buscar novas fontes;

- Novos processos de beneficiamento de minérios a seco estão sendo desenvolvidos pela indústria mineral para minimizar o uso de água na mineração.

O que é mineração sustentável?

A mineração sustentável é também chamada de mineração do futuro, mas já está sendo colocada em prática. Essa atividade se define por ações que visam mitigar os riscos e dar maior segurança, responsabilidade e sustentabilidade antes, durante e pós-operação.

Com a crescente demanda por minerais críticos e estratégicos para a transição energética, a mineração tem um papel fundamental para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. Ela é tecnológica, integrada às pessoas, ao meio ambiente, e compromissada com as comunidades onde atua, com o país e com o futuro do planeta.

Os principais pilares da mineração sustentável são:

- Relacionamento, comunicação e engajamento aprimorados com os públicos essenciais e com a sociedade;

- Operações cada vez mais seguras, com foco nas pessoas e no meio ambiente;

- Ações fortalecidas em prol da diversidade e equidade na mineração;

- Combate e intolerância à ilegalidade;

- Pleno aproveitamento de minerais para garantir a segurança energética, alimentar e climática;

- Economia circular, com a transformação de resíduos sólidos em matérias-primas para outras cadeias produtivas;

- Modelos mais seguros e sustentáveis de gerenciamento de rejeitos e estéreis.

Fonte: Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), uma organização nacional privada e sem fins lucrativos que representa as empresas e instituições que atuam no setor mineral; Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e dirigente do NAP.Mineração/USP (Núcleo de Pesquisa para a Pequena Mineração Responsável da USP)

Fonte: UOL
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/12/2024

Brasil bate recorde de importação de máquinas. Foco é aumentar investimento

A importação de bens de capital, como máquinas, equipamentos, caminhões e ônibus, bateu recorde nos 11 primeiros meses do ano, com US$ 32,5 bilhões (R$ 198 bilhões), salto de 21% ante o mesmo período de 2023, mostram os dados mais recentes da balança comercial brasileira. Reflete o crescimento dos investimentos no país apontado pelo IBGE no PIB do terceiro trimestre, na semana passada, mas também dá sinais de substituição de maquinário nacional por importado, com avanço de fabricantes da China.

O fluxo se mantém forte, mesmo com o dólar acima dos R$ 6. A compra de maquinário no exterior é puxada tanto pela retomada de obras de infraestrutura, de rodovias a saneamento, quanto por ciclos de algumas atividades, como comércio eletrônico, mineração, energia solar e eólica, apontam executivos e especialistas.

 

Levantamento da empresa de comércio exterior Comexport, obtido pelo GLOBO, aponta quais máquinas vêm aparecendo mais nessa pauta.

É o caso de empilhadeiras e plataformas usadas na movimentação de mercadorias, na esteira do boom do e-commerce. Em 2024, até outubro, a importação desses itens somou US$ 699 milhões, mais que o dobro de todo 2021.

Ganho de eficiência

Quando iniciou sua operação no Brasil, em 2019, a Amazon tinha um centro de distribuição, em Cajamar (SP). Hoje, tem dez. O de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, conta com 30 empilhadeiras para cobrir seus 30 mil metros quadrados. Para a unidade do Recife, inaugurada este ano, a multinacional comprou cem máquinas para 70 mil metros quadrados.

O maquinário é todo importado, da marca alemã Jungheinrich. A tecnologia dos modelos oferece ganhos em segurança e eficiência à operação com baterias de lítio de rápido carregamento e transmissão de informações sobre localização, tempo de uso e eventuais falhas por telemetria para um sistema centralizado. Essas empilhadeiras são capazes de depositar paletes inteiros carregados de produtos grandes e pesados, de ventiladores a ração de animais, em prateleiras que chegam a dez metros de altura. Depois, levam os operadores até elas para retirar mercadorias pedidas pelos clientes, sem precisar descer todo o conjunto.

Tiago Lopes, líder regional de Segurança do Trabalho na Amazon do Brasil, conta que empilhadeiras ainda mais modernas no centro pernambucano são dotadas de um sistema de VNA (sigla para “corredor muito estreito”, em inglês): elas se locomovem guiadas por um fio magnético no chão, que funciona como um “trilho”. Isso permite reduzir o espaço entre as prateleiras de 3,3 para 2,2 metros e aumentar a capacidade de estoque.

— Essa máquina entra na “rua” justinha e não tem risco de bater em nada, porque só anda guiada. Isso aumenta a produtividade. Aqui (em Meriti), temos 16 “ruas” (entre as prateleiras) e teríamos 24 com essa tecnologia — diz Lopes.

