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Produção de aço no mundo fica estável ante 2023, mas China volta a crescer em maio

Com o crescimento de 1,5% visto em maio na comparação anual, a produção mundial de aço bruto nos cinco primeiros meses de 2024 praticamente igualou os volumes produzidos globalmente no mesmo período do ano passado, em torno de 793,2 milhões de toneladas, segundo levantamento da World Steel Association (Worldsteel), cujos membros representam 85% da oferta mundial.

A expansão no mês foi puxada pela China, que voltou a acelerar a produção do insumo, com alta de 2,7%, para 92,9 milhões de toneladas. Índia e Turquia, que são ‘players’ importantes na indústria global, também seguem em rota de crescimento, neste caso desde o início do ano, mas ainda há incertezas quanto ao ritmo que será empregado pelas siderúrgicas chinesas nos próximos meses.

Do lado da economia doméstica, o gigante asiático segue dando sinais de fraqueza, o que indica menor consumo interno de aço. Do lado das exportações de produtos siderúrgicos, é crescente o número de países que têm adotados medidas de defesa comercial contra os chineses, o que poderia prejudicar novas altas expressivas nos embarques.

Segundo a Worldsteel, o volume de aço ofertado pelas siderúrgicas chinesas no acumulado de janeiro a maio ainda é menor na comparação anual. No intervalo, foram produzidas 438,6 milhões de toneladas nas usinas locais, 1,4% menos do que o visto em 2023. Esse volume equivale a pouco mais de 55% da produção mundial do insumo nos cinco primeiros meses do ano.

Ainda assim, para fontes da indústria ouvidas pelo Valor, a China deve seguir recorrendo às exportações de forma a manter um ritmo de operação “mínimo” para seus planos de crescimento econômico em 2024, mesmo com as barreiras impostas a seus produtos. “É uma política de Estado”, avalia uma das fontes. Além disso, não é só o aço chinês que tem entrado no mercado brasileiro com preços predatórios.

Recentemente, o Brasil se juntou ao grupo de países que adotou medidas para proteger sua indústria da concorrência desleal no mercado de aço. O estabelecimento de cotas para importação de 11 tipos de produtos siderúrgicos, com alíquota de 25% sobre o volume excedente, foi bem recebido pelo setor, mas ainda não teve resultados concretos, inclusive porque acaba de entrar em vigor.

Para o Instituto Aço Brasil, a melhora deverá ser vista no decorrer do segundo semestre e já se traduziu em projeções mais otimistas para as siderúrgicas instaladas no país, que esperam que o mercado brasileiro deixe de receber 1,5 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos até o fim de 2024, na esteira das medidas de defesa comercial.

Com isso, o setor passou a projetar expansão de 0,7% na produção de aço neste ano, a 32,2 milhões de toneladas, contra previsão anterior de queda de 3%. Para as importações, a estimativa, que era de crescimento de 20%, agora é de queda de 7%, a 4,7 milhões de toneladas. Já as vendas internas devem crescer 2,5%, para 20 milhões de toneladas, em comparação à previsão inicial de retração de 6%.

Mas todo cuidado é pouco, alertaram as siderúrgicas. Até maio, conforme o Aço Brasil, as importações de produtos siderúrgicos seguiram em alta acentuada, de 26,4% no acumulado dos cinco meses, para 2,3 milhões de toneladas, enquanto a produção nacional ficou praticamente estável, com leve alta de 0,6% e 13,6 milhões de toneladas.

Além disso, após a vitória junto ao governo, os esforços das siderúrgicas estão voltados a monitorar a eficiência das medidas e se os exportadores ao Brasil estão buscando brechas à lista contemplada na medida. Isso significa acompanhar as importações de outras 27 NCMs “de fuga”, que podem ser usadas para burlar o sistema de cota-tarifa. Neste caso, o sinal amarelo já está aceso para vergalhões, que não aparecem na lista original do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex).

