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União Europeia abrirá relevantes oportunidades para as exportações brasileiras, aponta estudo da ApexBrasil

Estudo inédito da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) aponta que a eliminação tarifária gerada pela eventual entrada em vigor do acordo entre Mercosul e União Europeia poderá abrir oportunidades para empresas brasileiras. Após 20 anos de longas negociações, a possível implementação desse acordo constituirá uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, com população conjunta de cerca de 720 milhões de habitantes e PIB de US$ 19,2 trilhões em 2021, o que representa um quarto do PIB mundial.

Ao se cruzar o Mapa de Oportunidades Globais da ApexBrasil com as listas de produtos com desgravação imediata ou em até 4 anos do acordo, as importações da União Europeia identificadas como oportunidades chegam a 100 bilhões de dólares, das quais o Brasil contribui com 3,5 bilhões. As exportações brasileiras desses produtos enfrentam atualmente tarifas de 4,5%, em média. A eliminação dessas tarifas aumentará a competitividade do Brasil em relação a outros parceiros comerciais do bloco. Além disso, beneficiará a exportação de produtos de setores que vão além das commodities, gerando diversificação da pauta exportadora.

Este caminho vai ao encontro da estratégia traçada pelo governo federal de reindustrialização do país, considerada essencial para a retomada do desenvolvimento sustentável, conforme afirmou o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, também vê como missão da Agência apoiar a diversificação e ampliação da pauta exportadora.

Desde 2012, tem ocorrido uma primarização da pauta exportadora brasileira para o bloco. Segundo o estudo da ApexBrasil, com base em dados do TradeMap, entre 2012 e 2021, a participação das exportações de produtos primários para o bloco passou de 35,8% para 53,7% do total exportado. Os principais produtos exportados atualmente são commodities como “óleos bruto de petróleo”, “soja”, “farelos de soja e outros alimentos para animais”, “minério de ferro e seus concentrados” e “café não torrado”, segundo a classificação CUCI. No total, esses principais produtos representam 47,2% das exportações brasileiras para a União Europeia em 2021.

Outra expectativa em relação ao acordo é a recuperação do espaço do Brasil no mercado europeu. As exportações brasileiras para a União Europeia apresentaram oscilações nas últimas décadas. Nos períodos analisados, entre 2001 e 2011, houve aumento médio anual no valor de exportações de 14,3%. Já entre 2012 e 2021, houve diminuição média anual de 2,8% no valor exportado, o que fez com que a participação do Brasil no total importado pela União Europeia caísse aproximadamente de 2% para 1,5%. Em 2022, o Brasil exportou US$ 50,8 bilhões para a União Europeia, um aumento de 39,1% em relação a 2021, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.

O estudo da ApexBrasil faz uma análise do impacto da eliminação, de imediato e em até 4 anos após a ratificação do acordo, de diversas tarifas de importação. Segundo o Gerente de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, Igor Celeste, a redução das tarifas traz uma maior viabilidade para as exportações brasileiras. “O imposto de importação sempre constitui um desafio para quem exporta. Quando as tarifas são eliminadas, o preço final do produto torna-se mais acessível e, portanto, mais atraente para o comprador.”

Máquinas e equipamentos

Segundo o estudo, os setores que tendem a se beneficiar mais da eliminação tarifária prevista no acordo são aqueles que demonstram possuir competitividade e espaço para crescimento no mercado europeu. Os ramos de máquinas e equipamentos, produtos químicos e outros artigos manufaturados são alguns deles. Para os fabricantes de maquinário, por exemplo, a implementação do acordo pode trazer novas perspectivas de expansão, dado que, em 2022, houve queda de 5,9% em sua receita líquida, conforme dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Nesse contexto, as máquinas e equipamentos com oportunidades identificadas possuem, na União Europeia, um mercado importador de 60 bilhões de dólares ao ano, das quais o Brasil contribuiu com cerca de 1,5 bilhão.

O setor de máquinas e equipamentos atualmente tem déficit na balança comercial com os europeus, afirma a Diretora de Comércio Exterior da Abimaq, Patrícia Gomes. “De maneira geral, o acordo Mercosul-UE pode trazer oportunidades para alguns setores e nichos. E o trabalho na agenda da sustentabilidade, principalmente, diante da crise energética europeia, fortalece essas oportunidades. Mas também é importante que sejam implementadas medidas e reformas internas para que o setor ganhe em competitividade e possa, de fato, reverter essas oportunidades em resultados”, explica.

Dentre os produtos do setor com oportunidades, pode-se exemplificar o caso das máquinas em geral, equipamentos industriais e peças de máquinas – divisão CUCI que inclui bombas de ar ou de vácuo, veios de transmissão e manivelas e torneiras e válvulas:

Importações anuais da União Europeia (com oportunidades): US$ 12,7 bilhões;
Exportações anuais do Brasil para o bloco (com oportunidades): US$ 205 milhões;
Tarifas ad valorem entre 1,7% e 4%, a serem eliminadas imediatamente ou em 4 anos;
Principais mercados para o Brasil: Alemanha, Itália e França.
Produtos Químicos

Plástico em formas primárias

Importações anuais da União Europeia (com oportunidades): US$ 15,5 bilhões;
Exportações anuais do Brasil para o bloco (com oportunidades): US$ 341 milhões;
Tarifas ad valorem de 6,5%, a serem eliminadas em 4 anos;
Principais mercados para o Brasil: Bélgica, Itália e Espanha.
Artigos Manufaturados

Couros e peles finas revestidas

Importações anuais da União Europeia (com oportunidades): US$ 1,5 bilhão;
Exportações anuais do Brasil para o bloco (com oportunidades): US$ 230 milhões;
Tarifas ad valorem entre 2% e 6,5%, a serem eliminadas imediatamente ou em 4 anos;
Principais mercados para o Brasil: Itália, Alemanha e Hungria.
Obras Diversas

