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Minas Gerais atraiu 29% dos projetos da China no Brasil em 2023

Em 2023, as empresas chinesas investiram US$ 1,73 bilhão no Brasil, em 29 projetos diferentes, conforme relatório anual do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Minas Gerais absorveu 29% deles, o segundo maior percentual entre as unidades federativas, atrás somente de São Paulo, com 39%. No total, foram nove empreendimentos atraídos pelo Estado nos setores de eletricidade, fabricação de aparelhos elétricos e fabricação de máquinas e equipamentos. 

Em relação a 2022, a participação mineira entre os projetos confirmados no País cresceu oito pontos percentuais (p.p.). Conforme o diretor de Conteúdo da instituição bilateral e autor do estudo, Tulio Cariello, no estoque de investimentos, relativo ao período de 2007 até o ano passado, Minas também se destacou, ficando na segunda posição, atrás dos paulistas. 

“É um Estado que tem atraído muitos investimentos principalmente na área de energia elétrica, que tem sido o setor-chave”, enfatiza “Mas temos também bastantes investimentos na indústria manufatureira, em fábricas de produtos eletroeletrônicos, de máquinas e equipamentos, áreas que foram bem atrativas nos últimos anos”, pondera, citando ainda a mineração e o agronegócio.

Segundo Cariello, os aportes dos chineses em Minas Gerais no ano passado contemplaram tanto novos empreendimentos quanto melhorias operacionais. Ele menciona projetos de três companhias como emblemáticos: da XCMG, fabricante de maquinário pesado, da China Three Gorges (CTG), geradora e comercializadora de energia, e da State Grid, também do ramo elétrico.

Estado tem oportunidades à vista 

O estudo da CEBC aponta que a intensificação dos investimentos da China em “novas infraestruturas” no exterior abre uma janela de oportunidade para o País, especialmente em áreas ligadas a projetos de transição energética. “Desde 2010, o Brasil tem sido destino de projetos chineses ligados à sustentabilidade, incluindo iniciativas em hidrelétricas, energias solar e eólica, baterias elétricas, painéis fotovoltaicos e carros eletrificados”, sublinha o documento.

Para o diretor do conselho, Minas Gerais é forte neste setor e terá oportunidades no futuro. Ele ressalta que os dados mostram esse potencial ao indicar que o Estado já atraiu diversos aportes em áreas consideradas prioritárias pelos chineses, por exemplo, em energia limpa, na qual ocupa lugar de destaque. Cabe reiterar, neste caso, que a China é a maior investidora em energias renováveis em escala global, o que abre espaço para novas possibilidades de investimentos.

De acordo com Cariello, o Estado também tem vários aportes consolidados no segmento de manufatura de alto padrão, que demanda um nível elevado de tecnologia, outra área que os chineses estão focados. Ele diz que, se considerarmos que a política doméstica reflete na política externa, e que a China, em 2023, foi o terceiro país que mais investiu no mundo, Minas Gerais está em um círculo virtuoso de atração de investimentos, assim como outras unidades federativas.

“São iniciativas que, muitas vezes, são do próprio Estado e de municípios que têm tentado atrair investimentos. A Bahia é um exemplo. Não é à toa que a BYD, sem dúvida o grande destaque dessa última pesquisa, foi fazer um investimento em Camaçari, que é uma cidade como Pouso Alegre, que também tem investimentos interessantes sendo realizados”, pontua.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 05/09/2024

 

Brasil pode liderar mercado de aço verde, aponta estudo

Com o cenário econômico brasileiro apresentando sinais de aquecimento, como crescimento salarial e baixa taxa de desemprego, setores específicos têm se destacado positivamente no mercado.

Na participação do BM&C News, a economista Ariane Benedito destacou que setores como varejo, educação e construção civil estão entre os mais beneficiados, apesar das adversidades econômicas.

De acordo com Ariane, a última leitura dos balanços das empresas já refletiu esse impacto positivo, especialmente no consumo essencial e no varejo. “O resultado das empresas nada mais é do que o efeito do PIB, que vem para consolidar todos os dados de atividade econômica”, afirmou. No entanto, ela alerta que o cenário de juros elevados e inflação ainda gera certa cautela entre os investidores, o que freia o otimismo de forma geral.

