Notícias

México eleva tarifas e tensiona a indústria do aço em meio ao crescente papel chinês na mineração

O México acendeu o alerta na indústria do aço ao aprovar tarifas de até 50% sobre 1.463 produtos a partir de 2026, uma decisão que recalibra sua relação comercial com a China em um momento de sobreoferta global de aço e crescente pressão dos Estados Unidos.

O pacote tarifário faz parte de uma estratégia para reforçar a produção nacional e modificar a estrutura de importações, especialmente em setores nos quais o México mantém forte dependência de insumos asiáticos. A medida também introduz um novo nível de tensão nas cadeias de manufatura, que podem enfrentar custos mais altos em uma ampla gama de bens industriais.

O ajuste afetará setores integrados às cadeias globais de valor, em especial a siderurgia, além de produtos essenciais como aço, ferro e componentes eletrônicos, todos fundamentais para a manufatura e a produção industrial.

A Associação Latino-Americana do Aço advertiu que a região enfrenta uma situação crítica devido à superprodução e aos subsídios estatais ao aço na China. As exportações chinesas de aço acabado e semiacabado para a América Latina aumentaram 233% nos últimos 15 anos, enquanto as de aço indireto cresceram mais de 338% entre 2008 e 2024, com impactos significativos no México.

O intercâmbio comercial entre México e China em 2024 alcançou US$119,5 bilhões (bi), embora apenas 1,61% das exportações mexicanas tenham sido destinadas ao país asiático, principalmente minerais de cobre. Em contraste, a China representou 20,3% das importações mexicanas, incluindo categorias relevantes para a indústria, como componentes eletrônicos essenciais para a produção mineradora e metalúrgica.

Na mineração, embora a produção local seja dominada por empresas do Canadá e dos Estados Unidos, companhias chinesas participam indiretamente por meio de firmas estatais como a China Communications Construction, focadas em infraestrutura chave para o transporte de minerais, e por meio de investimentos industriais de grande escala, como a planta da Lingong Machinery, que destinou US$5bi a um complexo industrial em Nuevo León.

A decisão mexicana gerou críticas de Beijing. O embaixador chinês no México, Chen Daojiang, advertiu que as tarifas poderiam atrasar projetos econômicos bilaterais. Analistas sustentam que a medida pode fazer parte de uma estratégia de alinhamento com os Estados Unidos antes da revisão do T-MEC, aumentando a incerteza para investidores de setores estratégicos como mineração e aço.

“É conhecida a forte relação comercial com os Estados Unidos e existe uma pressão externa para manter um comércio estável com esse país. Embora internamente se busque desenvolver mais produção local, é provável que os produtos norte-americanos supram uma possível ausência da China”, disse à BNamericas Oscar Guillot, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Brasil.

Empresários mexicanos também questionaram a política tarifária por seu impacto em preços e cadeias produtivas, especialmente considerando que mais de 300 produtos pagarão pela primeira vez impostos de entre 5% e 50%. Embora a medida afete outros países como Brasil, Coreia do Sul e Índia, seu anúncio ocorre em um momento em que os Estados Unidos intensificaram a pressão para que a América Latina reduza sua exposição econômica à China.

Resta ver se o governo da presidenta Claudia Sheinbaum conseguirá arrecadar as receitas adicionais necessárias para reduzir o déficit fiscal. Caso não o faça, a política poderia limitar o papel que a China tem desempenhado na construção de infraestrutura essencial para indústrias como a de mineração e a siderúrgica.

 
Fonte: BN Americas
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 12/12/2025

 

Mercado vê Selic em 15% e se divide sobre corte em janeiro

O quadro econômico atual de desaceleração da atividade e melhora da inflação contrasta com a postura persistentemente conservadora de integrantes do Comitê de Política Monetária Copom) do Banco Central, o que leva à expectativa praticamente unânime do mercado de que o colegiado manterá a Selic parada em 15% nesta semana.