Calçados e partes para calçados

Importações anuais da União Europeia (com oportunidades): US$ 1,9 bilhão;
Exportações anuais do Brasil para o bloco (com oportunidades): US$ 107 milhões;
Tarifas ad valorem entre 3% e 7%, a serem eliminadas imediatamente ou em 4 anos;
Principais mercados para o Brasil: Alemanha, França e Países Baixos (Holanda).
Produtos alimentícios

Carnes e preparações de carne

Importações anuais da União Europeia (com oportunidades): US$ 373 milhões;
Exportações anuais do Brasil para o bloco (com oportunidades): US$ 93 milhões;
Tarifas ad valorem entre 6,4% e 16,6%, a serem eliminadas em 4 anos;
Principais mercados para o Brasil: Itália, Bélgica e Alemanha.
Deve-se considerar que existem outras oportunidades que poderão advir da entrada em vigor do acordo entre Mercosul e União Europeia, além daquelas relacionadas à eliminação imediata em até 4 anos de tarifas. Há oportunidades de longo prazo, bem como aquelas relacionadas a concessões obtidas em cotas (tarifárias ou não), independente de prazo ou cronograma de desgravação. Essas outras oportunidades não foram objeto do estudo. Da mesma forma, o estudo não abordou análises de outros fatores relacionados à implementação do acordo que possam impactar a economia doméstica brasileira.

Fonte: Notícias Agrícolas
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 15/02/2023

Tribunais analisam PIS/Cofins de receitas financeiras

Os Tribunais Regionais Federais (TRFs) já começaram a analisar os pedidos de liminares de contribuintes para recolher o PIS e a Cofins sobre receitas financeiras com alíquotas reduzidas - de 2,33% no total - por 90 dias. Já são ao menos 414 ações que discutem o tema no país, segundo a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, a tendência das decisões judiciais tem sido favorável ao Fisco, já em São Paulo, o cenário está dividido.

Essa movimentação no Judiciário fez até mesmo com que o próprio governo federal entrasse, no dia 3, com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF). Pede que sejam suspensas, com urgência, as decisões judiciais de todo o país que permitem o recolhimento das alíquotas reduzidas. Requer também que seja declarado válido o Decreto nº 11.374, de 2023, que restabeleceu as alíquotas das contribuições em 4,65% (ADC nº 84).

A redução das alíquotas tinha sido instituída pelo Decreto nº 11.322, assinado pelo então presidente em exercício da República, Hamilton Mourão. O texto foi publicado no dia 30 de dezembro e passava a vigorar no dia 1º de janeiro. O impacto da medida foi calculado em R$ 5,8 bilhões. Porém, a norma foi revogada pelo Decreto 11.374, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo dia 1º de janeiro, mas publicado no dia 2.

Com isso, contribuintes começaram a recorrer à Justiça. Alegam que a elevação das alíquotas das contribuições sociais só poderia entrar em vigor após 90 dias da publicação do decreto do governo Lula - ou seja, do cumprimento da chamada “noventena”.

A PGFN reconhece existir jurisprudência a favor da noventena, mas alega que ela não poderia ser aplicada nesse caso, por ser “atípico”. Para o órgão, como as mudanças foram rápidas, não teriam chegado a gerar efeitos práticos aos contribuintes.

O TRF da 4ª Região (TRF-4) tem negado os pedidos. Das 15 decisões existentes, 14 negam pedido de liminar ou anulam liminares concedidas na primeira instância do Judiciário. Apenas uma mantém liminar obtida, segundo balanço da PGFN realizado a pedido do Valor. Já no TRF da 3ª Região (TRF-3) há 108 processos com posicionamentos que são controversos - a PGFN não especificou quantas liminares foram concedidas e quantas negadas.

Recentemente, o TRF-4 deu sua, até então, única decisão favorável aos contribuintes para uma grande empresa do agronegócio. A juíza convocada Adriane Battisti entendeu que seria o caso de manter a liminar concedida na primeira instância.

Segundo a decisão, “o adiamento de uma decisão precária, que restará superada em sentença iminente, seja ela contrária ou no mesmo sentido, acaba por atuar contra a segurança jurídica”, diz. Além disso, ela ressaltou que se houver reversão da decisão liminar na análise de mérito, o Fisco poderá fazer o lançamento e exigência dos tributos recolhidos a menor (processo nº 5002747-77.2023.4.04.0000).

Segundo os advogados que representam a empresa no processo, Vinícius Krupp e Marcelo Rohenkohl, do Pimentel e Rohenkohl Advogados Associados, a decisão é relevante porque o TRF-4 tem negado o pedido quando o contribuinte recorreu de decisão negativa em primeira instância.

Segundo Rohenkohl, “ainda que tenha existido um intervalo pequeno entre as normas, houve um efeito surpresa ao contribuinte, que desde o primeiro momento já contou com as alíquotas reduzidas”, diz.

Além disso, os advogados ressaltam que a norma e a jurisprudência do STF são claras em dar o prazo de 90 dias (noventena) para adaptação quando há majoração de contribuições sociais (ADI nº 52770 e RE 568503). “Infelizmente, deveria ser óbvio, mas os tribunais têm sido mais conservadores, via de regra, aceitando a argumentação fiscal do governo, deixando de lado a discussão jurídica”, diz Rohenkohl.

De acordo com a PGFN, as demais decisões do TRF-4 determinam a suspensão das liminares. Isso porque não estaria evidenciada a probabilidade do direito invocado ou porque “não bastam alegações genéricas de risco para autorizar a ordem judicial liminar” (AIs 5003517-70.2023.4.04.0000, 5003241-39.2023.4.04.0000, 5003249-16.2023.4.04.0000).