Mesmo assim, o setor de varejo, por exemplo, tem visto um movimento positivo. “Estamos observando um otimismo no mercado em relação ao varejo, o que indica uma mudança na estratégia das empresas para se adequar ao cenário de preços elevados”, explicou Benedito. O setor de educação também mostrou resiliência, mesmo com o impacto dos aumentos de preços, e a construção civil, por sua vez, experimenta uma valorização devido às expectativas de resultados favoráveis.

Os bancos também têm se beneficiado deste ambiente, principalmente pela melhora no crédito e na inadimplência, fatores que têm sido essenciais para equilibrar os impactos negativos sentidos por setores como o de commodities.

No entanto, a economista finaliza com uma ressalva: “Embora haja setores favorecidos, ainda existe uma preocupação com a continuidade da inflação e dos juros elevados, o que pode limitar o crescimento esperado.” A perspectiva é de que, enquanto a economia brasileira continuar aquecida, esses setores seguirão em destaque, mesmo com o “freio” das expectativas econômicas. 

Fonte: BM&C News
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 04/09/2024

Siderurgia acompanha ‘com lupa’ importações e não descarta pleitos para cotas adicionais

O setor de siderurgia acompanha “com lupa” o andamento das importações de aço no Brasil. Neste sentido, o Instituto Aço Brasil (IABr) estima que as medidas implementadas a partir de 1º de junho pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) — aumentando a tarifa externa de 11 produtos — podem levar a uma redução de até 27% nas compras dos insumos siderúrgicos em que foi instituída a cota de volume de importação anual.

O MDIC adotou cotas de importação em 11 Nomenclaturas Comuns do Mercosul (NCMs), sendo nove delas pleiteadas pelo IABr. Entre esses produtos, estão oito tipos de laminados planos, dois tipos de tubos utilizados em oleodutos e gasodutos e um tipo de fio-máquina.

Para o IABr, olhando apenas as nove NCMs cuja adoção da cota foi defendida pela instituição, a redução anual de importação pode chegar a 27% do volume. A cota estipulada pelo Ministério estabelece um teto de 1,6 milhão de toneladas nesses produtos, que pagariam a tarifa média de 10,8% para entrar no Brasil. Acima desse volume, a tarifa sobe para 25%.

“As nove NCMs que estamos tratando aqui foram responsáveis pela importação de 2,4 milhões de toneladas [em 2023]”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente do IABr, lembrando que o pleito do instituto era para o estabelecimento de cotas para 28 NCMs. Ele afirma que o instituto montou uma “sala de guerra” para acompanhar o comportamento das importações, que, no ano passado, chegaram a cinco milhões de toneladas.

Para ele, a cota foi implementada em um “nível generoso”, uma vez que o cálculo teve como base a média das importações de 2020, 2021 e 2022 — o que o IABr considerava “razoável” —, mas houve o acréscimo de 30% em cima dessa média. “Achamos que ficou muito acima do que era esperado”.

Pleito antigo do setor siderúrgico

A adoção das cotas atendeu a um pleito antigo do setor siderúrgico, que viu o mercado brasileiro ser inundado por aço importado. Nas contas do IABr, as cinco milhões de toneladas importadas em 2023 corresponderam a 16% da produção do país e a 26% das vendas.

Entre 2022 e 2023, a produção de aço bruto nacional caiu de 34 milhões de toneladas para pouco menos de 32 milhões de toneladas, enquanto o faturamento recuou, segundo Lopes, de R$ 209 bilhões para R$ 173 bilhões. Ele lembra, ainda, que o montante pago em impostos pelo setor passou de R$ 35 bilhões para R$ 28 bilhões no período.

Exemplos de EUA, Reino Unido, México e UE

Lopes ressalta que a medida tomada pelo MDIC seguiu o exemplo do que outros países fizeram nos últimos anos, como Estados Unidos, Reino Unido, México e União Europeia, que também impuseram cotas com relação ao aço importado.