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/07/2024

 

Índice de Confiança da Construção registra estabilidade em junho, aponta FGV

O Índice de Confiança da Construção (ICST) ficou estável em 96,4 pontos em junho, informou na semana passada a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em médias móveis trimestrais, porém, houve recuo de 0,1 ponto.

A estabilidade nesta leitura refletiu o comportamento antagônico dos componentes do ICST: o Índice de Situação Atual (ISA-CST) variou 0,2 ponto, atingindo 95,5 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE-CST) caiu 0,3 ponto, para 97,5 pontos.

“As empresas da construção chegaram ao final do primeiro semestre um pouco mais confiantes do que estavam em dezembro. Houve melhora, especialmente, na percepção referente à situação atual dos negócios”, resumiu, em nota, a coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo.

Ela avalia que o maior aquecimento da atividade se traduziu também em dificuldades com a mão de obra qualificada, o que já está pressionando os custos de obras.

“No entanto, o semestre terminou também com o fim do ciclo de queda da Selic, que mesmo sem ter efeito imediato sobre a atividade, deve arrefecer o ânimo com os negócios à frente”, acrescenta.

O Nível de Utilização da Capacidade (Nuci) da Construção, por sua vez, variou 0,2 ponto nesta leitura, atingindo 80,1%.

O Nuci de mão de obra subiu 0,3 ponto, a 81,5%, enquanto o Nuci de Máquinas e equipamentos contraiu 0,9 ponto, a 74,4%.

Fonte: Grandes Construções
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 03/07/2024

 

Produção de aço bruto registra 4,7 milhões/t em abril na América Latina, diz Alacero

A Alacero, Associação Latino-Americana do Aço, compartilha os dados atualizados sobre o comércio e consumo de março de 2024, bem como os resultados da produção de aço correspondente a abril de 2024. Esses números oferecem uma visão detalhada do estado atual da indústria do aço e sua evolução nos últimos meses, segundo dados divulgados pela Asociación Latinoamericana del Acero (Alacero), no dia 27 de junho (quinta-feira).

A produção de aço bruto em abril de 2024 foi de 4,7 milhões de toneladas (Mt), o que representa uma diminuição de 5,3% em relação a abril de 2023 e um aumento de 1,2% em comparação com o mês anterior. Considerando o acumulado do ano (19,2 milhões de toneladas de janeiro a abril), a produção está 2,1% abaixo do mesmo período de 2023.

Quanto à produção de aço laminado, em abril de 2024 foi de 4,3 milhões de toneladas , 3,0% inferior à de abril de 2023 e 1,6% superior a do mês anterior. No entanto, o acumulado de janeiro a abril de 2024 (17,4 milhões de toneladas implica uma queda de 2,1% comparado ao ano passado.

Consumo de Aço Laminado em março de 2024

O consumo de aço laminado em março registrou um crescimento de 9,2% em relação a fevereiro, alcançando 6,0 milhões de toneladas — Destacam-se os aços planos com um aumento de 11,5% no mês (chegando a 3,5 milhões de toneladas, enquanto os aços longos registraram um crescimento de 7,0% (2,4 milhões de toneladas). Contudo, os tubos sem costura registraram uma redução de 23,2% (50,8 mil toneladas).

Em comparação com março de 2023 o consumo apresentou uma queda de 6,3%. Porém, ao analisarmos o período do primeiro trimestre, em 2024 houve uma queda de 0,1% (17,5 milhões de toneladas), apresentando uma certa estabilidade em relação ao mesmo período do ano anterior.

Análise Balança Comercial em março de 2024

O déficit (-1,7 milhões de toneladas) continua elevado e registrou um aumento de 21,3% em relação a fevereiro, explicado pelo grande volume de importações em março, que aumentaram 18,1% em relação ao mês anterior. Este é um ponto negativo porque a participação das importações no consumo tem aumentado e, consequentemente, reduz o crescimento da produção da região.

As importações extrarregionais representaram 92,5% das importações totais em março, uma diminuição de 0,3 pontos percentuais (pp) em relação ao mês anterior, e próximo da média de 92% de 2023. As importações totais representaram 40% do consumo aparente em março, frente a 37% em fevereiro. Este número é muito elevado, 2pp acima da média registrada em 2023, o que demonstra que o aumento do consumo na região tem sido impulsionado pelas importações.

