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CSN apresenta balanço em meio a cenário difícil para o aço

A Companhia Siderúrgica Nacional (BVMF:CSNA3) (CSN) divulga balanço referente ao quarto trimestre do ano passado nesta quarta-feira, 06, após o fechamento do pregão, com dados possivelmente pressionados por preços baixos e excesso de oferta no mercado, segundo analistas.

A expectativa é de um lucro por ação (LPA) de R$0,67 e uma receita de R$11,712 bilhões, de acordo com a plataforma InvestingPro. Enquanto isso, o BTG (BVMF:BPAC11) espera uma receita de R$11,635 bilhões, Ebitda de R$3,393 bilhões e um lucro de R$1,440 bilhão. Já o BofA enxerga um Ebitda de R$3,3 bilhões, impulsionado por resultados de mineração.

“O EBITDA do aço da CSN deve aumentar em torno de 55 %, para R$ 2,82 bilhões (margem de 5,3%), dados os maiores volumes e o menor custo caixa trimestralmente, mais do que compensando os preços mais baixos na base trimestral”, espera o BofA.

No terceiro trimestre do ano passado, a CSN apresentou uma receita de R$11,125 bilhões, um Ebitda de R$2,815 bilhões e um prejuízo líquido atribuído aos controladores de R$154,5 milhões, revertendo lucro de R$133,4 milhões registrados no mesmo período do ano anterior. O lucro líquido totalizou R$ 90,8 milhões no período, uma diminuição de cerca de 62% sobre o resultado obtido um ano antes.

 

Perspectivas para siderúrgicas não são favoráveis

Aço e alumínio devem ter apresentado tendências fracas no último trimestre do ano passado diante do excesso de oferta chinesa, que vem prejudicando os setores, sendo que as siderúrgicas brasileiras seguem enfrentando importações elevadas e margens pressionadas, de acordo com o BTG. A CSN deve entregar outro trimestre pressionado, embora um pouco superior, na avaliação do banco.

A expectativa do Bank of America (NYSE:BAC) (BofA) é de que as siderúrgicas da América Latina tenham passado por dificuldades no trimestre com preços mais baixos do aço e volumes sazonalmente mais fracos pressionando as margens.

Segundo o BofA, é difícil de operar nos mercados de aço, mas a CSN, além da Usiminas (BVMF:USIM5), deve se beneficiar dos preços mais fortes no minério de ferro, o que tende a compensar o fraco desempenho da divisão siderúrgica.

“Esperamos ver um conjunto geral fraco de lucros das siderúrgicas devido a uma combinação de demanda sazonalmente fraca, preços mais baixos, forte concorrência com importações e pior mix de vendas (aumento da participação nas exportações)”, conclui.

Fonte: Investing
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/03/2024

Viridis Mineração e Minerais vai investir mais de R$ 1 bilhão no Sul de Minas

A empresa australiana Viridis Mineração e Minerais vai investir R$ 1,35 bilhão em Poços de Caldas, no Sul de Minas em um projeto de terras raras que, segundo resultados iniciais, tem indicado grandes volumes de recursos e teores de elementos de terras raras (ETRs) mais elevados do mundo.

O protocolo assinado com o governo do Estado estabelece a instalação do Projeto Colossus, que pretende desenvolver a mineração de terras raras e elementos na região, essenciais para a fabricação de peças e equipamentos de alta tecnologia usados nas indústrias eletroeletrônica, aeroespacial e de geração de energia renovável.

“Isso é muito importante para que Poços de Caldas faça parte da nova matriz global de geração de energia verde”, destacou o CEO da Viridis Mineração e Minerais, Rafael Moreno.

“Nosso objetivo é garantir que a cidade de Poços de Caldas, o estado de Minas Gerais, o Brasil e a Austrália se tornem um dos pilares em evolução para o uso de energia limpa no planeta”, completou.

“Agradecemos todo o apoio oferecido pelo Governo de Minas e comunidade até então, enquanto nos empenhamos no rápido desenvolvimento de todas as fases deste projeto de impacto mundial”, concluiu Moreno.

Minérios

O investimento prevê a construção de uma planta de beneficiamento e tratamento de minérios no local e deve gerar cerca de 120 empregos permanentes, além de agregar valor ao produto e potencializar a atração de outras empresas que utilizam esses elementos como matéria-prima para produtos, o que fortalece a cadeia produtiva e gera mais empregos recursos para serem aplicados em melhorias e serviços para os mineiros.