Mas o executivo, que também é coordenador da Coalizão Indústria, que reúne 14 entidades de classe de nível nacional, ressalta que não estão descartados pleitos adicionais, caso as cotas estabelecidas pelo ministério não limitem o crescimento das importações.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/09/2024

Construção deve receber investimentos de R$ 696 bilhões até 2026

O setor da construção segue em plena recuperação, registra crescimento contínuo e deve receber investimentos de R$ 696 bilhões até 2026. A avaliação é da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que apresentou estudo sobre o setor nesta terça-feira (3/9) durante o lançamento do Rio Construção Summit 2025, na Casa Firjan, no Rio de Janeiro. Segundo os dados, o setor alcançou no último ano um PIB de R$ 342,4 bilhões e já representa 3% do produto interno bruto nacional e 13,5% do PIB industrial.

O crescimento do setor gerou 3,42 milhões de postos de trabalho, sendo a construção civil seu principal segmento, empregando um número de trabalhadores cerca de seis vezes maior que o da construção pesada: 2,92 milhões contra 492 mil.

O aumento no número de empresas ativas no Brasil é outro indicador de crescimento. São quase 65 mil, com destaque para as micro e pequenas. Entre 2017 e 2022, a criação de 9.948 novas micro e pequenas empresas foi um fator crucial para esse impulsionamento.

Dos R$ 696,3 bilhões de investimentos previstos, R$ 345,4 bilhões serão disponibilizados para novas moradias do Minha Casa, Minha Vida. A Firjan entende que há um grande potencial para que o setor impulsione ainda mais a geração de emprego e dinamize outras áreas, promovendo o desenvolvimento econômico do país.

“Nosso setor é alavancador de emprego e renda. Um dado importante é que movimentamos quase 70 setores da economia. Investir em infra, é gerar emprego na veia. O Rio Construção Summit será a oportunidade de discutir a agenda de modernização da infraestrutura, que se apoia em maior segurança jurídica, previsibilidade regulatória, projetos bem-feitos e financiamento”, afirmou Cláudio Medeiros, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura.

Luiz Césio Caetano, presidente eleito da Firjan, lembrou que o Summit surgiu a partir do projeto Rio Construção, iniciativa da instituição lançada em 2022. O lançamento do evento reuniu executivos de grandes empresas, empresários do setor e autoridades.

“Estamos falando do maior evento de Construção do país. Totalmente imersivo, focado em promover trocas, rodadas de negócios e networking. E que coloca o Rio de Janeiro no protagonismo das discussões em torno da inovação na indústria da construção e no mercado imobiliário. A expectativa é alta”, afirma Cláudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio.

O Rio Construção Summit será realizado de 24 a 26 de setembro de 2025 e vai promover debates sobre tendências, produtividade, déficit habitacional e infraestrutura.

Fonte: Metrópoles
Seção: Construção, Obras & Infraestrutura
Publicação: 04/09/2024

 

Brasil pode liderar mercado de aço verde, aponta estudo

A oferta de eletricidade renovável e reservas de minério de ferro de alta qualidade posicionam o Brasil como um possível líder global no mercado de ferro e aço verde. Essa análise consta de novo relatório do Global Energy Monitor (GEM), que está disponível para download. Para chegar a esse ponto o Brasil precisa deixar pra trás diversos obstáculos, pois atualmente três quartos da siderurgia do país depende atualmente da capacidade baseada em carvão.

O Fórum Econômico Mundial estima que as emissões da indústria siderúrgica brasileira poderiam aumentar quase um terço até 2050 sem movimentos proativos para impulsionar a demanda e a oferta de ferro e aço verdes. Segundo o relatório da GEM, o país poderia aproveitar seus pontos fortes para embarcar em uma reforma de baixas emissões.

Apesar desse cenário, os recursos de minério de ferro e eletricidade renovável do país oferecem o modelo para descarbonizar a indústria siderúrgica, isso por meio do hidrogênio verde. Contudo, o relatório aponta que o governo deve promulgar políticas ousadas e envolver a cooperação internacional para atingir essa liderança.

O relatório destaca que a produção de H2 Verde demanda grandes quantidades de energia renovável, um setor onde o Brasil já estabeleceu liderança global. De acordo com dados do Global Integrated Power Tracker da GEM, o país ocupa o segundo lugar em operação de energia hidrelétrica e capacidade de bioenergia, sétimo lugar mundial em operação de capacidade eólica em grande escala e nono em operação de capacidade solar em grande escala.