Das 112 casas consultadas, apenas duas esperam que o ciclo de cortes da taxa Selic se inicie já na reunião do dia 10. Para os economistas ouvidos pelo Valor, o Copom deve manter um discurso mais cauteloso e preservar algum grau de liberdade para a decisão de janeiro. O levantamento revela, ainda, uma divisão do mercado em relação à primeira reunião de 2026: 54% acreditam que será o mês do início do ciclo de flexibilização, ao passo em que 44% esperam que os cortes serão adiados para o encontro de março e adiante.

A postura bastante cautelosa dos diretores do BC - em especial do presidente da autarquia, Gabriel Galípolo - deixa o mercado em dúvida acerca de possíveis sinalizações do comunicado da decisão desta semana. Entre aqueles que não esperam grandes alterações em relação ao documento da reunião de novembro do Copom, Marcela Rocha, economista-chefe para América Latina da Principal Asset Management, considera que há um incentivo pequeno para o Copom suavizar a sua comunicação neste momento. Para ela, o conteúdo deve ter pouquíssimas alterações e a projeção de inflação do BC dentro do horizonte relevante seguirá em 3,3%.

“Um corte em janeiro seria justificável, mas a comunicação do BC ainda tem sido dura. O BC não tem mostrado euforia com os números melhores de inflação corrente e não dá muita ênfase a essa desaceleração da atividade. O próprio Galípolo tem dado mais importância aos dados ainda resilientes do mercado de trabalho”, destaca.

Embora tenha em seu cenário-base um corte de 0,25 ponto percentual da Selic em janeiro - a 14,75% -, Rocha avalia que a convicção é baixa justamente por conta da postura conservadora do Copom, e entende que há mais chances de o primeiro corte passar para março.

“O que nos deixa ainda com janeiro foi a sinalização dada pelo Galípolo quando ele fala sobre o termo “bastante prolongado”. Havia um desconforto entre nós sobre pensar em cortar juros com essa frase [na comunicação], mas ele reduziu a importância dessa frase”, lembra a economista da Principal.

Rocha se refere à participação do presidente do BC em evento organizado pela XP Investimentos na segunda-feira (1), quando ele afirmou que a manutenção, ou não, do trecho do comunicado que descreve um “período bastante prolongado” de juros elevados não indica qualquer decisão do Copom à frente. “Não sei se a gente tem a necessidade ou obrigação de criar algum tipo de código dentro da comunicação que vá telegrafar quando o BC vai fazer algo”, disse Galípolo.

Nesse sentido, Rocha não vê mais na manutenção da frase no comunicado da reunião de dezembro um impeditivo para que o BC corte os juros em janeiro. No entanto, ela admite que, em relação à expectativa do mercado, “a régua para cortar fica ainda mais alta”.

“Precisaríamos ver uma evolução de dados surpreendendo positivamente, e não apenas em linha com o esperado, e talvez uma nova rodada de queda das expectativas de inflação do relatório Focus”, diz ela. Achamos que os dados de inflação podem vir na ponta mais otimista, mas o mercado poderia, sim, ficar ainda mais cético com o corte em janeiro.”

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, a sinalização sobre o termo “bastante prolongado” tem pouca importância e não deveria significar nenhuma indicação sobre os próximos passos da política monetária.

“O ‘bastante prolongado’ se refere a todo o período de restrição monetária, que vai continuar. A Selic continuaria muito restritiva mesmo se fechar o ano [de 2026] em 12%, que é a nossa projeção”, diz. Ela admite, contudo, que um comunicado muito parecido com o da reunião de novembro indicaria pouca abertura para discutir cortes da Selic.

“Esperamos em outros parágrafos esse indicativo. Estamos muito distantes da taxa neutra [que não estimula nem comprime a demanda], o começo dos cortes servirá para tirar um pouco do excesso.”


"Seria a primeira vez que o Copom cortaria os juros com o modelo fora da meta e com o Focus também”
— Ivo Chermont

Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, considera que o presidente do BC foi bem sucedido ao desarmar o termo e diminuir a importância que a permanência da frase no comunicado teria para os próximos passos da política monetária. Nesse sentido, o BC não deve querer se comprometer com nenhum cenário, dada a grande quantidade de dados que ainda devem vir até a reunião de janeiro, avalia.