A previsão é que a planta – com 70 licenças em uma área de 15 mil hectares – inicie a operação entre 36 e 48 meses.

Pesquisas

As pesquisas em Poços de Caldas seguem sendo realizadas, mas os primeiros resultados são bastante animadores, conforme análise de momento dos investidores.

“O investimento prevê a construção de uma planta de beneficiamento e tratamento de minérios no local, o que agrega valor ao produto e ainda potencializa a atração de outras empresas que utilizam esses elementos como matéria-prima para produtos, o que fortalece a cadeia produtiva e gera mais empregos e arrecadação”, ressaltou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio.

Terras raras

Gadolínio, Neodímio, Európio, Ítrio, Térbio, Lantânio e Disprósio. Os nomes são pouco conhecidos, mas todos eles já fazem parte da vida de boa parte da população mundial, pois estão em componentes dos nossos telefones celulares.

Eles fazem parte de um grupo de elementos chamados como “terras raras”, que possuem propriedades semelhantes entre si e ocorrem mais frequentemente em áreas próximas a vulcões extintos, como Poços de Caldas.

A dificuldade está na extração desses elementos, pois eles ocorrem misturados a vários outros minérios e a separação é feita por meio de processos complexos. Portanto, quanto maior o teor encontrado, mais viável se torna a sua extração.

Além dos celulares, esses elementos são utilizados em componentes de aviões, telas de LCD, placas solares, turbinas eólicas, dispositivos de raio-X, discos rígidos de computadores, carros elétricos, dispositivos a laser e até para separação de elementos do petróleo.

“Atualmente, não há como pensar em alta tecnologia sem terras raras. E quanto mais a tecnologia avançar, maior será a demanda mundial. Portanto, esse investimento é uma grande oportunidade para Minas Gerais se colocar como um polo mundial em mais esse setor”, afirmou diretor-presidente da Invest Minas, João Paulo Braga.

Poços de Caldas

Em agosto do ano passado, a também australiana Meteoric Resources NL anunciou investimento de R$ 1,18 bilhão em um projeto de extração de argila iônica. Foram identificados elementos do grupo das terras raras.

A empresa segue nas fases iniciais de estudos e sondagens na área e espera iniciar a operação da planta produtiva até 2026, com geração de 700 empregos na região. O empreendimento é mais um no município de Poços de Caldas.

Ainda em Poços de aldas, a nova fábrica da Lamesa Fios e Cabos Elétricos foi inaugurada com investimentos de R$ 200 milhões.

Fonte: Correio de Minas
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/03/2024

Mineração: municípios afetados recebem mais de R$ 96 milhões referentes à janeiro de 2024

Municípios afetados pela atividade de mineração receberam R$ 96,4 milhões referentes à Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) em janeiro de 2024. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pelo repasse, o montante foi distribuído entre 2.048 municípios. Com destaque para a cidade paraense de Marabá, que recebeu mais de R$ 3,3 milhões. Em seguida estão Açailândia e São Luís, no Maranhão, com R$ 3,1 milhões e R$ 2,9 milhões, respectivamente.

Os municípios afetados são aqueles que, de alguma forma, emprestam parte do seu território para viabilizar a atividade de mineração. Eles podem ser produtores ou não produtores de minérios.  O superintendente de arrecadação e fiscalização da ANM, Daniel Polack, explica como os recursos podem ser aplicados. 

“Por previsão legal, as prefeituras precisam investir 20% desses recursos em áreas ligadas ao desenvolvimento mineral sustentável, à diversificação econômica, ao desenvolvimento tecnológico e científico, justamente para diminuir a dependência que o município vai ter desses recursos, que são oriundos de uma atividade finita, já que o minério é um recurso natural escasso e que algum dia vai acabar”, afirma. 

A CFEM é uma contraprestação financeira aos municípios produtores de minérios e aos que não produzem, mas, de alguma forma, são afetados pela atividade de mineração. A compensação é cobrada das empresas exploradoras do mercado de minério e distribuída mensalmente pela ANM, entre os entes da Federação.  Assim, 60% é destinado aos municípios produtores; 15% aos estados produtores; 15% é repassado aos municípios afetados; e 10% vai para a União. Polack destaca a importância dos recursos oriundos da CFEM. 