O cenário com essa disponibilidade de recursos favorece, segundo o estudo, que o país desenvolva uma indústria de exportação de ferro verde de valor agregado ao reduzir as emissões de seu setor siderúrgico, apesar da dependência de carvão e gás no setor industrial, juntamente com a influência de lobistas de combustíveis fósseis. Muitos dos métodos tradicionais de descarbonização do setor enfrentem restrições.

As perspectivas para a energia eólica e solar são classificadas como impressionantes. Os dados da GEM mostram que o Brasil tem 180 GW de parques eólicos em grande escala em status anunciado, pré-construção ou construção, colocando o país no terceiro lugar global atrás da China e da Austrália. Os 139 GW de potenciais parques solares em grande escala no Brasil ocupam o segundo lugar em nível mundial, atrás apenas da China.

Na análise da GEM, o Brasil iniciou uma série de ações para expandir a capacidade de hidrogênio verde que poderia impulsionar a produção de ferro reduzido direto (DRI) com menores emissões. O país lançou um programa nacional de hidrogênio em 2021 e, em agosto de 2024, foi a vez da sanção da lei que estabeleceu o marco do H2 verde.

Nesse sentido, diz, o MME estima que o Brasil pode produzir 1,8 gigatoneladas de hidrogênio de baixo carbono anualmente a um custo menor do que qualquer outra nação. O Nordeste é uma região especialmente fértil para o insumo, dado o excepcional potencial eólico e solar.

Além disso, ressalta que o país possui alguns dos minérios de ferro de mais alta qualidade no mundo, com teores variando de 60% a 67%. Segundo o estudo, o minério de alta qualidade é importante para o método de produção de DRI baseado em hidrogênio verde de baixas emissões.

Mas, segundo os cientistas, aproveitar esse vasto potencial pode apresentar o caminho mais promissor do Brasil para a descarbonização do aço, à medida que abordagens mais tradicionais enfrentam limitações. Investimentos recentes nos maiores e mais intensivos fornos a carvão do Brasil provavelmente atrasarão sua desativação, segundo a análise, enquanto o fornecimento limitado e volátil de sucata apresenta um impedimento para o desenvolvimento de fornos a arco elétrico (EAF) de baixas emissões.

Embora várias usinas siderúrgicas brasileiras menores tenham adotado o biocarvão como substituto do carvão em altos-fornos, resultando potencialmente em redução das emissões de gases de efeito estufa, a quantidade de carvão que pode ser substituída é limitada e a substituição parcial do carvão ainda é, em última análise, igual à dependência por esse combustível.

Fonte: Canal Energia
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 03/09/2024

Fabricantes equilibram leis e demandas do mercado na produção de motores

Os custos, a produtividade e a economia de combustível são as principais preocupações dos produtores na hora de escolher uma máquina agrícola. Essa percepção é compartilhada pelas fabricantes dos motores empregados nesses equipamentos. Mas as legislações ambientais adicionam um componente à tomada de decisão: a redução nas emissões de poluentes.

A legislação MAR-1, em vigor desde 2017 para todos os motores com potência igual ou superior a 101 cv, e desde 2019 para os modelos com potência igual ou superior 25 cv, trouxe modificações nos motores, além da exigência de utilização de diesel com teor de enxofre reduzido. Foram definidos limites para emissões de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (MP). Para atender às especificações, a indústria precisou investir em tecnologias como o controle eletrônico de injeção, a recirculação de gás de escapamento (EGR) e a redução catalítica seletiva.

Essas tecnologias ajudam a controlar e reduzir a quantidade de poluentes liberados pelos motores, garantindo que eles atendam aos padrões ambientais estabelecidos pela MAR-1.

Enquanto isso, as empresas se equilibram entre o cumprimento das legislações e a entrega de performance ao produtor rural. O portal Máquinas e Inovações Agrícolas conversou com representantes de fabricantes de motores que explicaram a importância do produto no rendimento das operações, e as medidas a serem adotadas para que a maior eficiência possível seja atingida no campo.

Além de acarretar um aumento do preço dos motores, as adequações, em alguns casos, podem representar uma redução da performance dos motores, na comparação com aqueles sem os controles de emissões. Segundo o CEO da Mahindra Brasil, Jak Torretta, “por incrível que pareça” para se reduzir as emissões de poluentes, o motor fica menos eficiente. “O motor acaba consumindo mais combustível. É bem difícil de entender, mas essa é a realidade: um motor MAR-1 consome mais do que um sem o controle de emissões”, ele ressalta, porém, que no Tier 4 – legislação dos Estados Unidos, com limites ainda menores –, em função de haver pós-tratamento de gases, a eficiência é melhorada.