Em breve, contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá uniformizar o tema, ao analisar a ADC nº 84, proposta pelo próprio governo, e que deverá gerar efeitos sobre todos os pedidos de liminares do país.

Além disso, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) entrou com a ação direta de inconstitucionalidade, na qual pede o prazo de 90 dias para a alteração das alíquotas (Adin nº 7342). As duas ações foram distribuídas ao ministro do STF Ricardo Lewandowski.

De acordo com Edison Fernandes, do FF Advogados, com essas ações ajuizadas diretamente no Supremo, ou a Corte cassa todas as liminares em outras instâncias do Judiciário, ou todos os contribuintes estarão protegidos. “Para mim, foi uma certa surpresa essa ADC do governo porque o Haddad [ministro da Fazenda] deu a entender em algumas entrevistas que dariam a noventena, mas pelo jeito mudou de ideia”, diz. Tanto era assim, diz ele, que se aguardava um ato declaratório da Receita Federal confirmando esse posicionamento.

Como o recolhimento do PIS e da Cofins sobre as receitas financeiras de janeiro só ocorre no dia 25 de fevereiro, muitos contribuintes, segundo Fernandes, ainda não entraram com ação na Justiça. Aguardam para ver se algo se define até lá.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 14/02/2023

Reabertura da China pode adicionar 0,5 ponto ao PIB brasileiro este ano

A Nortec, instalada no município de Duque de Caxias, no Estado do Rio, fatura R$ 230 milhões por ano produzindo insumos farmacêuticos para medicamentos como anestésicos locais e antirretrovirais. Exporta de 10% a 15% de sua produção de 300 toneladas para América Latina, Europa e EUA. Com a reabertura da economia da China, após três anos de isolamento do país por causa da Covid, abriu-se uma nova janela de exportação. A Nortec já começou negociações para vender seus insumos ao mercado chinês, que considera estratégico. Espera ter a aprovação da “Anvisa da China” este ano e já em 2024 iniciar as vendas, que devem ficar inicialmente entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, subindo para R$ 50 milhões nos anos seguintes.

Se a reabertura da segunda maior economia do mundo já traz novos negócios para a Nortec, também está sendo comemorada globalmente, por empresas e governos. Economistas avaliam que uma retomada consistente do crescimento chinês nos próximos anos terá impacto positivo no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E países emergentes como o Brasil, que têm na China seu principal parceiro comercial, devem se beneficiar.

— Este mês, vamos mandar nossa primeira missão para a China desde 2019. Era complicado negociar com o país fechado. Agora estamos bem otimistas — diz Marcelo Mansur, diretor-presidente da Nortec.

Mudança de modelo

O banco Goldman Sachs só esperava a reabertura chinesa no segundo trimestre. Com a antecipação, revisou sua projeção para o crescimento da China de 4,5% para 5,5%. O banco estima ainda um aumento de 10% no preço das commodities, especialmente minério de ferro e soja, pode acrescentar 0,5 ponto percentual no crescimento do PIB brasileiro. Já um aumento de 10% nas exportações (em volume) tem impacto de 0,3 ponto no PIB do país, segundo estudo feito por Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs.

 

Analistas de bancos estrangeiros já preveem alta de até 5% no preço do petróleo. Já a tonelada do minério de ferro pode atingir US$ 130 (em 2022, encerrou a US$ 111), com a demanda mais forte estimulada pela reabertura da China, estima o Citi.

Empresas que já fazem negócios com os chineses estão mais otimistas. Produtoras de frango e suínos, por exemplo, esperam crescimento global de 12% nas exportações de porcos e 3% a 4% nas de aves este ano, segundo estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Só no ano passado, foram quase US$ 2,5 bilhões.

— A China é nosso principal comprador. Adquiriu 43% da carne de porco exportada ano passado e 12% da de aves — diz Luís Rua, diretor de Mercados da ABPA, que desde o fim de 2022 tem uma gerente em Pequim.

 

O governo Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma visita à China para o fim de março, e a ABPA vai pedir a habilitação de novas fábricas para exportação e o reconhecimento de Paraná e Rio Grande do Sul como estados livres da febre aftosa sem vacinação.

A Petrobras também está animada. A reabertura e a recuperação econômica da China trazem impactos muito positivos para o mercado em geral e “também para a companhia, que tem no país asiático um importante mercado consumidor de petróleo”, diz a empresa em nota.

No ano passado, a China cresceu 3%, um número pífio se comparado à expansão de dois dígitos registrada no início dos anos 2000. Entre 1978 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês passou de US$ 150 bilhões para US$ 12,2 trilhões. Este ano, as estimativas indicam crescimento entre 5% e 5,5%. O governo chinês anunciou recentemente uma série de reformas no sentido de mudar a estratégia de crescimento, com uma substituição gradual do modelo de exportações pelo consumo interno, de olho em uma expansão sustentável a longo prazo.

Essa guinada traz desafios, como aumentar salários sem cutucar a inflação. E a crise de liquidez no setor imobiliário, com queda nas vendas e prédios inacabados, também preocupa. O governo barateou o financiamento a fim de estimular o setor, mas analistas lembram que, na pandemia, muitos empregadores de pequeno e médio porte faliram, e os padrões de consumo podem ter mudado bastante.

— A reabertura da China deverá reverberar no mundo todo. Mas será preciso observar se o efeito será mais interno ou externo, com essa mudança de modelo econômico. De qualquer forma, a força da economia chinesa, a segunda maior, é um amortecedor para o mundo e um vetor de crescimento para países emergentes — diz Matheus Spiess, analisa da Empiricus Research.