“O Galípolo costuma dizer que não é que ele sabe e não quer dar a dica; é que ele realmente não sabe. Acredito que a linguagem que o Copom utilizará será ‘neutra’ aos preços de mercado de hoje e não vai passar nenhuma sinalização concreta”, afirma o economista, que espera um primeiro corte da Selic apenas em março do ano que vem.

Ainda, na visão de Chermont, houve outras oportunidades em que o BC deu início aos cortes de juros com a projeção de inflação ainda “ao redor da meta”, mas a estratégia seria mais arriscada desta vez, já que as expectativas de longo prazo no Focus também estão desancoradas.

“Seria a primeira vez que o Copom cortaria os juros com o modelo fora da meta e com o Focus também fora da meta. É mais um motivo para esperar. Ganharia três ou quatro meses para o Focus se aproximar do centro da meta. Dados os preços de mercado, uma surpresa para o lado ‘hawk’ [mais restritivo] ajudaria na convergência das expectativas. E até o calendário ajudaria: de janeiro a março tem o carnaval e haveria pouco ruído político. Seria muito vantajoso.”

Chermont reconhece, no entanto, que se os dados de atividade do quarto trimestre derem sinais mais fortes de desaceleração da atividade, o cenário poderia mudar. A gestora espera uma Selic de 11,50% no fim de 2026.

Na ponta mais otimista, Vitória, do Inter, vê espaço para o ciclo de cortes começar em janeiro, com base no quadro de desaceleração da atividade e da inflação, o que deve se refletir no comunicado do Copom nesta semana, prevê.

“Nossa expectativa é por um comunicado um pouco menos duro, abrindo espaço para a discussão de queda da Selic em janeiro”, diz ela. Na sua avaliação, há espaço para um recuo adicional das expectativas de inflação do Focus, além de um cenário externo mais positivo, com a perspectiva de continuação do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mantendo o dólar comportado, o que ajuda no processo de desinflação.

Vitória também considera que os últimos dados de atividade, em especial o PIB do terceiro trimestre, mostraram um arrefecimento “mais claro” da atividade, além da desaceleração gradual que consta no cenário-base do Copom. “A desaceleração ficou mais clara, principalmente pela composição qualitativa [do PIB] com queda maior do consumo, o que favorece o cenário prospectivo de inflação em queda.”

O cenário-base do Inter é de uma Selic em 12% ao fim de 2026, projeção próxima daquilo que o mercado embute na curva de juros futuros. Por enquanto, segundo Vitória, não há por que identificar o cenário eleitoral como um impeditivo para a redução dos juros no curto prazo, mas se a volatilidade tradicional do período levar o dólar a patamares mais próximos de R$ 6, é possível que o Copom se veja obrigado a diminuir a extensão do ciclo de cortes da Selic.

Já Rocha, da Principal, espera um corte menor da Selic ao longo do ano que vem, para o patamar de 13%. Segundo ela, o mercado de trabalho resiliente e as medidas de estímulo à demanda esperadas para o ano eleitoral colocam um risco de alta para o crescimento da atividade, o que pode alimentar a inflação.

Além da volatilidade eleitoral e as perspectivas fiscais voltando ao foco, ela identifica um cenário externo menos favorável ao real. “Apesar de o diferencial de juros ser contra o dólar [com a flexibilização monetária do Fed], o crescimento da economia dos EUA ainda será de mais de 2%. Então, não vemos muito espaço para o dólar se desvalorizar. Com um dólar um pouco mais forte ou estável, o ambiente de maior incerteza por aqui por conta da eleição pode pesar na moeda brasileira”, afirma.

 

 
Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/12/2025

 

O que são terras-raras? Entenda como é a extração desses minerais e por que se tornaram tão cobiçados no mundo

O rápido desenvolvimento de novas tecnologias avançadas, das baterias de carros elétricos e painéis fotovoltaicos aos semicondutores e armamentos, provocou um aumento global da demanda por minerais críticos que são insumos dessas novas indústrias.