As fabricantes trabalham para compensar esse ajuste sem prejuízo ao agricultor. Isso significa um incremento tecnológico e, portanto, financeiro. O tema da sustentabilidade é inevitável, mas o encarecimento das máquinas ainda encontra resistência do produtor.

“Pergunte ao agricultor se ele quer pagar mais. Ele quer um motor simples, ele não quer ter dor de cabeça, ele quer que seja o mais barato possível. E os controles de emissões vão justamente no oposto do que ele quer, mas é uma necessidade. Precisamos trabalhar esse ponto: vamos reduzir emissões, mas um custo será agregado a todas as máquinas”, pontuou Torretta.

Mesmo que parte da elevação seja repassada ao consumidor final, os custos de produção costumam frear os investimentos por parte do agricultor. E o setor de máquinas é um dos que mais sente essa resistência. A frota brasileira ainda é considerada bastante defasada, apesar das inovações apresentadas pelas montadoras.

Ainda assim, Torreta vê uma demanda por essas novidades. O gerente de pós-tratamento e certificação técnica da FPT América Latina, Gustavo Teixeira, concorda e observa que os clientes – especialmente de máquinas maiores, nas quais as novas tecnologias de controle de emissões são inevitáveis – experimentam os equipamentos e “tornam-se defensores das inovações” devido aos ganhos em produtividade.

“Existe um paradigma por parte do usuário, principalmente de tratores e máquinas menores, que busca soluções mais práticas, de reparação mais fácil, de manutenção mais fácil para o dia a dia. Mas aqueles que têm a possibilidade de testar um trator mais recente, um trator nosso, por exemplo, que traz um certo conteúdo de inovação, ficam muito surpresos, porque veem produtividade, o consumo de combustível, a facilidade de operação. Aqueles que têm oportunidade, eles viram os grandes defensores e passam até a influenciar outros colegas nas associações, nas cooperativas”, ponderou.

Para o gerente de engenharia de produto da MWM, Jorge de Araújo, esse diálogo com o cliente é importante para que ele compreenda a importância do equilíbrio entre custo, sustentabilidade e desempenho ao longo do ciclo de vida do motor. “Estamos muito próximos do produtor, entendendo suas necessidades na hora de desenvolver novos produtos. Lógico que o custo de aquisição é muito importante, mas o mais importante é quanto o motor vai custar no ciclo de vida da operação. Mesmo com custo maior, você consegue provar ao produtor que o consumo de combustível é menor, que a disponibilidade da máquina será maior, que o custo de manutenção será menor, que o produtor terá uma série de informações. O valor se paga durante o ciclo de vida”, defendeu.

A durabilidade pode variar conforme a aplicação de cada máquina em operações específicas, mas ele comemora que há motores da empresa fabricados na década de 1970 ainda em funcionamento no campo. “Já produzimos mais de 4,5 milhões de motores que foram a campo. Hoje, 2,5 milhões ainda estão rodando. É possível estender a vida do motor trocando poucas peças”, além disso, os demais componentes da máquina além do motor também influenciam na durabilidade. Tornando difícil um cálculo preciso.

Além da longevidade dos motores, uma preocupação é o tempo ocioso da máquina. Especialmente para as máquinas sazonais, como as colhedoras, mas não se limitando a elas, os produtores buscam equipamentos que exijam a menor frequência possível de manutenções e intervenções. Por isso, além de componentes mais duráveis nos motores, a tecnologia empregada na otimização da máquina como um todo é fundamental.

Para Teixeira, da FPT, o plano de manutenção do motor deve beneficiar a produtividade. Por isso, ele concorda que o investimento em tecnologia resulta em um melhor monitoramento da performance do equipamento, tanto em consumo de combustível, como no desgaste de peças “também são benefícios atrelados à redução de emissões”. Ele salienta que os clientes mais capitalizados têm a vantagem de, pagando “um pouco mais”, terem intervalos de troca de óleo e de revisões mais espaçados, “para que possam parar menos durante aqueles dias críticos”.