“É justamente para que essas localidades tenham um orçamento mais robusto, que tenham um aumento de recursos disponíveis para serem investidos, ampliar a capacidade de resposta à população desses municípios que possa receber de fato serviços de mais qualidade e investimentos em áreas que possam também diversificar a atividade econômica para o futuro das próximas gerações também”, pontua o superintendente.

Impactos

O decreto 11.659/2023 estabelece a divisão do percentual ao qual os  municípios impactados têm direito: 55% é destinado a ferrovias; 35% quando a estrutura é afetada; 7% nos casos de operações portuárias; e 3% para minerodutos. O cálculo leva em consideração variantes, como por exemplo, a extensão da ferrovia — quanto maior a extensão em quilômetros, maior vai ser o percentual referente a ferrovias que o município vai receber. Além disso, também é considerado o tipo de substância transportada. 

Fonte: Brasil 61
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 06/03/2024

 

Governo investiga suspeita de dumping nas vendas de aço da China para o Brasil

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic)iniciou nesta sexta-feira, 1º, uma investigação para apurar a existência de dumping nas exportações da China para o Brasil na siderurgia.

O documento da pasta cita, especificamente, folhas metálicas de aço carbono, ligado ou não ligado, de qualquer largura com espessura inferior a 0,5 mm. O plano é averiguar também se há dano à indústria doméstica em razão da prática. O pedido de investigação foi feito pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em outubro do ano passado.

O dumping consiste na exportação para o Brasil de produtos a preços abaixo do custo de produção no país de origem para eliminar a concorrência e conquistar uma fatia maior de mercado.

Siderúrgicas como a Aperam e a Usiminas anunciaram no fim do ano passado a suspensão de atividades e investimentos devido ao excesso de aço importado da China e a queda nas vendas. O diretor-presidente da Aperam na América do Sul, Frederico Ayres Lima, chegou a prever paralisações de usinas e demissões se o governo não adotasse ações de defesa comercial.

Produtores de aço como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil, e a CSN, de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%. Eles travam uma guerra com mais de 120 mil empresas, lideradas por uma coalizão de 16 entidades, que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, e precisam do aço.

Para abrir a apuração, que pode durar até 18 meses, o ministério citou um parecer elaborado pelo Departamento de Defesa Comercial (Decom) da pasta, segundo o qual foram apresentados "elementos suficientes" que indicam a prática de dumping nas vendas chinesas para o Brasil de folhas metálicas de aço carbono, e de dano à indústria doméstica por causa desta prática.

"A conclusão alcançada se pauta, especificamente, nas sólidas evidências de que as políticas públicas e os programas e planos governamentais chineses corroboram o entendimento de que o setor siderúrgico é considerado estratégico e recebe tratamento diferenciado do governo; há intervenção governamental no setor, sob forma de subsídios financeiros e outros; há incentivos para o desenvolvimento tecnológico e há interferência estatal no suprimento de eletricidade e de insumos para a cadeia produtivo siderúrgica", diz o documento do governo.

Segundo o ministério, a análise dos elementos de prova de dumping considerou o período de julho de 2022 a junho de 2023. Já o período de análise de dano considerou o período de julho de 2018 a junho de 2023.

Indícios de dumping

Uma análise inicial do governo sobre a entrada de folhas metálicas de aço carbono no Brasil vindas da China já apontou indicativos de existência de dumping no produto. Para abrir a investigação, a área técnica da pasta identificou que a margem de dumping da China neste caso alcançou US$ 568,44 por tonelada.

"A margem de dumping apurada anteriormente, com base nas informações apresentadas pela peticionária devidamente ajustadas conforme metodologia de cálculo explicitada, demonstra a existência de indícios da prática de dumping nas exportações de folhas metálicas da China para o Brasil, realizadas no período de julho de 2022 a junho de 2023?, conclui a análise preliminar do Decom. Para encontrar a margem de dumping, a pasta determinou o valor normal (que seria o preço praticamente no mercado exportador) com base no preço de produto similar adotado na Alemanha.

Junto do documento que autoriza o início desta investigação, a área técnica do ministério traz uma longa análise prévia sobre as alegações levadas pela CSN à pasta. Entre as conclusões, o governo diz já ter identificado um aumento forte de importação brasileira das folhas metálicas provenientes da China.