As chamadas terras-raras estão entre as mais cobiçadas matérias-primas do mundo atualmente e ganharam uma importância geopolítica sem precedentes com a guerra comercial promovida pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

O Brasil desponta com vantagens naturais nessa corrida. Reportagem do GLOBO mostra que oito projetos de mineração de elementos de terras-raras (ETRs) em curso no Brasil poderão desenvolver mais de um terço da reserva potencial do país — considerada a segunda maior do mundo, só atrás da da China, que domina esse mercado, incomodando Trump.

São 21 milhões de toneladas totais de óxidos de terras-raras (TREO, em inglês), atrás só da China, conforme o Serviço Geológico dos EUA (USGS). Os projetos mais avançados, em Minas, Goiás, Bahia e Amazonas, somam 38% disso, com capacidade de produzir 7,98 milhões de toneladas de TREOs, segundo o relatório do Cebri e informações das empresas.

Para acadêmicos, consultores e executivos, o Brasil se destaca nesta nova dinâmica pelo tamanho e pela qualidade das reservas. Segundo estimativa recente do Ibram, que reúne empresas brasileiras de mineração, os investimentos somam US$ 2,2 bilhões (R$ 11,5 bilhões) de 2025 a 2029.

Do que estamos falando?

São muitos os bilhões envolvidos sempre que se fala neste assunto, mas, afinal, de que tipo de matéria-prima todo o mundo está cobiçando como nunca? O que de fato está em jogo? Confira a seguir infográficos que vão te ajudar a entender mais desse assunto.

 

Onde estão as reservas brasileiras?

O Brasil tem interesse em atrair investimentos para explorar ETRs, cuja produção demanda uma cadeia industrial de beneficiamento. Os oito projetos mais adiantados no país foram mapeados em um relatório do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), feito com o Ibram e instituições de pesquisa.

Estão à frente deles empresas estrangeiras, principalmente pequenas mineradoras de capital aberto, conhecidas como “junior mineral companies”, de EUA, Austrália e Canadá. No entanto, a maior parte está em estágios inicias e apenas um está em operação. Faltam planos para explorar cerca de dois terços do potencial brasileiro.

 
 

O Brasil tem ainda outros 12 projetos nessa área, a maioria ainda sem reservas estimadas. A Terra Brasil Minerals espera concluir nos próximos meses a venda de uma fatia minoritária de suas ações para investidores internacionais como forma de levantar US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) para iniciar um outro projeto em Patos de Minas (MG) que combina ETRs com fosfato e potássio, usados na fabricação de fertilizantes, informou a Reuters.

Por que nossas reservas são competitivas?

Além de o Brasil ter grandes reservas de terras-raras, está em uma posição única fora da Ásia no quesito qualidade. O país tem ETRs em depósitos de argila iônica. Reservas desse tipo, na província de Jiangxi, no centro-sul da China, foram o diferencial do país asiático para dominar o setor.

Antonio de Castro, gerente de exploração da Brazilian Critical Minerals (BCM), mineradora de capital aberto na Bolsa australiana, diz que a transposição de tecnologia chinesa para o Brasil reduz o investimentos necessários para a produção, confirmando a competitividade brasileira

— Não é o momento de inventar e, sim, de copiar. Toda a Ásia faz (a lixiviação, uma espécie de lavagem) in situ (no local). Resolvemos fazer também — diz Castro, prevendo o início das operações para 2027. — Hoje, a BCM é a única empresa no Ocidente que está caminhando para produzir como os chineses e os asiáticos produzem (fora da China).

Por que esse tipo de mineração importa?

O investimento da China no setor, mantido estrategicamente por Pequim desde os anos 1980, deu-se com saltos tecnológicos que derrubaram custos de produção e deram à China uma grande competitividade no momento em que a indústria de tecnologia e transição energética precisa cada vez mais de terras-raras.

Enfrentar a competitividade da China não é simples, mas as rusgas diplomáticas com os EUA estão estimulando o Ocidente a buscar fontes alternativas. Esse desafio é uma oportunidade de atração de investimentos e negócios para o Brasil.
 

Como é a complexa cadeia de produção de terras-raras?