Também se destacam nas importações os chamados caminhões fora de estrada, usados na mineração. As compras no exterior desses veículos gigantes, que podem carregar 240 toneladas de material e cujas rodas chegam a 3 metros, por empresas brasileiras somam US$ 4,1 bilhões até outubro, mais que em todo 2023.

A demanda vem de projetos de expansão de minas, como o P15, da CSN Mineração, que receberá R$ 15,3 bilhões de 2023 a 2028, em Congonhas (MG). Do aporte total, R$ 750 milhões vão para máquinas e equipamentos, informou a mineradora ao GLOBO. Apenas esse projeto acrescentará sete caminhões fora de estrada à frota da empresa, hoje com 64. Até 2034, serão mais 25.

Na construção civil são os caminhões guindaste que estão vindo de fora. Eles são usados na indústria de petróleo e gás e para a manutenção em parques eólicos, permitindo alçar e alcançar peças a mais de cem metros de altura.

Demanda de concessões

A expansão de geração eólica no Brasil nos últimos anos ampliou a demanda por manutenção dos aerogeradores, atraindo empresas especializadas nesse serviço, conta Francisco Silva, diretor técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Os guindastes são comprados por essas prestadoras — como New Wind e Iqony Solutions — ou por locadoras de maquinário.

— Projetos que entraram em operação em 2014 ou 2015, em torno de dez anos, começam agora um processo de retrofit (renovação) — diz Silva.

Também está em alta a importação de perfuratrizes e pavimentadoras de asfalto, usadas em obras de rodovias, e de tratores e escavadeiras, empregados em projetos como os de concessões de saneamento, demandas da iniciativa privada, observa Breno Oliveira, diretor comercial da Comexport, que atende diferentes tipos de importadores.

Nesses setores, chama a atenção o avanço dos fabricantes chineses, como as gigantes XCMG e Sany. A primeira também fabrica caminhões fora da estrada e, em 2021, firmou um memorando com a Vale para o “potencial fornecimento de equipamentos”, segundo nota da mineradora na época. Nesse mercado, ainda prevalecem fabricantes tradicionais, como a americana Caterpillar e as japonesas Komatsu e Hitachi, mas os chinesas avançam rápido com preços e financiamento competitivos.

— Em guindastes, em 2021, tínhamos 40% de europeus ou americanos. Hoje, estão só com 20%. O resto é chinês. O mercado compra mais da China porque eles estão com mais tecnologia — diz Oliveira.

Um executivo de uma construtora nacional que comprou uma perfuratriz da China para obras de saneamento, que pediu para não ser identificado, conta que o equipamento tinha qualidade técnica comparável a outras marcas, mas custou a metade do preço.

'Invasão chinesa'

O aumento dos investimentos é um sinal positivo para a economia, mas os sinais de que máquinas e equipamentos importados estão substituindo os brasileiros deixam um gosto amargo para a indústria nacional de bens de capital. Para José Velloso, presidente da Abimaq, que reúne fabricantes nacionais de equipamentos, há uma “invasão chinesa”, com o país asiático ocupando mais que o espaço de exportadores tradicionais como EUA e Alemanha. A importação de máquinas na China também é recorde no ano: US$ 9,7 bilhões até novembro.

 

Nos indicadores mensais da Abimaq, o “consumo aparente” (a produção nacional mais as importações, menos as exportações) do país registrava queda de 5,3% no acumulado em 12 meses até outubro.

— O Brasil não está investindo mais. A importação cresce só com a China — diz Velloso.

Impacto limitado

Segundo Leonardo Carvalho, pesquisador do Ipea, dados do IBGE apontam que o crescimento da produção doméstica de bens de capital (sem descontar as exportações) tem se concentrado em caminhões e ônibus. A de máquinas e equipamentos está em queda no país. Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), observa que, além do impacto positivo do aumento do investimento, as importações de máquinas trazem novas tecnologias de ponta, que aumentam a produtividade. Mas o círculo virtuoso deveria também passar pela indústria local dessas máquinas, o que geraria mais investimentos e empregos também nesta parte da cadeia.

Além de mais competitivas que as máquinas nacionais, as da China refletem a política industrial de Pequim nos últimos anos, focada na evolução tecnológica, que tem afetado todos os países. Isso é evidente nos painéis solares. Em maio, os EUA elevaram a tarifa de importação de kits chineses.

Segundo Wladimir Janousek, da consultoria JCS, o resultado é fruto de um desenvolvimento de quase 30 anos, com investimentos robustos em tecnologia, estruturada num modelo verticalizado. É algo que o Brasil não conseguiu fazer, apesar de muitos incentivos públicos ao setor.

Fonte: O Globo
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 09/12/2024