Araújo, da MWM, ilustrou: “quando entrei na empresa, vendíamos motores cuja troca de óleo era a cada 100 horas. Isso avançou para 250 horas. Hoje já estamos em 500 horas. Temos equipamentos que recebem manutenção a cada mil horas. Quanto mais isso aumenta, menor é o nível de emissões. Assim como o motor consome combustível, ele consome menos óleo, através de um filtro mais eficiente. Há uma série de parâmetros a serem analisados”, disse.

O emprego apropriado de cada máquina também gera economia. Torretta, da Mahindra, observa que pequenos produtores tendem a usar tratores para diversas tarefas na operação, enquanto médios e grandes produtores têm equipamentos específicos para cada uma delas, o que resulta em menor desgaste.

Performance

O gerente da FPT defende que a evolução no controle de emissões, com sensores, turbocompressores e sistemas de injeção acarreta ganhos de produtividade. “A questão do atingimento das emissões é um desafio para os fabricantes. Especialmente naqueles casos em que há uso de EGR interno, por exemplo, ou seja, algo já no próprio motor, na regulagem do motor, acabamos abrindo mão, sim, de um percentual da performance para que se consiga tratar as emissões. O que acontece é que fazemos de maneira controlada, para que o cliente receba já no lançamento do motor uma entrega um pouco maior exatamente para compensar aquela diferença que ele vai ter devido ao controle de emissões. Isso para que se consiga atender emissões sem ter na mão ou no pé do operador aquela sensação de que a máquina não está entregando a mesma coisa que a anterior”, garantiu.

Araújo, da MWM, vai na mesma linha. Segundo ele, a legislação de emissões só traz benefícios. “Ela faz o engenheiro pensar em qual é a melhor solução a ser aplicada, cria a necessidade de se buscar novas tecnologias, que farão com que o motor tenha um melhor nível de emissões e um menor consumo de combustível. Hoje os motores consomem muito menos combustível do que 20 anos atrás”, celebrou, ressaltando que isso é resultado de pesquisa e desenvolvimento, adequando cada tipo de motor a cada tipo de máquina e operação.

Conforme o engenheiro-chefe de produtos da Cummins, Cristiano Zia, quanto menor o nível de emissões permitido na norma, mais tecnologia precisa ser investida, independente do combustível utilizado.

“Dependendo do nível de emissões é preciso fazer melhorias, às vezes, de eletrônica no motor, ou de software, de gerenciamento de injeção, coisas do tipo. A fabricante agrega componentes dentro desse sistema da máquina para atender à legislação. O produtor agrícola vai ter um custo maior de manutenção, por exemplo. Isso é inevitável, porque tem mais itens necessários ali”, ele garante que não há prejuízo em termos de potência.

“Às vezes a gente até aumenta o nível de potência e torque que esses motores podem entregar, porque eles têm esses artifícios de pós-tratamento, por exemplo. Não é só o motor que controla emissões, agora se tem um outro parceiro, vamos dizer assim, que ajuda nessa batalha. Isso resulta em diversidade de potência, abre o leque de opções, no âmbito técnico”, ilustrou.

Entregas

Teixeira, da FPT Industrial, explica que quanto mais se aumenta a entrega, seja de torque, potência ou a produtividade da máquina, maior a demanda por componentes adicionais. “O arrefecimento precisa ser melhorado, precisa ser mais eficiente, os radiadores começam a ser maiores, as bombas, maiores”, explicou.

“Muitas vezes, conforme a legislação de emissões, os motores menores se enquadram apenas com EGR interno; a recirculação dos gases do próprio motor é capaz de trazer as emissões para os limites da legislação, com sistemas mecânicos, mais baratos. Enquanto isso, quando se aumenta os motores, surge a necessidade de catalisadores mais aprimorados, com mais sensores. Há muito mais tecnologia embarcada. É inevitável que o custo da aquisição fique um pouco mais alto. Mas é muito proporcional a entrega que você vai ter. Os grandes produtores apostam nisso, investem na máquina de maior valor pois o ganho é muito grande. Ao passo que o produtor menor, obviamente, fica mais sensível, por isso as soluções são mais compatíveis com aquela necessidade dele”, completa Teixeira.