Segundo Fernando Landgraf, professor da Escola Politécnica da USP, a corrida por alternativas à China nos ETRs precisa ir além da pesquisa de reservas e concessões. Passa por investimentos nas demais fases industrias de beneficiamento dos minerais.

No caso das terras-raras, trata-se de um sofisticado processo de separação de elementos e tratamentos para chegar aos insumos que as indústrias de tecnologia buscam. A China desenvolveu muito bem essa cadeia. Nem EUA nem a Europa têm capacidade de refino para atender a demanda ocidental. A produção de baixo custo chinesa inviabilizou vários projetos similares fora da Ásia nos últimos anos.
 

 

O Brasil tem uma estratégia?

A resposta para o título acima é: não. Ou ao menos não ainda. Um projeto de lei (PL) tramita no Congresso para dar ao Brasil uma Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos. O relator, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), já indicou informalmente nas linhas gerais de seu parecer um pacote de incentivos para atrair investimentos em beneficiamento e refino.

Parte dos especialistas defende políticas industriais para o setor, embora incentivos malsucedidos do passado sejam frequentemente citados como sinal de alerta. Executivos apontam a importância de priorizar e agilizar os processos de licenciamento ambiental, ainda que seja mantido o rigor. Por outro lado, a mineração é um dos setores que mais preocupam ambientalistas.

— Temos um problema estrutural: é difícil desenvolver indústria no Brasil — diz Aline Nunes, gerente de Assuntos Minerários do Ibram. — Sem incentivos fiscais e atração de investimentos é impossível.

O relatório de Jardim deve prever um pacote com benefícios tributários, autorização para emissão de títulos de dívida incentivados — similares às chamadas “debêntures de infraestrutura”, com isenção tributária — e o Fundo Garantidor da Atividade Mineral, destinado à concessão de garantias a financiamentos para pequenas mineradoras, que têm caixa apertado e poucos ativos.

A falta de garantias é um obstáculo até mesmo para créditos do BNDES, que estimula investimentos produtivos. Os benefícios não seriam restritos ao setor de terras-raras.

O BNDES promete para o início de 2026 a aprovação dos primeiros projetos da Chamada Pública de Planos de Negócios para Investimentos em Transformação de Minerais Estratégicos, que distribuirá R$ 5 bilhões, em parceria com a Finep, agência de fomento à inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Em junho, a primeira etapa de seleção da chamada escolheu 56 projetos, que preveem R$ 45,8 bilhões. Embora os R$ 5 bilhões disponíveis — para crédito, títulos de dívida e até investimentos em participação acionária — pareçam pouco perante os planos de investimento, BNDES e Finep veem espaço para conseguir mais recursos ao longo do tempo.

O Ministério de Minas e Energia (MME) diz, em nota ao GLOBO, que está “contribuindo para que o marco regulatório resultante ofereça segurança jurídica, previsibilidade e ambiente competitivo para investidores e operadores”. E defende, no caso das terras-raras, “o domínio de tecnologias de separação e refino”. “A visão do MME é de que o desenvolvimento da cadeia de terras raras deve ocorrer de forma integrada, sustentável e com foco na agregação de valor no país”, diz a nota.

A experiência brasileira do nióbio pode ajudar?

A mineradora brasileira CBMM é apontada como um paradigma para o país planejar o desenvolvimento da cadeia de terras-raras. O desenvolvimento do mercado global de nióbio — usado para melhorar ligas de aço e que tem sido testado em baterias — está ligado a investimentos da empresa da família Moreira Salles em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de refino e aplicações para a matéria-prima.

Hoje, o Brasil domina 90% da produção mundial do nióbio, sem incentivos específicos, embora André Pimenta, coordenador do Instituto de Terras-Raras do Senai de Minas, aponte o apoio do governo mineiro ao longo dos anos.

A CBMM evita comentar políticas de incentivo, mas ressalta, em nota, que “não vende minério, somente produtos industrializados de alto valor agregado, buscando maximizar a geração de valor e avançar na cadeia produtiva”. Investe até R$ 300 milhões por ano em tecnologia, em “mais de 200 projetos em parceria com universidades, centros de pesquisa e clientes” no Brasil e no mundo.