Spiess observa que os preços das commodities já estão elevados. Se isso se mantiver, puxado por um crescimento sustentável da China, há chance de um novo ciclo de commodities, e o governo Lula se beneficiaria desse movimento já a partir de 2024. Para este ano, Spiess projeta que a China cresça 5%.

O estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, concorda que a reabertura chinesa é uma notícia boa, mas lembra que outras grandes economias tiveram recuperação forte no pós-Covid para em seguida perder força. Por isso, diz, será preciso observar os fundamentos da economia chinesa e seus ganhos de produtividade.

De olho no baixo carbono

Segundo Rostagno, a reabertura chinesa abre o apetite de investidores estrangeiros por mercados emergentes, mas haverá mais seletividade, e países com a macroeconomia estável levam vantagens.

— O Brasil tem muitos desafios neste início de governo e, para se beneficiar, precisa fazer a lição de casa, apresentando seu novo arcabouço fiscal e medidas que melhorem o ambiente de negócios, como segurança jurídica, reforma tributária. É isso que vai definir o fluxo de investimentos para cá, e não apenas a recuperação da economia chinesa — diz Rostagno.

Ele lembra que tanto o ambiente interno como o externo eram diferentes no primeiro governo Lula. Hoje, a economia global está desacelerando, e o avanço da inflação é global. Os juros internacionais estão mais altos, e o risco de problemas com dívidas é maior.

— O ambiente econômico atual é muito mais desafiador do que naquela época — avalia Rostagno.

Larissa Wachholz, sócia da assessoria Vallya, pesquisadora do Cebri e especialista em China, observa que o país asiático está cada vez mais preocupado com questões ambientais, e o Brasil tem potencial em agricultura de baixo carbono, energia renovável e produtos estratégicos, como lítio e biofertilizantes.

— A reabertura da China é importante porque chinês gosta de negociar olho no olho. O governo brasileiro pode ajudar tirando barreiras, mas o setor produtivo precisa se movimentar para aproveitar as novas oportunidades — diz Larissa.

A Vale, que exporta minério de ferro para a China, já vê oportunidades também em produtos de baixo carbono. A companhia desenvolveu o briquete verde, espécie de combustível que pode ser usado na siderurgia, reduzindo emissões em mais de 10%.

“Como um dos maiores produtores mundiais de níquel, matéria-prima chave para baterias de veículos elétricos, também vemos oportunidades do rápido crescimento do setor de veículos de energia nova da China, que aumentou sua produção em 97% e suas vendas em 93% em 2022”, afirmou a Vale em nota.

Fonte: O Globo
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 13/02/2023

China pode chegar em 2030 importando US$ 103,4 bilhões do Brasil

A China pode chegar em 2030 importando do Brasil US$103,4 bilhões, valor 76,2% acima da média anual de US$ 58,9 bilhões, entre os anos de 2017 e 2020, segundo um estudo apresentado ontem (7), pelo CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China), entidade bilateral que reúne empresas e instituições. Do lado do Brasil, exemplos são Bradesco, BRF, BB, JBS, Klabin, Suzano, 99, CPFL, Embraer, entre outras.

“A diversificação é um desafio para todos os setores da economia”, diz o especialista em comércio internacional, Fabrizio Panzini, coordenador do estudo “Exportações dos Estados Brasileiros para a China: Cenário Atual e Perspectivas para Diversificação”, apresentado ontem. O estudo mostra o potencial de crescimento de produtos com demanda identificada no país asiático, nos vários setores da economia, o que promoveria uma diversificação da pauta, além da evolução recente das exportações. As projeções contaram com a colaboração do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Os dados, que visam contribuir com políticas públicas, mostram que o país poderia expandir suas vendas em US$ 44,5 bilhões ao para a China, considerando apenas produtos com oportunidades mais evidentes. Com outra ajuda, desta vez da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), o estudo lista 433 bens com oportunidades para manter, ampliar ou iniciar exportações para a China.

Do total, 216 foram considerados relevantes no trabalho de diversificação da pauta que, segundo Panzini, já são representativos na pauta das exportações dos estados. Outra observação é que, em valor de exportações, 72% das oportunidades correspondem a bens com os quais o Brasil já tem grande participação no mercado chinês. Isso significa que produtos em que é necessário consolidar, recuperar ou abrir mercado na China representam 28% do que o Brasil vendeu no período analisado.

Atualmente, as exportações para a China estão concentradas em oleaginosas, no caso a soja, mais minérios e combustíveis. Entre os setores que poderiam ser explorados, em busca da diversificação, estão peles e couros (7 produtos); carnes (8 produtos); madeira e obras de madeira (15), além de ferro fundido, ferro e aço (9); pedras e gessos (11); produtos químicos orgânicos (11) e máquinas e equipamentos (19).

Entre os principais produtos para abertura de mercado, no caso de produtos do agro, estão outros processados de soja, além do que o Brasil já exporta, como farelos por exemplo, mais milho e miudezas congeladas de suínos. Dos produtos em consolidação nos dias atuais, os potenciais maiores estão em madeira serrada, celulose (principalmente pinus, as chamadas coníferas) e madeiras de não coníferas.

Dos setores consolidados, que entre 2017 e 2020 exportou, em média, US$ 42,4 bilhões anuais, estão soja em grão, celulose de eucalipto, carne bovina desossada, algodão não cardado (não penteado na indústria têxtil), além de minério de ferro. E, por fim, o estudo lista produtos que estão em processo de recuperação e que representam um risco de mercado. Entre os produtos de agro estão fumo não manufaturado, miudezas de frango, celulose (para dissolução de polímeros na China) e óleo de soja. Os produtos das categorias em consolidação, recuperação e abertura representaram US$ 16,6 bilhões em vendas entre 2017 e 2020.