—O crescimento do consumo em nossa região tem sido impulsionado principalmente pelas importações, que representaram 40% do consumo aparente em março. É crucial que tomemos medidas para equilibrar esta balança e fomentar o desenvolvimento da produção local — afirmou Ezequiel Tavernelli, diretor-executivo da Alacero.

Análise dos Setores Consumidores de Aço 

A maioria dos setores consumidores de aço na América Latina apresentou variações negativas. Após dez meses consecutivos de crescimento, a construção recuou em março em termos anuais, e foi arrastada pela forte contração na Argentina, representando a baixa mais significativa desde maio de 2020. Peru e Brasil também registraram quedas, após dois e três meses de crescimento, respectivamente. Colômbia e Chile mantiveram em março o mau desempenho dos últimos meses. Em contrapartida, o México se manteve em terreno positivo, embora desacelerando.

A atividade industrial também se contraiu durante o terceiro mês do ano em todos os países, após um bimestre positivo. O pior desempenho ocorreu na Argentina, comparável apenas com as quedas durante os primeiros meses da pandemia em 2020. México, Brasil, Chile e Colômbia reverteram a expansão de fevereiro com variações negativas. No Peru, a atividade caiu pelo décimo quarto mês consecutivo.

O setor de produção de maquinário foi o mais afetado, com retrocessos na Argentina, Colômbia e Chile. A fabricação de aparelhos de uso doméstico também foi uma das mais impactadas e sofreu uma contração após oito meses de expansão. Além disso, a produção automotiva também caiu em março, mas se recuperou em abril graças ao bom desempenho do Brasil e México.

Fonte: Portal Fator
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 02/07/2024

 

Aço barato da China prejudica indústria na América Latina

O setor siderúrgico da América Latina está enfrentando uma crise, devido às práticas comerciais desleais da China, que inundou o mercado com aço barato, ameaçando os empregos e a subsistência dos produtores regionais, informou Rádio França Internacional.

“A produção da China afeta as economias latino-americanas, colocando em risco 1,4 milhão de empregos no setor siderúrgico, forçando a suspensão das operações de várias empresas e demissões em massa”, explicou à Diálogo, em 28 de maio, Gabriela Fajardo Mejía, especialista em relações internacionais e doutoranda em Direito da Sociedade Global, da Universidade de Navarra, na Espanha. “[A produção] não está sujeita a padrões ambientais e de qualidade. As empresas chinesas não cumprem as regras de transparência e regulamentação.”

A estratégia da China de vender seus produtos abaixo dos preços de mercado desencadeou uma situação de dumping que afeta gravemente a América Latina. No caso do aço, a produção do país asiático atinge 54 por cento da capacidade global. Somente entre janeiro e abril de 2024, produziu 343,7 toneladas métricas, de acordo com dados da Associação Mundial do Aço.

“A desaceleração dos negócios imobiliários e de construção da China fez com que a demanda interna por aço diminuísse, deixando os produtores dependentes de outros países para compensar o déficit”, disse à Diálogo Henry Ziemer, investigador associado do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “Como o mercado dos EUA parece cada vez mais desfavorável aos produtores de aço chineses, eles agora estão procurando os países latino-americanos com menos barreiras comerciais para se livrar do excesso de capacidade.”

Além disso, o governo chinês subsidiou a produção e as exportações de aço durante a pandemia. Isso desencadeou uma onda de aço chinês barato que se espalhou por todo o mundo, explicou a mídia colombiana El Tiempo.

México, Chile e Brasil aumentaram significativamente as tarifas sobre as importações de aço provenientes da China, para proteger as empresas nacionais, e outros países da região provavelmente seguirão seu exemplo.

O aço chinês barato está afundando a indústria siderúrgica latino-americana, fazendo com que várias das grandes empresas da região congelem ou encerrem suas operações, disse a Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), em um comunicado. Para Alejandro Wagner, o diretor executivo da Alacero de 1º de junho de 2021 a 1º de junho de 2024, a situação está criando um “processo de desindustrialização na região”, disse à BBC.