 
Fonte: O Globo
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 08/12/2025

 

Terras raras expõem dilema entre avanço e proteção no Brasil

O Brasil se vê, mais uma vez, diante de um daqueles momentos decisivos que definem o rumo de uma nação. De um lado, a promessa concreta de um investimento bilionário, da ordem de 655 milhões de dólares, para explorar um recurso estratégico para o futuro do planeta: as terras raras. Minerais essenciais para a produção de turbinas eólicas, veículos elétricos e uma infinidade de tecnologias verdes. Do outro, a memória recente e dolorosa de um passado onde a pressa pelo desenvolvimento deixou um rastro de lama, luto e destruição em Minas Gerais.

Duas mineradoras australianas, a Viridis Mining e a Meteoric, são as protagonistas desta nova encruzilhada. Com projetos localizados em solo mineiro – o Colossus, de 358 milhões de dólares, e o Caldeira, de 297 milhões –, elas representam a vanguarda de uma corrida global por minerais críticos. No entanto, o caminho para desbloquear essa riqueza não é mais um terreno aberto e sem questionamentos. Em novembro, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a suspensão das análises de licenciamento ambiental dos projetos, pedindo novos estudos e consultas sobre riscos sociais e ambientais. A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) atenderam à recomendação, travando momentaneamente o processo.

Essa intervenção não é um mero formalismo burocrático. É um sinal de um país que, ainda se recuperando das feridas de Mariana e Brumadinho, se permite – ou deveria se permitir – ser mais cauteloso. É o reflexo de uma sociedade civil mais atenta e de instituições que, espera-se, aprenderam com a tragédia. A pausa imposta pelo MPF ecoa o clamor de comunidades que já sentem na pele o peso secular da mineração e exigem que, desta vez, suas vozes sejam ouvidas antes, e não depois, do estrago.

A confiança das empresas e a resistência das instituições

As empresas, no entanto, mantêm um otimismo inabalável. Seus discursos são de confiança no processo e na solidez técnica de seus estudos. Rafael Moreno, diretor da Viridis, afirma que o projeto Colossus “continua a se beneficiar de um forte apoio em todos os níveis do governo brasileiro” e vê a retirada temporária da pauta do Copam como um “procedimento padrão”. Ele garante que todos os pontos do MPF já foram respondidos no Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e em audiências públicas, projetando confiantemente a retomada da análise para 19 de dezembro.

A Meteoric segue uma linha similar. Seu diretor, Stuart Gale, reconhece a frustração com o adiamento, mas sustenta que “o trabalho realizado pela nossa equipe sustenta a aprovação” da licença prévia. “Com base em nossa análise, não parece haver novos impedimentos”, completou, demonstrando fé na agilidade da retomada.

A postura das companhias é compreensível do ponto de vista do negócio. Elas apostam em um Brasil que, sob a gestão atual, mostra sinais robustos de recuperação econômica. O terceiro governo do presidente Lula registra a menor taxa média de desemprego (6,4%) desde o início da série histórica, com a renda média do trabalhador batendo recorde e crescendo 9,7% entre 2023 e setembro deste ano. Com a recente isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais, a perspectiva é de que esse poder de compra continue a se expandir. A inflação, outro fantasma do passado recente, está sob controle, projetada para ser a menor em um período de quatro anos na história do país.

São números que desenham um cenário macroeconômico favorável e que, sem dúvida, atraem investimentos. O senador Humberto Costa (PT-PE) celebra este “momento histórico” de uma política econômica que, em suas palavras, “promoveu crescimento acima de qualquer previsão”. A senadora Augusta Brito (CE) reforça que estes “não são só números soltos”, mas representam “famílias que conseguiram voltar a pôr comida na mesa”.

O verdadeiro desenvolvimento é aquele que não repete erros

Aqui reside justamente o cerne do debate. O desenvolvimento econômico celebrado em Brasília precisa ser harmonizado, na prática, com a justiça social e ambiental nos territórios onde os projetos se instalam. Não basta gerar emprego e renda agregada no país se, localmente, o resultado for a degradação de nascentes, o assédio a comunidades tradicionais ou a repetição de um modelo extrativista que trata o meio ambiente como entrave.