Fonte: Forbes
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 09/02/2023

Recuperação no setor de aço latino-americano ocorrerá em 2023

A desvalorização das moedas latino-americanas passou a ser pauta a partir de maio de 2022. Atrelado à valorização do dólar e aos impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia, há redução no preço das matérias-primas em geral.

Entretanto, paralelamente, a indústria latino-americana apresenta um cenário de queda moderada da demanda. O consumo aparente da região, que em 2021 foi de 74,9 Mt (+25,8%), após os primeiros 8 meses do ano anterior, apontava uma queda esperada de 9,5%, devendo fechar em 67,8 Mt em 2022.

Portanto, a região deve fechar 2022 com 105 kg/per capita, igual à média do período 2018-2019. Essa projeção faz parte da América Latina em Números 2022, divulgados em dezembro.

Apesar da maior queda na América Latina, percebe-se que a região foi mais resiliente, consumindo os mesmos 46% da média mundial obtida naquele período por pessoa.

Por sua vez, o mundo deverá encolher apenas 3,7% em 2022 (226 kg/per capita), abaixo da média dos últimos dois anos anteriores à pandemia (228 kg/per capita). A expectativa de efetiva recuperação regional prevista para meados de 2022 só deve ocorrer a partir deste ano (+1,7%).

“As incertezas políticas também são obstáculos potenciais, que podem interferir na implementação das reformas estruturais de que a região precisa. Em 2023, o nível de atenção está aumentando em torno das expectativas de menor crescimento global e condições financeiras menos favoráveis. Assim, uma lenta normalização dos atritos nas cadeias produtivas pós-pandemia impulsionaria o crescimento da produção nos setores consumidores de aço. Por isso, reforçamos que os maiores desafios em 2023 para os mercados latino-americanos são o aumento das pressões inflacionárias, restrições cambiais adicionais e incertezas políticas”, avalia Wagner, diretor executivo da Alacero, Associação Latino-Americana do Aço.

Outro fator que contribuiu para o desempenho do setor foi o custo da gasolina, que aumentou continuamente ao longo de 2022, impactando o transporte público, os orçamentos públicos e a agricultura.

Os preços do petróleo subiram ainda mais no final de fevereiro em resposta à invasão russa e subsequentes sanções ocidentais.

“Os preços mais altos da energia pressionam os orçamentos do governo, pois os políticos tentam manter os custos baixos limitando os aumentos de preços, cortando impostos ou aumentando os subsídios. Essas políticas têm desvantagens, incluindo o desvio de orçamentos de outros gastos sociais. Ou seja, o aumento dos preços da energia tem impactos diferenciados nos países da região, dependendo da posição de sua balança comercial energética e de sua capacidade de refino e preços internos favoráveis”, conclui Wagner.

Consumo e produção

Dados da Alacero, Associação Latino-Americana do Aço, indicam que, em novembro de 2022, a produção de aço bruto atingiu mais de 4.900 mil toneladas, 8,8% a menos que em novembro anterior e 6,5% a menos que no mês anterior.

Nos primeiros 11 meses de 2022 ficou 4,1% abaixo do mesmo período do ano anterior. A produção de laminados atingiu 4.440 mil toneladas, sendo apenas 0,9% superior à do mesmo mês do ano anterior e 3,7% inferior à do mês anterior. Nos primeiros 11 meses de 2022 ficou 2,9% abaixo do mesmo período do ano anterior.

Quanto aos dados comerciais, as importações de aço laminado, em outubro de 2022, alcançaram 1.938 mil toneladas, sendo 17,7% inferior à de outubro de 2021 e 7,1% inferior ao mês anterior. Nos primeiros 10 meses de 2022 (21.337 mil toneladas) ficou 11,4% abaixo do mesmo período do ano anterior.

Em relação às exportações, em outubro de 2022 foram registradas 663,2 mil toneladas, 25,1% a menos que no mesmo mês do ano anterior e 18,0% a menos que no mês anterior (setembro de 2022). Nos primeiros 10 meses de 2022 (9.104 mil toneladas) foi 31,1% superior ao mesmo período do ano anterior.

Os laminados atingiram um consumo de 5.765 mil toneladas, valor 3,6% inferior ao de outubro anterior e 1,2% inferior ao do mês anterior. No acumulado dos 10 primeiros meses de 2022 (58.508 mil t), ficou 8,1% abaixo do mesmo período do ano anterior. Destaque para os acumulados de: Chile (-29,2%); Colômbia (-14,0%); Brasil (-12,1%); México (-3,7%); Argentina (+1,8%); e Peru (+9,2%).

Fonte: Grandes Construções
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 08/02/2023

Show Rural projeta R$ 4,5 bilhões em negócios

O Paraná é o segundo maior produtor de grãos do país, com expectativa de colheita nesta safra 2022/2023 de 45 milhões de toneladas, conforme o último levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O estado também lidera a produção nacional de carne de frango, respondendo por um terço das aves abatidas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, ocupa a vice-liderança na produção de suínos, de leite e de ovos - atrás apenas de Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo, respectivamente. 

É sob este cenário que o 35º Show Rural Coopavel, que ocorre desta segunda (dia 6) até a próxima sexta-feira (dia 10), no município paranaense de Cascavel, abre o calendário oficial de feiras e exposições do setor primário em 2023. O evento, segundo o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), Dilvo Grolli, foi concebido para ser o maior e o melhor dos seus 35 anos de história. Apesar das incertezas econômicas e políticas que pairam sobre o setor, a expectativa é que os negócios alcancem a casa dos R$ 4,5 bilhões, frente aos R$ 3,2 bilhões da exposição de 2022. Mais de 300 mil visitantes são esperados, superando o recorde obtido em 2020, quando 298 mil pessoas marcaram presença nos 720 mil metros quadrados do Parque Tecnológico da Coopavel, localizado no quilômetro 577 da BR-277, a 12 quilômetros de Cascavel. “Teremos 600 empresas, de diversos segmentos, com suas novidades à disposição, sendo 25% multinacionais”, revela Grolli. Sua expectativa é que o Show Rural 2023 injete mais de R$ 200 milhões na economia local. A simbólica abertura da feira ocorre neste domingo, às 11h, quando uma missa em agradecimento às famílias e à colheita é rezada no parque. Não há cobrança de entrada e de estacionamento a quem participar do evento.