Em março, a Compañía de Aceros del Pacífico (CAP) do Chile suspendeu as operações em sua emblemática planta industrial de Huachipato, alegando sua incapacidade de competir com os preços chineses e enfatizando que o dumping da China afetou o desenvolvimento econômico e social da região.  A empresa retomou suas operações depois que o governo impôs um aumento da sobretaxa sobre as importações de aço chinês. O conselho de administração de Huachipato expressou sua esperança de que a medida se torne definitiva.

Além disso, na Colômbia, a indústria siderúrgica pede que a concorrência no setor seja justa, pois estão sofrendo devastadores efeitos econômicos. “Estamos sofrendo uma concorrência desleal há dois anos, por meio de importações maciças da China e da Rússia a preços predatórios, até 40 por cento abaixo dos preços internacionais e de mercado”, disse Fabio Galán, presidente da Acerías Pazdelrío, ao jornal El Colombiano.

“No passado, houve relatos de que as minas de ferro no México, invadidas por cartéis do crime organizado, desempenharam um papel importante no envio à China de navios de minério de ferro saqueado, que foi então convertido em aço”, afirmou Ziemer. “Esses relatórios fornecem mais evidências de que as práticas comerciais injustas e opacas da China criam incentivos perversos no hemisfério, que podem encorajar as organizações criminosas e minar a qualidade da governança.”

A siderúrgica Gerdau do Brasil anunciou a suspensão de trabalhadores em sua usina de São José dos Campos, em São Paulo, devido à concorrência desleal do aço chinês. Gustavo Werneck, presidente da empresa, disse à mídia brasileira InfoMoney que essas medidas são apenas o primeiro passo para conter a onda chinesa.

“Além disso, a China subsidia suas empresas do setor, o que lhes permite reduzir seus custos. É principalmente preocupante que os padrões de qualidade e ambientais para essa produção não sejam um fator levado em conta pelo governo chinês, mas é ainda mais preocupante que não sejam um fator a ser considerado pelos compradores de aço nos países latino-americanos, que, em detrimento de sua própria indústria local, são influenciados principalmente pelo preço baixo”, acrescentou Fajardo Mejía. “Enquanto as siderúrgicas latino-americanas emitem 1,55 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por tonelada de aço produzido, a China emite 2,24 toneladas de CO2, o que representa 45 por cento a mais de poluição”.

A imposição de tarifas sobre o aço da China como resposta a suas práticas desleais também ressalta o potencial de tensões comerciais entre os países latino-americanos e a China, com a possibilidade de retaliação do país asiático, conhecido por sua diplomacia coercitiva.

Por exemplo, a China proibiu em 2016 produtos à base de soja provenientes da Argentina, em resposta a ações antidumping de longo alcance, explicou o jornal argentino La Nación. Em 2019, após a prisão de uma executiva da Huawei em Vancouver, a China suspendeu todas as compras de sementes de canola canadense, informou a rede de notícias AP.

“A China produz mais aço do que os seguintes nove países produtores de aço juntos, o que lhe dá uma ferramenta poderosa para influenciar os preços e desestabilizar as economias locais”, concluiu Ziemer. “No entanto, o fato de essa última rodada ter como alvo países como Chile e México, pode representar uma oportunidade para que os Estados Unidos coordenem com os países latino-americanos formas de mitigar as práticas comerciais desleais da China e proteger suas indústrias nacionais.”

Fonte: Diálogo Chino
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 01/07/2024

 

“Imposto do Pecado” sobre carros elétricos põe governo e montadoras em rota de colisão

A defesa, feita pelo governo federal, da possibilidade de o chamado “imposto do pecado” (o Imposto Seletivo da reforma tributária) incidir sobre carros elétricos gerou críticas por parte de montadoras. A divergência vem após “lua de mel” entre os lados, que teve lançamento de programa automotivo e anúncio de investimentos recordes do setor no país.