"Diante desse cenário, observou-se aumento nas importações da origem investigada a preços com indícios de dumping, seja em termos absolutos, seja em relação à produção nacional ou ao mercado brasileiro/consumo nacional aparente", aponta o órgão.

A área técnica também indica já haver indícios de que a deterioração nos indicadores econômicos-financeiros da indústria doméstica está associada ao aumento "expressivo" no volume das importações das folhas metálicas de aço carbono.

Os argumentos levados pela CSN à pasta também são destacados. Por exemplo, a constatação de que a China contribuiu significativamente para o excesso de capacidade mundial do aço, que se tornou um problema particularmente grave após a crise de 2008.

"Dados recentes da OCDE, apresentados no Relatório Latest Developments in Steelmaking Capacity 2023, indicam que a expansão da capacidade produtiva mundial de aço continua a um ritmo robusto, frequentemente em busca de mercados para exportação. Apenas em 2022, a capacidade global de produção de aço aumentou em 32,1 milhões de toneladas alcançando 2.459,1 milhões de toneladas, o nível mais elevado de capacidade global na história", menciona o Decom, verificando ainda que, "de fato", todos os dados apontam para um alto nível de concessão de subsídios do setor siderúrgico chinês.

"Estudos mostraram que proporção significativa do lucro das empresas decorre de subsídios governamentais, e que as formas de concessão são as mais variadas possíveis".

Fonte: Estadão
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/03/2024

Investigação sobre dumping chinês deve ter mais capítulos

A abertura na semana passada de investigação, pelo governo federal, contra suposta realização de dumping nas exportações de aço da China pode ser apenas a primeira. Na última sexta-feira, o governo abriu investigação a pedido da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) “para averiguar a existência de dumping nas exportações da China para o Brasil de folhas metálicas de aço carbono”, segundo circular do Ministério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) publicada no “Diário Oficial da União” (“DOU”). No entanto, há neste momento em análise aproximadamente outros 60 pedidos de investigação sobre o assunto, de acordo com o Mdic.

O dumping ocorre quando uma empresa exporta o produto com preço mais baixo do que vende no mercado interno. A Organização Mundial do Comércio (OMC) autoriza, dependendo dos efeitos que a prática tem sobre a indústria do país importador, a adoção de medidas como a taxação das importações.

O tema ganhou relevância nos últimos meses do ano passado, com o aumento das importações vindas da China, e vem opondo dois setores importantes da indústria nacional.

De um lado, estão os produtores brasileiros de aço, como a CSN, que alegam estar sendo prejudicados pelas importações originárias do país asiático. Do outro lado, estão fabricantes de automóveis, máquinas e equipamentos e eletrônicos, que afirmam que um aumento do imposto de importação elevaria também o preço final dos bens produzidos por eles. Nas últimas semanas, a pressão de ambos os lados sobre o governo tem sido “muito grande”, de acordo com uma fonte ouvida pelo Valor.

A investigação aberta na sexta-feira tinha sido solicitada pela CSN ainda em outubro do ano passado. O pedido envolve folhas de aço carbono “ligado ou não ligado, de qualquer largura com espessura inferior a 0,5mm”, das quais a companhia é a única produtora no Brasil.

A empresa alega que as exportações chinesas desses bens para o país aumentaram 84,7% entre julho de 2021 e junho de 2023. Segundo publicado no “DOU” na sexta-feira, parecer do Mdic sobre o assunto apresentou “elementos suficientes que indicam a prática de dumping nas exportações da China para o Brasil do produto objeto desta circular, e de dano à indústria doméstica resultante de tal prática”. O prazo para que a investigação seja concluída é de 18 meses.

Em setembro do ano passado, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), responsável pela decisão de aumentar ou não o imposto de importação, já tinha elevado em 10% a taxa que incide sobre 12 produtos siderúrgicos vindos do exterior. O aumento foi uma reversão de corte realizado em 2022. Como justificativa, o Mdic, ao qual a Camex está ligada, afirmou que a alta foi uma “resposta às preocupações da indústria nacional de aço, dado o aumento substancial das importações a preços muitas vezes objeto de práticas desleais nos últimos anos”.

“Diversos países têm adotado políticas restritivas para barrar tais importações, o que leva na prática ao redirecionamento dessas importações para países como o Brasil”, disse na ocasião.