As tecnologias inteligentes, limpas e sustentáveis puxam o bloco das inovações. Segundo o coordenador geral do Show Rural Coopavel, Rogério Rizzardi, um terço das empresas expositoras é do ramo da tecnologia da informação. “Eu ajudei a criar o Show Rural e fico muito impressionado com o que vamos ter aqui. Temos um prédio de 4,6 mil metros quadrados para o segmento digital neste ano, mas logo vamos ter de ter outra área”, comemora. O espaço, que abrigará o Show Rural Digital servia como centro de convenções à cooperativa, mas contou investimento de R$ 6 milhões para dar conta da evolução digital do campo. Localizado no coração do parque, o prédio oferecerá soluções tecnológicas para facilitar a vida do produtor rural dentro e fora da porteira. São opções para todos os gostos e bolsos, com algumas podendo ser construídas ou aprimoradas durante o evento, como nas competições e maratonas das startups.

As obras também passam pela ampliação da área coberta da Casa Paraná Cooperativo e pela reestruturação Espaço Pecuário Coopavel. A intenção, conforme o supervisor comercial e um dos organizadores do local, Cezar Szekut, é proporcionar experiências por meio das quais os visitantes possam agregar conhecimento desde a produção da proteína animal bovina e ovina até o consumo final. “Teremos novidades em bovinos, ovinos e caprinos, com exposição e venda de animais, passando por tecnologias de produção até degustação de cortes”, explica. 

Outro destaque do Show Rural está na presença das fabricantes de defensivos biológicos, produto gerado a partir da tecnologia de microbiológicos. Entre as 15 empresas confirmadas, estão Simbiose, Biotrop, Biosphera, Ihara, UPL, Bayer, Basf e Syngenta. O tema também deve estar entre as pesquisas da Embrapa, que apresentará duas novas cultivares de soja e uma de feijão, além de trabalhos focados na agricultura de precisão, na produção sustentável e na preservação de recursos naturais. As tecnologias, desenvolvidas em sete dos seus centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, podem ser conferidas na Casa da Embrapa, na Vitrine de Tecnologias, na Unidade Didática Agroecológica e no Show Rural Digital. 

O otimismo dos organizadores é justificado, além da previsão de uma safra brasileira recorde, de 312 milhões de toneladas, pelos resultados da Coopavel frente aos desafios geopolíticos internacionais e econômicos de 2022. De janeiro a dezembro do ano passado, a cooperativa, fundada em 1970, contabilizou 6.968 cooperados e 7.118 colaboradores nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. “Os produtores são 72% de pequeno porte, 24% de médio porte e 5% de grande porte”, pontua Grolli. O faturamento da Coopavel totalizou R$ 5,43 bilhões, ante R$ 4,94 bilhões do exercício anterior, com lucro de R$103 milhões. Somente as indústrias de rações produziram 520,1 mil toneladas, a de sementes, 493,8 mil sacas e a de esmagamento de soja, 263,4 mil toneladas. A produção do moinho de trigo atingiu 162,7 mil toneladas, a de fertilizantes, 122,2 mil toneladas, a de fertilizantes foliares, 830 mil litros, e a de produtos de higiene e limpeza, 176,3 mil litros. “Destinamos R$ 367,3 milhões para investimentos. Isso representa mais de R$ 1 milhão por cada dia do ano passado, preparando-nos para um cenário de mudanças importantes e oportunidades”, analisa Grolli.

Revolução digital acessível ao campo 

Experiências no Metaverso, ambiente virtual que simula a realidade, e Copa do Mundo das startups são algumas das atrações prometidas para a área de 4,6 mil metros quadrados destinada à inovação no Show Rural 

No espaço digital, o visitante poderá fazer conexões imersivas, sem barreira geográfica, entendendo a dimensão do potencial da tecnologia do Metaverso no cotidiano das empresas e na gestão da propriedade | Foto: Assessoria Coopavel / Divulgação / CP.

Quem ainda não teve a oportunidade de vivenciar o tão comentado Metaverso poderá experimentar no Parque Tecnológico da Coopavel, em Cascavel. Esta será uma das atrações, do dia 6 ao dia 10 de fevereiro, do 35º Show Rural Coopavel. E estará ao alcance do produtor no chamado Show Rural Digital. A tecnologia integra um pacote de novidades que têm como objetivo principal auxiliar o produtor a ampliar produtividade agrícola e pecuária sobre o mesmo espaço de terra e de forma sustentável, a reduzir desperdícios e a preservar o meio ambiente, tudo de forma mais rápida, eficiente e rentável.

Para conhecer a vida no mundo virtual, onde aumenta a presença do mundo corporativo dia a dia, o visitante receberá seu avatar (personagem virtual) e será devidamente equipado. Automaticamente, ele será conectado a espaços coletivos imersivos, sem nenhuma barreira geográfica, através dos quais poderá compreender a dimensão do potencial disruptivo dessa tecnologia no cotidiano das empresas, na vida das pessoas e na gestão do negócio rural.