O CEO da Mahindra, Jak Torretta, vê um movimento de fabricantes que decidem por utilizar apenas motores com injeção eletrônica, antecipando as novas legislações de emissões. A Mahindra, no entanto, opta por trabalhar com motores de injeção mecânica, “que são mais baratos, mais simples, e têm manutenção mais fácil”.

Todos os tratores de 25 cv a 110 cv da marca têm motores com injeção mecânica. “Não existe a necessidade de você colocar injeção eletrônica. E a injeção eletrônica só encarece o produto para o usuário final. Além do que, são sistemas eletrônicos e a gente sabe como é: trabalhando num ambiente hostil como é o dia a dia na agricultura, com o calor, a umidade e a poeira, é complicado você trabalhar com eletrônica, porque você depende muito de sensores em meio a tudo isso”, justificou.

O usuário final demanda um equilíbrio entre alguns fatores. “No motor agrícola é muito importante o nível de torque, geralmente são motores de torque alto mesmo que não tenham uma potência tão alta. A disponibilidade de torque e a capacidade de recuperação do torque é fundamental quando, por exemplo, a máquina se depara com um solo mais compactado. O motor tende a baixar de rotação, vai ter que fazer mais força. E o motor com uma capacidade de reação melhor é importante para o agricultor”, conforme Torretta, essa alta reserva de torque é importante em função do desempenho da máquina, pois reflete na economia do combustível.

“Tem que haver um compromisso entre o nível de reserva de torque necessário para determinada máquina e o consumo que ela está exigindo”, é aí, segundo ele, que está a diferença entre cada marca, em função de tecnologia e de integração do motor com a transmissão. “Para disponibilizar os 80 cavalos de potência, quanto estou gastando de combustível?”, questionou.

Cristiano Zia, da Cummins, lembra que o motor a diesel é o que tem melhor custo-benefício, dada a tecnologia disponível atualmente. “O motor tem o papel de mover as máquinas. E os movidos a diesel tem essa vantagem: garantem maior robustez e durabilidade, fazendo com que elas estejam disponíveis para o trabalho”, considerou.

Combustíveis

Os combustíveis desempenham um papel crucial no desempenho e na sustentabilidade das máquinas agrícolas. Atualmente, o diesel continua sendo o mais utilizado, com estimativas indicando que de 80% a 90% da frota agrícola brasileira é movida por ele. No entanto, o mercado está começando a explorar alternativas, como o biometano e o etanol, embora o setor ainda enfrente desafios significativos para aumentar a disponibilidade de biocombustíveis.

O diesel é amplamente utilizado, mas apresenta desafios significativos. A qualidade do combustível e o armazenamento adequado são preocupações constantes para os fabricantes, especialmente considerando a mistura de 14% de biodiesel no diesel. O alto teor de enxofre presente no combustível, combinado com a água gerada por um processo químico no biocombustível, resulta em ácido sulfúrico, que causa corrosão nas partes do motor. O uso de materiais e práticas para minimizar esses problemas acaba aumentando os custos.

Jak Torretta, da Mahindra, lembra que, “quando a água entra no sistema de injeção, é um desastre”. A Petrobras enfrenta um desafio significativo para reduzir os níveis de enxofre e outras impurezas, o que demanda um investimento considerável. Isso é frequentemente tratado de perto pelas fabricantes dos sistemas de injeção.

A adoção de combustíveis alternativos como o biometano e o etanol ainda está em fase de desenvolvimento, e o crescimento desses biocombustíveis no setor agrícola é esperado, mas esbarra em limitações de infraestrutura e políticas públicas.

O engenheiro-chefe de produtos da Cummins, Cristiano Zia, aponta que o mercado brasileiro ainda é lento na adoção de combustíveis alternativos devido à infraestrutura limitada para motores a hidrogênio verde ou elétricos.

A implementação de motores a hidrogênio verde está em fase experimental e enfrenta desafios relacionados à produção e infraestrutura. Jak Torretta observa que não se trata de um problema comercial. “Até porque a própria produção do hidrogênio para o usuário ainda não existe. É preciso fazer ainda muito investimento em plantas para a produção do hidrogênio. Mas é uma possibilidade. Tudo indica que o Brasil vai ser um dos líderes nessa produção do hidrogênio verde.”

Fonte: Portal Máquinas Agrícolas
Seção: Agro, Máquinas & Equipamentos
Publicação: 03/09/2024