Procurada pela reportagem, a CSN não comentou.
Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/03/2024

Análise: A má notícia dos importados une indústrias química e do aço no Brasil

O avanço constante do produto importado no consumo aparente nacional, um alerta que vem sendo feito há alguns anos pela indústria química brasileira, passou a incomodar outros setores estratégicos mais recentemente. Assim como na química, as importações de aço alcançaram fatia recorde na demanda doméstica em 2023 e o receio é que esse movimento não pare por aí.

Em dezembro, essa participação chegou a 25%, elevando a 18,6% a taxa de penetração em 2023. As usinas temem que esse patamar se mantenha em 2024, diante da decisão deliberada do governo chinês, segundo leitura das siderúrgicas instaladas no Brasil, de seguir produzindo o insumo “a qualquer custo”.

As siderúrgicas têm sido vocais quanto ao crescimento expressivo e continuo da entrada de aço importado, sobretudo de origem chinesa, e os efeitos negativos sobre emprego, nível de investimentos e produção local. Para conter esse movimento, o setor pede ao governo a adoção de medidas emergenciais: o aumento da alíquota de importação para 25% ou a imposição de cotas.

No ano passado, segundo dados do Instituto Aço Brasil, as importações foram recorde, com 5 milhões de toneladas e crescimento de 50% ante 2022. Como resultado, a taxa de ocupação no setor recuou a 60%. Para 2024, a previsão é de alta de 20%, para cerca de 6 milhões de toneladas.

Sexta maior do mundo, a indústria química brasileira está algumas casas à frente das siderúrgicas no processo de desindustrialização. No ano passado, a participação de produtos químicos de uso industrial no consumo aparente nacional atingiu a maior fatia em três décadas, de 47%, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O nível de utilização da capacidade instalada ficou em torno de 65%.

Há uma década, pelo menos, o setor assiste ao crescimento constante da participação dos importados na demanda doméstica. Fábricas foram permanentemente fechadas, houve demissões e o nível de investimentos recuou drasticamente a partir de 2016.

Entre 2018 e 2022, conforme a Abiquim, a indústria química investiu um total US$ 3,1 bilhões, incluindo projetos que até o fim do ano passado ainda não haviam entrado em operação. Esse valor é menor do que os US$ 4,8 bilhões desembolsados somente em 2012 pelo setor. Para o período de 2023 a 2027, a previsão é que os investimentos recuem a US$ 1,4 bilhão, direcionados basicamente para manutenção operacional — houve um ou outro projetos novos, mas estes são exceção.

Como as siderúrgicas, o setor também pede ao governo a adoção de ação emergencial, como o aumento transitório da alíquota de importação para uma lista de produtos. Essa elevação de tarifa daria fôlego enquanto outras medidas estruturais, que contribuirão para elevar a competitividade da indústria brasileira de maneira geral, ainda não estiverem produzindo o efeito esperado. Como as usinas, o setor químico não teve sucesso até agora.

“Importante ressaltar que, em um ano em que a economia brasileira apresentou um crescimento de cerca de 3%, a indústria química experimentou uma contração de 10%. Isso mostra claramente um grave processo de desindustrialização da economia nacional.” ressaltou Paulo Gala, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), após a Abiquim divulgar as estatísticas fechadas de 2023.

Conforme o especialista, setores mais sofisticados, com maior conteúdo tecnológico e salários mais elevados vão perdendo espaço no Produto Interno Bruto (PIB), na contramão do crescimento impulsionado pelo setor de serviços, de menor sofisticação.

“Esse resultado é consequência da concorrência desafiadora de produtos asiáticos, com destaque para os chineses. A presença desses produtos no mercado brasileiro, muitas vezes resultante de práticas como dumping ambiental e subsídios públicos, dificulta consideravelmente a competição para a produção doméstica brasileira”, afirmou.

Diferentemente da indústria química, as siderúrgicas ainda tem planos relevantes de investimento no país, com R$ 63 bilhões estimados em quatro anos. Com o recente crescimento das importações, contudo, os primeiros sinais de alerta foram acesos, repetindo o mesmo script vivido anos atrás pelo setor químico. No fim do ano passado, a maior produtora de aço inoxidável da América Latina, a Aperam South America suspendeu novos projetos de investimento no país, que ultrapassam a casa de R$ 500 milhões.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/03/2024