Uma das experiências será oferecida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que proporciona um tour digital pelo estado do Paraná e por diversas indicações geográficas espalhadas pelo Brasil. O tema também está na agenda da Meta (antigo Facebook). Em seu estande, oferecerá ferramentas digitais ao metaverso e treinamentos imersivos sobre realidade virtual e em terceira dimensão (3D). A gigante da inovação tecnológica ainda traz os gêmeos digitais, uma tendência em expansão criada para facilitar e tornar mais ágil a inserção de lojas físicas no universo digital, principalmente no que se refere à tecnologia das coisas.

De acordo com o coordenador geral do Show Rural Coopavel, Rogério Rizzardi, essas vivências mostram que o Metaverso está para o agro assim como já esteve o plantio direto, a utilização de máquinas, a incorporação da tecnologia autônoma e o uso dos drones. “Muitas tecnologias, ao longo da história, reescreveram a forma de fazer agricultura e de potencializar seus resultados, sempre com os olhos voltados para a sustentabilidade”, comenta. 

O Show Rural Digital está sediado no “coração do parque”, como diz o coordenador do espaço, José Rodrigues da Costa Neto. Ancorado por big techs (empresas dominantes do setor da tecnologia da informação), como Google, IBM, Dell, Huawei e Oracle, os 4,6 mil metros quadrados do antigo Centro de Convenções coloca os brasileiros lado a lado com expositores norte-americanos, europeus, chilenos, argentinos e chineses. O local é ideal também para entender um pouco mais da dinâmica das startups, empresas originadas a partir de uma solução inovadora, destinada a determinado segmento, que invade porteiras Brasil afora. A programação para o segmento é intensa. Além das 25 baias onde irão expor seus produtos e serviços, participarão de maratonas, competições, capacitação e poderão, ainda, sair de lá com investidores consolidados. 

A Praça da Inovação Audi será o palco para que as empresas embrionárias façam seus “pitchs”, ou seja, apresentações curtas e diretas sobre seu negócio com o objetivo de despertar a atenção de investidores, parceiros ou clientes. “Faremos uma mentoria, um treinamento com essa garotada pra que eles aprimorem o ‘pitch’ de startup aqui dentro. Será o chamado ‘Bootcamp’”, explica Neto. O segmento também contará com o Top 10 Startup, premiação realizada pela Coopavel em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para as dez startups melhor ranqueadas do estado do Paraná. O “Like a Farmer” será uma espécie de “Copa do Mundo das startup”, onde as três primeiras colocadas receberão premiação em dinheiro”, detalha. A cereja do bolo será a batalha das startups, na qual as melhores colocadas poderão receber um investimento de R$ 200 a R$ 1 milhão. 

O pacote tecnológico do Show Rural Digital apresenta ainda um espaço multiuso, batizado de Fly Arena DJI, em alusão à maior fabricante mundial de drones e o Fórum de TI das Cooperativas, evento que se tornou tradicional por reunir cooperativados de diversos setores da economia brasileira. “Vale muito a pena o público passar por aqui olhar as novidades. Costumamos dizer que olhamos pra dois prismas, da porteira pra dentro e da porteira pra fora, ou seja, trazendo soluções e automações tanto para o homem do campo como para empresas”, avalia Neto. Um dos exemplos está no grupo Piccin, originário da Piccin Tecnologia Agrícola, indústria de implementos voltados à preparação do solo, criada em São Carlos (SP) ainda em 1964. Duas startups incubadas pelo grupo estarão na Arena Digital do Show Rural: a Easyland, aplicativo que aproxima arrendador de arrendatários, e a Prediza, agtech de análise de dados e recomendações agronômicas a partir de sensores e de uma miniestação meteorológica na propriedade. “O aplicativo traz facilidades desde a parte de documentação, análise legal, apoio jurídico até o acompanhamento após o arrendamento, como monitoramento da terra. E é para terras em qualquer lugar do Brasil”, destaca o engenheiro agrônomo e head de Marketing do grupo Piccin, Marco Gobesso. 

Atrair clientes é aposta do setor de máquinas

Com dificuldades de recursos oficiais para financiamento, indústrias de máquinas e implementos agrícolas acreditam na geração de intenções de negócio que se concretizarão a partir do próximo Plano Safra

Esta edição do Show Rural Coopavel, provavelmente, possibilitará ao setor máquinas e implementos agrícolas a prospecção de negócios que deverão ser concretizados ao longo de 2023. Com o esgotamento de recursos federais destinados ao setor via Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) e Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) no Plano Safra 2022/2023, as atenções estarão voltadas à realização de novos contatos para futuras comercializações. 

“Uma feira vai além de você vender. Claro que efetivar o negócio é muito bom, mas o cliente vai ver uma máquina e nem sempre compra. É quando ele pega o contato do vendedor, que forma o que chamamos de ‘lead’ (dados básicos sobre o comprador) para efetivar o negócio ao longo do ano”, explica o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos de Oliveira. 

Com taxas de juros em torno de 16% nas linhas oferecidas pelas instituições bancárias, Estevão crê que nem mesmo a projeção de safra recorde deve, neste primeiro encontro do agro brasileiro no ano, dar grande impulso às vendas. “Temos um Plano Safra que o governo antigo deixou sem linhas de financiamento, o que, muito provavelmente, vai prejudicar as vendas das feiras. O produtor vai esperar o próximo Plano Safra, em julho”, analisa. Outro ponto que deve direcionar a participação do setor na feira é o fato de o novo governo federal ainda estar “tomando pé” da situação do país e, especificamente, do setor agropecuário brasileiro. “Precisamos dar uns três meses para saber que linha o governo vai tomar”, avalia o empresário.