O MPF, ao recomendar a pausa, age como um freio de arrumação necessário. Ele lembra a todos – governo, empresas e sociedade – que o licenciamento ambiental não é uma mera formalidade a ser cumprida, mas um instrumento crucial de proteção. A interrupção é um tempo precioso para se perguntar: os estudos são realmente robustos? As consultas às comunidades foram feitas de forma livre, prévia e informada? Os planos para eventuais passivos ambientais são sólidos e independentes?

O Brasil não pode abrir mão deste rigor. A exploração das terras raras, símbolo da transição para uma economia de baixo carbono, não pode nascer sob a sombra de velhas práticas predatórias. O país que recentemente saiu do Mapa da Fome e que recupera a renda de sua população não pode permitir que a busca por minerais do futuro comprometa a segurança hídrica e a qualidade de vida no presente.

A decisão que agora retorna ao Copam é mais do que técnica; é política e ética. As mineradoras australianas podem estar certas em sua confiança burocrática. Mas a confiança que o Brasil precisa construir é outra: a de seu povo, que exige, legitimamente, que a prosperidade anunciada não chegue, mais uma vez, acompanhada de lama e lamento. O verdadeiro recorde a ser batido não está apenas nos indicadores econômicos, mas na capacidade de desenvolver-se sem destruir, de crescer incluindo e protegendo. Este é o único caminho raro que vale a pena seguir.

 
Fonte: O Cafezinho
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/12/2025

 

Tarifas pesam e indústria do Brasil tem 7º mês seguido de contração em novembro, mostra PMI

As tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros continuaram pesando sobre a indústria nacional em novembro e afetaram o ritmo de vendas, o que contribuiu para que o setor registrasse contração pelo sétimo mês seguido, ainda que em ritmo mais fraco, mostrou a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI) nesta segunda-feira.

O PMI, compilado pela S&P Global, avançou a 48,8 em novembro, de 48,2 em outubro, chegando ao nível mais alto desde maio mas ainda abaixo da marca de 50 que separa contração de crescimento.

Em meio a condições difíceis de demanda, a taxa geral de redução das novas encomendas em novembro foi mais forte do que em outubro, com as vendas internacionais diminuindo no ritmo mais forte desde junho. Os participantes da pesquisa citaram as tarifas como fator, especificamente suspensões de pedidos provenientes dos EUA.

A diretora associada de economia da S&P Global Market Intelligence, Pollyanna De Lima, destacou em nota que a maior parte dos dados foi coletada antes do anúncio pelos EUA em 20 de novembro de remoção da tarifa de 40% sobre produtos alimentícios como carne bovina, café, cacau e frutas.

As quedas contínuas dos novos negócios continuaram a afetar os volumes de produção em novembro, que diminuíram pelo sétimo mês consecutivo.

Esse cenário, associado a condições competitivas e queda nos custos de insumos, levou a nova redução nos preços cobrados por bens, a mais forte desde agosto de 2023.

As empresas indicaram a segunda queda nos preços dos insumos em mais de dois anos, citando movimentos cambiais mais favoráveis e demanda global contida.

Houve apenas sinais tímidos de melhora no emprego na indústria brasileira, após queda em outubro, com 7% das empresas contratando pessoal extra, enquanto 86% mantiveram o número de funcionários.

O otimismo das empresas, por sua vez, fortaleceu-se em relação a outubro, com expectativas crescentes de resolução para as tarifas impostas pelos EUA e cortes na taxa de juros --a taxa básica Selic está atualmente em 15% e a perspectiva é de que seja mantida nesse nível em dezembro. As empresas também esperam que o investimento em lançamentos de novos produtos apoie o crescimento da produção no próximo ano.