Uma das principais vozes contrárias à tributação de elétricos pelo “imposto do pecado”, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indica que incluir os automóveis na lista do Seletivo vai levar prejuízos à saúde e ao meio ambiente — cenário inverso do almejado pelo novo tributo.

Segundo a associação, ao restringir o acesso dos consumidores aos carros novos, o governo vai atrasar a renovação da frota brasileira. Assim vão se mantar por mais tempo nas ruas os veículos antigos, que são mais poluentes e menos seguros. Dados do setor mostram que um carro dos anos 2000 polui 20 vezes mais que um atual.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) defende a inclusão dos elétricos entre os tributados — junto de híbridos e à combustão — observando que o Mover implementa a medição de carbono “do poço à roda”, que leva em consideração todas as emissões da produção, desde a extração e processamento mineral à queima de cada combustível.

Apesar de não emitirem com uso de combustíveis, os puramente elétricos deixam pegada na fabricação e recarga de baterias. Para produzi-las é necessário lítio, níquel, alumínio, entre outras substâncias, cuja mineração exige do meio ambiente, com emissão de carbono e geração de rejeitos.

“O Mdic não define uma rota tecnológica dominante, mas constrói uma política que, a partir de critérios definidos para todos os tipos de veículos e uma alíquota padrão, gerem bônus ou imposto extra”, diz um material veiculado anteriormente pela pasta.

A chinesa BYD, que também se posicionou duramente contra a possibilidade, reforça que a matriz energética limpa do país reduz ainda mais a emissão na produção de carros elétricos e dá ao Brasil “oportunidade de ser protagonista” na área. A montadora indica que, para este fim, são necessárias “políticas públicas do governo”.

À CNN, o secretário de desenvolvimento industrial, Uallace Moreira argumentou que a incidência do Imposto Seletivo não aumentará a carga de impostos sobre estes veículos. Isso porque conforme se iniciar a cobrança IS as alíquotas do IPI Verde serão transferidas ao novo tributo.

Criado pelo Mover (novo programa automotivo), o IPI Verde vai estabelecer um sistema de “recompensa e penalização” aos veículos, mas ainda precisa ter suas regras regulamentadas. Na prática, vão pagar mais imposto os carros que resultam em maior emissão de carbono. Em casos pode haver, inclusive, isenção.

“Haverá com o IPI Verde um escalonamento tributário com o objetivo de promover o estímulo às rotas tecnológicas que descarbonizem. O Imposto Seletivo vai refletir essas regras do IPI Verde”, disse o representante.

Fonte: CNN
Seção: Automobilística & Autopeças
Publicação: 01/07/2024

 

RS tem que ser tratado como o Brasil foi na pandemia, diz CEO de construtora gaúcha

Para o diretor-presidente da incorporadora gaúcha Melnick, apesar da situação catastrófica no Rio Grande do Sul com as enchentes, a complexidade na reconstrução do estado é menor, se comparada ao de desastres climáticos causados por furacão ou terremoto.

Em entrevista à Folha, Leandro Melnick cobrou medidas concretas do governo federal, e estimou que, se houver um plano objetivo de reconstrução nos próximos 60 dias, será possível melhorar razoavelmente a situação da região em cerca de seis meses.

"O ponto um pouco mais objetivo da parte de obras, que aí conecta com a nossa empresa, é que não parecem tão complexas", diz. "Isso me traz esperança. E em ações importantes, eu acho que o governo federal tem ferramentas, como na distribuição de auxílio, as famosas bolsas, e nas isenções fiscais", completa.

Para o executivo, a tragédia do sul pode mudar as estratégias de negócios da Melnick. Voltada prioritariamente para moradia de média e alta renda, a empresa pode se reposicionar no mercado em outros segmentos, como o do Minha Casa, Minha Vida. Confira outros trechos da entrevista.

O senhor é do setor de construção civil e atua no Rio Grande do Sul, então, tem propriedade para falar da perspectiva de reconstrução. O que deve ser das cidades do sul daqui para frente?