Em exposição, estarão os primeiros lançamentos do ano dos grandes fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas. Máquinas inteligentes, com alta tecnologia embarcada para ampliar a sustentabilidade da atividade rural no Brasil compõe a grande maioria dos produtos expostos. Nesse sentido, destacam-se equipamentos direcionados à aplicação de produtos biológicos, ao cuidado com o solo e à alta conectividade. O foco está na precisão e na agilidade da adubação, com racionalização no uso de fertilizantes, uniformidade na aplicação e economia de produtos, tudo de forma consorciada e com o apoio de softwares especialmente desenvolvidos para auxiliar no manejo e na gestão, do plantio à colheita.

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Um dos exemplos está na Jacto, indústria que apresenta, no Show Rural, ferramentas feitas para ajudar o produtor a ajustar a faixa de aplicação na operação de adubação, ganhando agilidade e precisão na distribuição e dosagem dos fertilizantes no solo. Por meio do aplicativo SmartSet, a fabricante as disponibiliza nas linhas de adubadoras a lanço Uniport 5030 NPK e Tellus 10.000 NPK. A estimativa, segundo divulgou a empresa, é que ambas propiciem uma redução de 15% na aplicação precisa, uniforme e econômica dos produtos. “Agora, na Era do Conhecimento, presenciamos maior atenção aos produtos biológicos contra pragas e doenças das plantas, e cuidados com o solo, além de tecnologias e conectividade para uma gestão dos negócios baseada em dados”, comenta o presidente da Jacto, Fernando Gonçalves.

Os participantes da exposição também encontrarão opções para ramos não tão convencionais, como a avicultura, segmento cuja produção brasileira é liderada pelo Paraná. Por isso, a LS Tractor levará dois modelos desenvolvidos para auxiliar criadores de aves a manejar a chamada cama de frango. Tratam-se do LS Tractor R50 e o LS Tractor R65, tratores indicados para desempenho indoor. Com dimensões reduzidas e ajustáveis, as máquinas usam uma enxada rotativa para evitar o acúmulo de umidade e as oscilações de temperatura que podem interferir na conversão alimentar das aves. "Por conta de sua origem na Coreia do Sul, onde as propriedades são pequenas, os tratores LS apresentam excelente performance em espaços reduzidos”, ressalta o gerente de Marketing e Vendas da LS Tractor, Astor Kilpp.

Feira fortalece estrutura para receber pecuária

Espaço ampliado para abrigar as criações no 35º Show Rural Coopavel visa aproximar os pecuaristas de produtos, tecnologias e serviços que estão disponíveis para a atividade dentro e fora da porteira

Com a necessidade de intensificar a produção de grãos e otimizar o uso da terra, a presença da pecuária foi gradativamente crescendo nas 34 edições do Show Rural já realizadas em Cascavel. Prova disso está no Espaço Pecuária Show Rural Coopavel, que abrigará bovinos de corte, de leite, ovinos e caprinos. Conforme o médico veterinário Augusto Mezzon, neste ano estarão no parque 170 bovinos de argola. As raças de corte com presença confirmada são Charolês, Caracu, Franqueiro, Angus, Brangus, Devon, Purunã, Canchin, Brahman, Nelore, Nelore Pintado e Senepol. As de leite são a Holandês e a Jersey. 

Outras 120 cabeças de gado Puro de Origem para comercialização serão disponibilizadas em um sistema de venda direta. As negociações envolvem as raças Nelore, Nelore Pintado, Tabapuã, Purunã, Canchin, Senepol, Angus e Brangus, e serão realizadas de criador para criador, sem intermédio dos organizadores. “Teremos seis barracões somente para os animais de argola e um só para os comerciais porque acontecem muitos negócios na feira e depois dela”, destaca Mezzon.

O supervisor comercial e um dos organizadores do Espaço Pecuária, Cezar Szekut, explica que a intenção, ao ampliar a presença da pecuária no evento é evidenciar o processo de produção da proteína de grandes animais, do pasto até o prato. Por isso, mais do que expor o resultado da alta genética empregada na produção de carne paranaense, o local colocará os pecuaristas em contato com serviços e produtos que envolvem a atividade dentro e fora da porteira. Alguns estarão expostos no Espaço Pecuário Coopavel, no qual a cooperativa apresenta suas marcas próprias. “Vamos expor um dos principais produtos que comercializamos, que é a ração Coopavel. Já estamos com duas indústrias voltadas à produção de bovinos, produzindo 25 mil toneladas ao mês para gado de corte e de leite”, revela Szekut.

Bovinos Nelore estarão entre os animais de corte confirmados para os concursos que ocorrerão durante a semana | Foto: Juliana Sussai / Embrapa / Divulgação / CP.

Também integram o portfólio de indústrias e negócios ligados à pecuária a Coopclean (produtos de limpeza), os frigoríficos de suínos e de aves, a Credicoopavel e a Cooperelas, o grupo formado por colaboradoras e produtoras rurais filiadas à cooperativa. Estão previstas ainda degustações de cortes bovinos em parceria da Coopavel com o frigorífico Padrão Beef.

A notoriedade dos bovinos, neste Show Rural Coopavel, se estende aos ovinos. O segmento ganhou um barracão próprio e, sob organização da Associação Paranaense de Criadores de Ovinos (Ovinopar), contará com 300 exemplares. Segundo o presidente da Ovinopar, Pedro Rocha de Abreu, 12 raças participam da feira, dentre as quais Dorper, White Dorper, Texel, Ilê de France Poll Dorset, Suffolk, Santa Inês e Hampshire Down, além dos caprinos da raça Boer. “Os animais provêm de criadores do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de São Paulo”, aponta Abreu. A agenda das raças tem como principal programação os julgamentos, que, pelo segundo ano consecutivo, integram o ranking paranaense. 

Fonte: Correio do Povo
Seção: Máquinas & Agro
Publicação: 06/02/2023