 
Fonte: Reuters
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 02/12/2025

 

Adoção de práticas ESG pode somar R$ 400 bilhões à economia

Segundo estudo Impact Edge, da EY-Parthenon, lançado durante a COP30, em Belém, a incorporação estratégica de práticas ESG na mineração pode aumentar 20,81% na atividade econômica, valor equivalente ao crescimento acumulado da mineração nos últimos cinco anos, segundo dados da PIA/IBGE. O levantamento destaca ainda que os benefícios ultrapassam as fronteiras das empresas que adotam essas práticas e se expandem a toda a economia brasileira. Estima-se que os ganhos totais possam alcançar R$ 399 bilhões adicionais por ano, montante comparável ao PIB do estado da Bahia em 2022.

O estudo revela ainda a geração de mais de três milhões de novos empregos, número equivalente à população do estado de Alagoas, o que reforça o impacto transformador das iniciativas para o mercado de trabalho. O setor de mineração mantém papel central na economia brasileira e alcançou, em 2024, um PIB de R$ 290,6 bilhões, o que representa 2,67% de tudo o que o país produz.

A adoção efetiva das iniciativas divulgadas pelas empresas mapeadas no estudo pode evitar a emissão de 19,52 milhões de toneladas de CO? e preservar cerca de 4,8 trilhões de litros de água, além de impedir a geração de 400 milhões de toneladas de resíduos. Na área social, o destaque fica para a criação de 7.152 vagas afirmativas em posições de liderança, demonstrando a disposição do setor em seguir impulsionando a diversidade, inclusão e equidade. Na esfera da saúde, estima-se que 93.056 internações seriam evitadas anualmente, uma economia de R$ 47,77 milhões ao Sistema Único de Saúde, valor que pode ser realocado para áreas prioritárias como educação, segurança e infraestrutura. “A mineração brasileira vive um momento decisivo. Temos a oportunidade de deixar para trás uma visão arcaica de que o setor de mineração estava fundamentalmente vinculado a riscos ambientais e sociais. As empresas vêm investindo significativamente em práticas robustas de gestão de riscos com o objetivo de aumentar a resiliência de sua infraestrutura aos efeitos das mudanças climáticas e mitigar seu impacto nos biomas onde opera. A transição já começou — e os resultados mostram que é plenamente possível conciliar competitividade econômica com responsabilidade ambiental e inclusão social. Quem conseguir alinhar estratégia, dados e execução estará preparado para transformar a transição climática em uma vantagem competitiva de longo prazo”, diz Elanne Almeida, Líder Global de Sustentabilidade para Mineração e Metais da EY.

A mineração tem posição estratégica na economia brasileira e fornece matérias-primas essenciais para setores como indústria de base, construção civil, energia e tecnologias emergentes. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro e o quinto maior produtor de minerais em geral, o que o coloca em destaque no cenário global. Com o avanço acelerado da indústria tecnológica, cresce também a demanda por minerais críticos e terras raras, recursos fundamentais para a transição energética e digital. “O setor atravessa um momento de profundas transformações. O compromisso com práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) deixou de ser apenas uma exigência regulatória e passou a representar uma nova forma de operar. A implementação de medidas de redução de emissões, eficiência energética, melhor gestão hídrica e de resíduos têm mostrado que investir em sustentabilidade é uma decisão estratégica cujo valor extrapola os típicos indicadores ESG, gerando um impacto real na economia do território”, comenta Almeida.

O levantamento aponta que entre os principais desafios do setor estão a gestão dos recursos hídricos, descarbonização de processos intensivos em energia e segurança de barragens e rejeitos que continuam sob forte escrutínio público e regulatório, e competem por capital em um contexto de instabilidade política internacional que reduz o apetite ao risco e cria um mindset de cautela, redução de custos e a preservação do capital – pelo menos no curto prazo. É necessário fortalecer a governança socioambiental, ampliar o diálogo com as comunidades e garantir maior transparência e rastreabilidade nas cadeias de suprimentos minerais. “Essas dinâmicas vêm redefinindo as prioridades de investimento no setor. Modelos antes focados em conformidade deram lugar a estratégias estruturadas de criação de valor compartilhado, que unem eficiência operacional e impacto socioambiental positivo. O Impact Edge demonstrou que esse impacto é muito maior do que se conhecia”, finaliza a líder.

 
Fonte: Brasil Mineral
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 01/12/2025