Estamos em um momento de grande incerteza. Normalmente esses movimentos, como o que aconteceu no Rio Grande do Sul e que ocorrem em outros lugares do mundo, são um momento de disruptura. Essa disruptura pode ser negativa ou positiva.

O Rio Grande do Sul foi atingido de uma forma muito violenta e a gente vai depender muito da condição prática da implementação de algumas contribuições, principalmente do governo federal. São obras que necessitam de um orçamento significativo. Como a gente sabe, o estado do Rio Grande do Sul vinha se recuperando de um problema fiscal muito sério.

Então, como o país vai se mobilizar através de ações do governo federal, sendo isenção fiscal, sendo apoios por um plano de reconstrução do Rio Grande do Sul, isso, na minha opinião, é que vai responder tua pergunta. Então, tem uma incógnita na resposta.

Na sua visão, o governo federal é o maior responsável por essa reconstrução?

Nós vivemos em um país que há cem anos tem ineficiências históricas, estruturantes, e temos que —em vez de gastar nossa energia numa caça às bruxas que não vai levar a nada— usar nossa energia para efetivar as medidas que liberem o orçamento necessário para essas obras. Até porque elas são caras, mas não são inviáveis.

Percebemos uma mobilização muito grande da sociedade, do setor privado, dos governos federal e estadual e até de outros países. Acho que o esforço é de conseguir transformar essa vontade de contribuir em algo concreto. Eu vejo hoje um ambiente favorável para essa contribuição de fato acontecer.

O ponto um pouco mais objetivo no que se refere às obras, que conecta com a nossa empresa, é que não parecem tão complexas. Se fosse, por exemplo, uma catástrofe como um terremoto ou um furacão, seria muito mais complexo. Isso me traz esperança.

E em ações muito importantes, eu acho que o governo federal tem ferramentas, como na distribuição de auxílio, as famosas bolsas, e nas isenções fiscais. O estado precisa ser tratado como o Brasil foi tratado na época da Covid, como estado de emergência.

Acha possível estimar o tempo de reconstrução?

Acho possível. Tenho que dividir em etapas. Nós temos a reconstrução das casas atingidas. Nesse ponto, o governo federal tem total condição de ajudar com auxílio de moradia. Porque não foi um terremoto, então, abaixo do nível da água, as casas estão lá. O problema é que ninguém se sente bem morando em lugar inseguro. Então, acho que o que a gente precisa é de um plano de remoção das pessoas que habitam regiões de risco. Mas como as condições de construção são casas e prédios, não é complexo de ser feito.

Acho que, com um plano aprovado nos próximos meses para financiar esse tipo de situação, em um tempo médio se tem a recuperação. As obras de mitigação de novos eventos climáticos também não são complexas. São diques, casas de bombas, não são obras de alta complexidade.

Mas é fundamental liberar verba de forma emergencial, que é um dinheiro que o país tem. A gente vê que qualquer ajuste salarial de alguma classe são R$ 10 bilhões, R$ 20 bilhões [de gasto para os cofres públicos]. E não estamos falando aqui de R$ 1 trilhão, estamos falando de obras de R$ 20 bilhões, R$ 40 bilhões para garantir uma situação fundamental ao ser humano, que é a confiança de que ele não vive em um lugar de risco.

E o que seria esse tempo médio da reconstrução?

A gente precisa ter um projeto aprovado entre 30 a 60 dias de injeção de capital na economia através da isenção fiscal, de reconstrução das obras que foram atingidas e da estrutura de resguardo a novas enchentes. E a sociedade precisa entender que o estado não vai quebrar. Não pode deixar a estrutura parar, ela não pode entrar em colapso.

Por isso, eu acredito que é emergencial ter a promoção de coisas absolutamente concretas que tragam uma esperança para que eu possa te dizer, numa próxima entrevista, que acho que em seis meses vai estar bom.

O senhor acha que a tragédia no sul pode afetar o balanço da Melnick nos próximos trimestres?

Sim. Danos objetivos a gente praticamente não teve, exatamente porque a gente atua mais na média e alta renda, em zonas menos alagadas. Tivemos duas obras levemente atingidas que estavam na fase de estrutura.

Em relação ao balanço, no viés econômico, se não tiver um problema maior estrutural no estado, o impacto é pequeno. Porque a gente tem um produto que não é perecível. Se a gente fica um mês sem vender imóvel de média e alta renda, esse produto vai ser vendido nos meses seguintes, porque a população precisa continuar procurando apartamento. Então, economicamente, em uma visão de temporalidade um pouco mais extensa, de dois anos, o impacto é quase irrelevante.

No trimestre, é diferente. Tem duas coisas que impactam no setor: uma é a parte comercial, porque a gente teve quase que uma paralisação das vendas por 40 dias; e a outra é o lucro contábil, que depende das obras. A gente reconhece o lucro com o andamento das obras. Então, vamos ter, certamente, um impacto em torno de 90 dias.

A calamidade pode mudar algo na estratégia da empresa?

Pode ter um impacto, sim. Mas tenho que te explicar um pouquinho da estratégia da empresa. A Melnick abriu capital mais ou menos há três anos. Logo naquele momento, dentro da pandemia, os juros estavam em 3% e parecia que ia ter juros baixos por bastante tempo.

Quando teve a abertura de capital, os juros subiram muito rapidamente. Veio uma reversão macroeconômica violenta. Como eu já estou nesse mundo de empresa aberta há um tempo no conselho da Even, com experiência desde 2008, eu falei que o mundo mudou, e que nós não iríamos implementar o plano de crescimento da empresa, porque o ambiente era outro.

Isso fez, como consequência, com que a Melnick estivesse hoje com 100% do valor capitado no IPO [oferta pública inicial, na sigla em inglês] dentro do caixa da empresa. Resolvemos não expandir nesses últimos três anos devido às incertezas: juros altos, todas as guerras e a questão política extremada no ambiente nacional. Por isso a Melnick enfrenta hoje uma crise numa situação econômica privilegiada, extremamente capitalizada, sem dívida nenhuma e com espaço para crescer.

Agora, estamos olhando alternativas de crescimento. E essa alternativa está prioritariamente no Rio Grande do Sul, com um olhar um pouco mais distante nos outros estados da região —Santa Catarina e Paraná— e em outros produtos do mercado imobiliário.Com o impacto das enchentes, nós estamos analisando como as coisas vão se acomodar para ver onde que vamos nos posicionar.

Então, a expansão seria não só de estado, mas de segmento?

A gente já vem atuando devagarinho no programa Minha Casa, Minha Vida há alguns anos. O nosso plano é atuar no volume, e talvez o volume para esse segmento se intensifique. Vamos fazer uma análise de onde colocar a nossa atuação dentro do novo cenário no sul.

Hoje, qual a principal área de atuação da Melnick?

Hoje é residencial, média e alta renda, em Porto Alegre. A gente tem uma outra divisão que é uma urbanizadora, que já foi para dez cidades. Temos uma atuação menor no segmento econômico e estamos agora tendo uma grande reflexão sobre uma expansão.

E dentro da média e alta renda, qual o principal perfil de consumidor?

Como a gente tem uma característica de ser uma empresa muito horizontal, ou seja, muito grande mas em uma geografia pequena, temos quase todos os perfis de público. Temos uma linha chamada GO, que é para o jovem, o primeiro imóvel do jovem de média e alta renda.

A origem da empresa é um altíssimo padrão, que são apartamentos de 500 m?2;, 800 m?2;. Nós atuamos também no segmento de média renda, com apartamentos de R$ 700 mil a R$ 1,5 milhão. É uma atuação muito ampla.

RAIO-X

Leandro Melnick, 47
Graduado em engenharia civil pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) com pós-graduação em gestão empresarial na Fundação Getúlio Vargas. Iniciou sua atuação na Melnick em 1996. Entre 2010 e 2019, foi diretor-presidente da companhia, retornando ao comando recentemente

Fonte: Folha de São Paulo
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 01/07/2024